2 • Sobre Tortas e Bilhetes Esquecidos

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Assim que amanheceu e eu tentava me esconder da luz cegante que invadia aquele quarto pálido e vazio, decidido de que, pela primeira vez em anos, quebraria toda a tradição de assistir o céu despertar. Pois, não queria que a lembrança da noite passada e o lugar em que estava acabasse se ligando a algo tão especial para mim.

Taehyung apareceu aos prantos dizendo com dificuldade que não importava quanto tempo o coma durasse, ele estaria ao meu lado até o último segundo.

Suas palavras eram ditas com tanta tristeza e convicção que até eu comecei a duvidar de meu próprio estado, mesmo que há algumas horas estivesse tentando me levantar para fechar as cortinas.

Quando saí de meu emaranhado de cobertas para poder encará-lo e entender o que haviam lhe contado para que chegasse a tal conclusão, Taehyung chorou mais ainda, supondo que suas palavras haviam feito milagre e me acordado de um sono tão profundo quanto a angústia em seus olhos.

Foi um grande sacrifício conseguir acalmá-lo para explicar o que havia acontecido de fato, mas ver suas lágrimas desaparecerem e darem lugar às risadas ao perceber o quão bobo era foi um alívio incomparavelmente maior.

E, junto dele, pude perceber o poder das conclusões precipitadas.

Elas fizeram com que meu melhor amigo chorasse e soluçasse como uma criança, e poderiam ter evitado tudo o que aconteceu ontem à noite.

Talvez, se tivesse dito a todos o que descobri sobre Namjoon logo cedo, eles teriam prestado mais atenção nos arredores da casa, e as rosas de minha mãe ainda estariam presas às paredes de casa, enfeitando as janelas.

— Agora a gente vai poder ir pro terraço do supermercado sem ter medo dele contar qualquer coisa — Taehyung dizia, fungando e com os olhos inchados, enquanto arrumava as rosas que me trouxe em uma garrafinha d'água laranja.

— Não quero usar isso contra ele, só quero que ele fique longe de agora em diante — declarei, inclinando a cabeça para o teto naquele travesseiro perigosamente confortável.

Eu não queria isso, mas se ligasse todos os pontos, eles sempre fariam uma seta luminosa apontando para Namjoon.

— A Melinda vai surtar — Tae supôs, rindo, até que se virou em minha direção e encontrou em evidência nos meus olhos a frase que não saia de minha cabeça:

— O namorado dela tentou me matar, Taehyung. — E, por mais que isso se repetisse em minha mente cada vez mais, eu odiava pensar em Namjoon daquela forma.

O conhecia há pouco mais de uma década e não conseguia ver motivos que o levasse a tomar uma medida tão extrema.

— Talvez, mas eles estão juntos desde sempre, pode ser que ela arrume um jeito de tirar ele dessa história — continuou, andando até os pés da maca, convencido de que aquilo, definitivamente, aconteceria.

— Se isso acontecer é porque ele é um grande manipulador ou apenas inocente... Mas Melinda não tem a mente fraca e ela me ama. Posso usar isso como argumento? — perguntei, com o cenho franzido, e o moreno balançou a cabeça positivamente.

— Pode, só não pode esquecer que, com manipulação ou não, ela ama ele também — Ele   dizia aquilo e brincava com os dedos do meu pé descoberto, em uma tentativa estranha de me fazer expressar qualquer coisa que não fossem suspeitas ou tristeza e, rendido àquele ato tão dele, eu sorria.

Enquanto em minha cabeça, lutava para que suas palavras não virassem pauta em meus pensamentos. Não queria duvidar da lealdade de minha irmã, ela faria a coisa certa. E se não fizesse, ainda teria meu pai e Aaron do meu lado, e tinha certeza de que eles, sim, fariam alguma coisa.

Amour Fermentant • jjk+pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora