Pouso cuidadosamente o meu livro sobre a cómoda e dou um laço numa fita preta que desde a morte da minha irmã me prende o cabelo.
Caminho até à janela e lá está ele, o meu príncipe, o meu tudo, Oliver Harrington empoleirado na árvore em frente à minha janela.Oliver é um rapaz de cabelos loiros, olhos verdes e um sorriso contagiante que quando revelado apresenta covinhas; Oliver vem de uma família muito pobre, como diz o meu pai: "o único futuro daquele rapaz vai ser guardar as ovelhas do pai"; ele odeia o Oliver desde a primeira vez que o viu a trazer me de volta a casa depois de um piquenique que a nossa escola havia organizado acompanhado pelas suas ovelhas e com a cara suja de poeira.
Os meus pais dizem que eu tenho de aprender a cozinhar, bordar, e a cuidar das lidas da casa se me quiser arranjar um marido com dinheiro disposto a aturar me, pelo amor de Deus, só tenho 15 anos. Além disso o meu sonho é viajar por toda a Inglaterra com o Oliver.
- Como está a minha Donzela? - Pergunta o Oliver a debruçar-se da árvore para me alcançar na janela.
- Pára com isso! Não me chames assim! - Ajudo-o a descer da árvore até ao parapeito da minha janela que fica no segundo andar da casa.- Shhhh... Fala mais baixo ou o teu pai ainda nos ouve. - Leva o dedo indicador até aos lábios e puxa-me pela cintura para um abraço.
Não me consigo conter e desmancho-me a rir na cara dele.
- O que foi tenho alguma coisa na cara? - Rio-me ainda mais e afasto-me com o chapéu dele na mão e coloco-o junto ao livro na minha cómoda.
- Sabias que é falta de educação usar chapéu dentro de casa?
- Por acaso sabia.
-Então porque não tiraste? - Pergunto enquanto caminho até à minha cama e sento-me na borda da mesma.
- Esqueci-me. - Ri-se.
Olho para cada detalhe do rosto de Oliver, este olha-me tão intensamente quanto eu e permanecemos um tempo parados a olhar um para o outro.Ele está a usar uma camisa branca com um colete beje e calças cinzentas, a roupa já está bastante gasta mas isso não lhe tira o encanto que aquelas olhos verdes transmitem.
Eu por outro lado nascida numa família preservadora e com dinheiro suficiente para nos sustentar e comprar algumas regalias visto um vestido preto com folhos e adornos brancos, o meu cabelo é castanho claro tal como o da minha irmã era. A única diferença entre nós era a cor dos olhos e a idade. Os olhos dela azuis e os meus de um tom castanho escuro, quanto à idade ela era mais velha que eu cinco anos, tinha vinte quando faleceu com uma terrível doença que tem vindo a assombrar a terra vizinha, segundo ouvi chama-se tuberculose. Enfim não sei, mas felizmente o povoado onde vivo é pequeno.
Os meus pensamentos são interrompidos pela mão do Oliver a tapar-me a boca.
- Mmmm! Mmmm!- Grito.
- Xiu! Escuta... - Sussura e solta-me lentamente.Ambos paramos a olhar para a porta do meu quarto a abrir-se lentamente.
- Filha, queres vir ver a... Amy?! - Felizmente era a minha mãe, ela odeia o Oliver tanto quanto o meu pai, mas desde morte da minha irmã ela tem alargado mais as rédeas.
- Saia daqui imediatamente e deixe a minha filha em paz! - Grita-lhe de guarda chuva na mão pronta para agredir o Oliver.Felizmente este salta do parapeito da janela para cima da árvore e desaparece por entre os galhos repletos de folhas verdes.
Olho pela janela e vejo o meu pai a chegar na carroça da família. Se o Oliver descer agora o meu pai vai vê-lo e como veio da caça e ainda tem a arma consigo o mais certo é disparar.
- Mãe! Não! Por favor! O pai acabou de chegar da caça! - Grito separando a minha mãe da janela.
Ela olho mais uma vez para a árvore sem sinal do rapaz e depois para mim, sempre com uma expressão de desdém no rosto.- Um dia quando estiveres a viver apenas à custa de três ovelhas numa cabana a cair aos bocados vais te lembrar de tudo o que eu e o teu pai te dizemos.
- Mais vale viver com pessoas que realmente me fazem feliz num casebre do que numa mansão com uma família como a nossa! - Grito-lhe.
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Amy - Romance Dramático (PT-PT)
RomanceA história de Amy Lavander Clarke passa-se nos finais do século 19 num pequeno povoado na Inglaterra. Acompanhem esta jovem numa aventura de autoconhecimento com muita emoção e surpresas reveladoras. *Escrito em Português de Portugal Não revisada*