Carinho de Raposa

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Depois da confusão na floresta do Eremita, nossa viagem surpreendentemente não teve mais imprevistos e, por isso, conseguimos nos dar ao luxo de ter um pouco de paz e tranquilidade nos nossos momentos de acampamento. Mas eu, apesar de tudo, não conseguia ficar exatamente tranquilo.

"Pip?"

Meu olhar se perdia entre as nuvens brancas daquela tarde ensolarada quando escutei o chamado baixinho de Eve rente ao meu ouvido e, só então, percebi o quanto minha testa estava franzida de preocupação - que se desmanchou totalmente, aliviando minha carranca, para não deixá-la tensa.

"O que foi?", perguntei

Ela tombou a cabeça para o lado com um olhar sorridente

"Vamos brincar um pouco?", ela abanou a cauda, "Por favor?!"

Estávamos mais próximos da Fortaleza dos Raios do que nunca e, sendo aquele nosso momento tranquilo para repousar, tudo o que eu menos queria era gastar minhas forças correndo por aí, mas não queria ser rude com ela. No entanto, eu acabei demorando em responder, por isso Eve fez beicinho:

"Por favorzinho!", regougou baixinho

"Desculpe, Eve...", deitei e baixei as orelhas, "Eu não quero..."

"Mas por que?", Eve franziu a testa, a cauda encolheu rente ao corpo e ela tocou o focinho em meu pelo, meio que querendo me fazer ficar de pé

Mas meu ânimo tinha ido embora desde a última vez que vi o Eremita, cujo aviso continuou a martelar minha mente: Cuide bem dela.

Palavras tão simples, mas que me roubaram a tranquilidade por não saber o que significam. Talvez ele tenha sugerido que Eevee vai ser importante no nosso encontro com o Zapdos e eu preciso protegê-la até lá. Talvez ela seja porque ela é indefesa e se apega a mim como uma forma de proteção. E, pra falar a verdade, eu já vi tanta coisa nesse mundo que eu não estranharia se ela fosse a chave pra eu poder voltar pra casa. Mas eu não gosto de pensar em nada disso. Não quero que ela se fira e também não quero me apegar a ela, mas eu já me importo o bastante para não querer vê-la como um mero objeto pra um fim - como fiz com os hoothoots, cujo paradeiro até agora é desconhecido para nós.

Esse é mais um daqueles momentos em que eu só quero ter alguém com quem conversar, mas caio na real e descubro que estou sozinho com minhas preocupações. Mas, mesmo que Eve fosse capaz de entender meus dilemas, eu não quero importunar alguém tão jovem e inocente.

Mas antes que eu precisasse inventar alguma desculpa esfarrapada como 'estou com dor de barriga', o convidativo cheiro do almoço nos roubou o momento. Empinamos nossas orelhas em atenção para o chamado de Pouli e em pouco tempo estávamos comendo castanhas, nozes e frutinhas preparadas no fogo, abrigados à sombra de uma árvore campestre.

Eu ainda mastigava quando escutei Scar:

"Por que essa cara comprida, Pip?", ele estranhou

"Eu?", ergui o olhar desconfiado sem afastar o rosto da comida, em seguida baixei as orelhas, "Bem...Não foi nada..."

"Alguma coisa tem de ter sido...", Bella cruzou os braços, "Você não é de ficar assim..."

"O que quer que tenha sido, sabe que pode contar conosco, Pip...", disse Tor

Eu assenti, embora tenha mantido silêncio, mas então a sombra do Capitão Pidgeotto nos cobriu por um instante em que ele desceu descrevendo círculos, para aterrissar ao nosso lado

"Toda a região parece segura, sem sinal de possíveis inimigos...", e voltou o olhar para uma castanha, que logo bicou, "Podemos ficar tranquilos por hoje."

Pokemon Isekai - Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora