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heyoon jeong, 4 anos atrás. portland, oregon.
O BORBURINHO das bailarinas podia ser ouvido do salão que eu estava, denunciando suas chegadas. Elas falavam alto mas elegantemente, como uma orquestra.
Loiras. Ruivas. Cacheadas. Magras. Eram ecléticas, mas ainda sim se pareciam como um bando de modelos, e eu obviamente eu não me encaixava. Procurava com ferocidade pelos fios claros e brilhantes da garota que eu não queria ver. Ela ainda não estava lá. Ainda.
Enquanto todas se moviam em direção a barra na frente do espelho, eu continuava paralisada em uns dos cantos da sala. O collant branco me deixava completamente desconfortável, junto com a dor do coque repuxando meu cabelo e o frio de Portland. Não importa quantas vezes eu me vestisse assim, nunca me sentiria melhor.
Sempre que eu me olhava no espelho com essas roupas, uma parte do meu amor-próprio se quebrava. Repetia a mim mesma toda a bobagem sobre corpos e aceitação, mas nada parecia verdade. Era como se eu me fantasiasse de bailaria todos os dias, mesmo odiando.
Apertei o tecido fino da saia, me preparando para ir pro meu lugar no treino. Um grupo de garotas passou por mim, batendo com toda a força que tinham no meu ombro. Quem as comandava era Sabina Hidalgo, uma das mais amadas dançarinas da Greenford. Ela era alta, magra e suas pernas eram tão longas que dariam uma de mim. Sabina e todo o resto das minhas colegas eram esguias como uma linha reta. Eu sou como um ponto, pequena e corpulenta.
Na frente do espelho, minha mãe acenava que nem a rainha. Ela se misturava no meio daquelas adolescentes como se fosse uma delas, e todas as alunas amavam mamãe por esse motivo. Não ter nascido com os passos suaves e o desejo de tingir o cabelo de Hannah era a minha sina, eu infelizmente tinha puxado meu pai.
Hyunah Jeong é a maior bailarina já vista na Ásia, porém, como todo grande artista, ela foi esquecida um dia. O que sobrou pra ela? Treinar jovens meninas pra se tornarem a próxima grande estrela do ballet. É claro que o sonho de Hannah era que eu tomasse seu posto, mas ser um desastre não estava nos planos dela.
Havia um plano B — ou quem sabe, um plano A.
Savannah Urrea é mais doce, delicada e talentosa menina que minha mãe já viu, o oposto completo de mim. Savannah é a típica garota rebelde e contra as regras que todo time precisa para ser perfeito. Ela é a peça que faz nossa companhia de dança ser a melhor de Oregon, e uma das melhores do país.
Em março, ela fez o teste para uma vaga na American Ballet Theatre, mais conhecida como a escola mais concorrida entre jovens bailarinas. Eu e ela fomos pra lá no mesmo dia, e eu fiquei atrás dela por 5 pontos. Não foi o suficiente pra me tirar da competição, mas foi pra ouvir as humilhações das garotas.
Todos da nossa companhia aplaudiram e gritaram o nome de Savannah quando voltamos de Nova York. Só a ela. Inclusive minha mãe.
— Saia desse canto, Heyoon. A aula já vai começar.
