Ouriços filosóficos

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— Não me diz que aquele é o nosso trem? — Questionei ofegante apoiando as mãos nos joelhos.

— Era. — Hoseok parou atrás da linha de sinalização.

— A gente pega o próximo.

— Hoje é feriado, a estação só funciona até as sete horas, aquele era o último.

— A gente vai ter que pegar o que vai até o terminal. — Dei a volta na plataforma, observando o trem já parado.

— E tem outra opção?

Hoseok entrou já jogando a mochila em um dos bancos do lado direito, eu sentei de frente para ele no lado oposto e logo busquei meus fones no bolso, fechando os olhos apertado tentando focar na música e ignorar a iluminação alaranjada do fim de tarde.

Logo escutei a voz do Hoseok, me forçando a pausar música.

— Que? — Indaguei tirando os fones.

— Nada. — Virou os olhos cruzando os braços.

— Hum... — Coloquei os fones novamente, porém sem iniciar a música.

— Notou que além de nós não tem ninguém no vagão?

— Realmente... — Observei olhando em volta.

— Por que você ta me evitando? — Ele questionou com o tom que eu sabia que estava sem saída, a não ser pular pela janela ou sofrer um infarto. Deixei apenas o som dos trilhos e apitos dos navios do porto ali perto dominarem o silêncio até suspirar profundamente o encarando nos olhos.

— Porque eu sinto algo por você. — Respondi calmamente.

— Sim, você é meu namorado, é o que se espera. — Disse rindo.

— Já ouviu o dilema do ouriço? — Continuei sério.

— Só se for o Sonic.

— Sério Hoseok. — Me rendi a rir baixinho. — Foi um texto escrito por Arthur Schopenhauer, nele diz que em uma noite muito fria um grupo de ouriços se amontoava para se esquentar, mas quanto mais se aproximavam, mais se espetavam e se afastavam, mas o frio retornava e eles voltavam a esse círculo. — Fiquei brincando com as minhas próprias mãos enquanto falava. — A solução seria manter uma distância recíproca capaz de faze-los se aquecer sem se machucar. Essa é a receita mágica das relações socias e como viver em sociedade: manter-se próximo o suficiente para conseguir o que quer mas não o suficiente para ferir e ser ferido.

— E o que isso tem a ver com a gente? — Ele levantou se sentando ao meu lado.

— Você me machuca. — Apoiei a cabeça no banco olhando nos seus olhos. — E eu sei que eu também te machuco.

— Idai? Eu sempre achei que amor era masoquismo mesmo. — Deu de ombros sorrindo.

— Viu? Você continua fazendo isso.

— Isso o que? — Riu confuso.

— Me machucando. — Olhei para o chão tentando acalmar meu coração. — Eu nunca deixei alguém chegar tão perto de mim, a gente simplesmente disse "foda-se" para a "distância saudável". Sabia que para o Nietzsche o amor é uma troca de favores? Segundo a ciência é uma reação química para perpetuar a espécie?

— Yoongi, cala a boca. — Ele riu colocando as mãos nas minhas bochechas e selando nossos lábios.

— Dói... — Falei ainda com os olhos fechados.

— O que?

— Meu coração.

Ele apenas sorriu sem graça dando um tapa em meu ombro.

— Hoseok, se você não notou, eu tava tentando dizer que te amo. — Senti um nó se formar na minha garganta.

— Eu notei. — Disse tranquilamente afagando meu cabelo. — Mas é muito cedo para falar esse tipo de coisa.

— Eu não digo "eu te amo" à toa.

— Nem eu, então vamos continuar assim. — Segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos.

— Senhores passageiros, o trem chegou ao seu destino, favor não esquecer seus pertences. — A voz falou no alto falante.

— Me manda mensagem quando chegar em casa. — Hoseok logo se levantou pegando a mochila e eu o segui, parando após passar da porta.

— Eu te amo. — As palavras saíram da minha boca sem qualquer permissão.

— Eu também te amo. Aliás, era isso que eu tinha falado quando você estava de fone. — Se aproximou dando um beijo na minha bochecha. — A gente se vê amanhã, docinho, eu tenho que ir.

Fiquei parado o vendo sumir enquanto descia correndo as escadas da estação e então eu notei o quanto estava fodido, mais do que apaixonado, eu amava Jung Hoseok e nada podia machucar mais que isso.

Nós não falamos eu te amo à toaOnde histórias criam vida. Descubra agora