SKYSONS-herdeiros [livro I]

o inicio

-7 anos depois-

"Corra,mais rápido criança
Fuja do bicho papão
Ele irá te matar
Comer sua carne
Posso sentir sua garra
Me deixe viver gritei
Ele me olhava
Olhar fundo
Senti meu coração parar
Respirei
Ele sorriu
Vá embora disse
Ele apenas desapareceu"

    Levantei em um pulo,sufocada em minhas próprias palavras,torturada pelo meus demônios interiores que me sufocaram entre a linha tênue de minha imaginação fértil,encarei o fogo brilhar preso sobre o lampião,rodopiava agitado,encarei o corredor vazio emitir seu eco,fechei os olhos e me revirei,nenhuma posição me agradava mais,minhas costas pareciam terem sido cortada por garras,me ajeitei sobre a camisola creme e segui para o corredor após a ida matinal ao banheiro,precisei ser forte para não rolar escada a baixo,simplesmente me arremessar e dizer que apenas foi um acidente;

- Berta pode me passar a manteiga- perguntou mamãe sorridente mexendo a massa de bolo,Berta não pensou duas vezes antes de derramar um pedaço na massa;

-obrigada querida- ela acariciou seus cabelos loiros mel enquanto eu ainda era apenas um fantasma que ninguém podia ver,caminhado no silêncio escuro do canto da sala sem ser notada,parecendo não existir;

- bom dia!!- Celeste correu para dentro deixando a porta da frente aberta como se não existe mais ninguém ao lado de fora de nossa casa- não vão acreditar no que vi hoje!

- aposto que algum pássaro diferente,como consegue passar tanto tempo só vendo...- estalou os dedos procurando pela palavra na ponta de sua lingua;

- aves,se chamam aves,e na verdade eu ia dizer que vi que estão montando os preparativos para o festival,achei que poderíamos ir esse ano,já que... ano passado as coisas não saíram como o esperado,que tal irmos juntas Selene?- ela me lançou um olhar penetrante esperando uma resposta,mas eu apenas queria continuar a andar nas sombras sem qualquer interrupção,havia vantagem em não ser vista,e eu gostava de todas elas;

- tá bom.... claro,porque não- forcei um sorriso,eu não conseguia digeri-la,Celeste e eu éramos tão diferentes,talvez menos que eu e Berta,ela com toda a certeza era a pior de todas,com todos seu sorissos idiotas e todas aquelas sardas exageradas,os cabelos loiros meio cacheados,ela era a simpatia pura e por isso eu a odiava;

- se sua irmã não falasse com você eu não teria lhe visto!- minha mãe me encarou,estava magra e pálida como a anos,insisto para que ela vá ao médico mas ela finge não me escutar- porque tem estado tão quieta,são os pesadelos denovo?

      Foi curta e direta,acenti com a cabeça,era como estar presa a um tunel que sempre te levava ao mesmo campo escuro,era sempre a mesma floresta o mesmo demônio de olhos negros,eu estava com medo dele,sabia que não era real,mas sentia que ele saltaria para a realidade se eu o permitisse fazer isso,se eu acreditasse em suas palavras sujas e jeito descontraído ele iria me devorar como uma caça,eu o temia,eu me calava para não me amaldiçoar e acabar o tornando real,como em outro pesadelo,eu já o ouvi sussurrando em meu ouvido a noite,era uma voz rouca,eu me arrepiei de imediato;

- não acha que devia procurar um dos curandeiros?,talvez eles te ajudem a acabar com isso!- mamãe queria ser simpática,eu podia ver isso em seu reflexo,ela me amava,eu sabia disso como ninguém,ela pintava meus cabelos longas horas de alguma cor menos chamativa que o branco cegante natural,eu não sabia o porque deles serem assim,mas sabia que eram como os do meu pai,o homem que eu nunca vi ou ouvi ser mencionado em alguma conversa,não há fotos dele,nem nada,já tentei achar algo sobre o tal homem de cabelo prata,mas nada,ele parece ter sumido do mapa.
     Ao contrário do pai de Berta que sempre passa para nos visitar,sempre trazendo lírios para minha mãe,ou cartões de feriado,ele parece preocupado com ambas,mas claro que existe uma preferência pela garotinha de rosto avermelhado,com as mesmas sardas idiotas que ele.
     Já Celeste nunca viu o pai também,ela não parece interessada em saber,nunca a vi falar sobre,Melinoe disse que ele era um cara do Sul,um charlatão que era bom com jogos de carta,nada de bom pelo visto,apenas mais um homem digno de pena que não tem nada a perder: