Cap 01 - Última história, último dia e alguém para atrapalhar.

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Algumas pessoas dizem que compositores são extraordinários, pensam à frente da sociedade, expressam seus sentimentos pela música — e sim eles têm toda razão.

Porém, quando se atinge o sucesso muitas coisas mudam, não tocamos mais por expressar sentimentos, tocamos para ganhar dinheiro, para ver pessoas pularem e gritarem com euforia, à qual nem mesmo sentimos mais, e foi por este motivo que "Chase" (a banda em que tocava) me tirou do grupo. Até entendo suas razões: um back vocal e uma guitarra base não faria tanta diferença quando o vocalista principal tinha as mesmas qualidades — ele era o principal e tocava por dinheiro PORRA! — isso sim é ambição.

E o que eu faria da minha vida agora? Ir para Hollywood. (Motivos? Sei la, sempre assisti aqueles filmes americanos, onde cantores se aventuravam nas estradas sem destino para ganhar fama na "fábrica dos sonhos", talvez seja por isso que insisti em parar naquele lugar, mas meu objetivo ali era mais simples do que ser um astro: meu plano era apenas cantar por 100 dias e me matar — nada demais.)

Achei que deveria me punir por não ser tão insistente em ficar na Chase — implorar talvez — mas não, aquilo não fazia parte de mim, não queria forçar algo que eles não quisessem. Então deixei que o destino me guiasse naquela cidade iluminada e ele me trouxe o acaso. No meio a tantas luzes, existia um lugar pouco iluminado, que possuía uma placa de neon pendurada às pressas com o nome de North, um bar pequeno, mas bem decorado com pôsteres e pichações — bem a minha cara, eu diria.

Ao entrar naquele lugar com a minha guitarra, observei muitos estigmas da sociedade (Pessoas estranhas, bêbadas e drogadas tem histórias a compartilhar, ainda mais naquela cidade, tinha certeza que encontraria algum ex cantor dos anos 80 e 70 e era disso que eu precisava: empatia por aquilo que ninguém quis entender, meus sentimentos.)

Simpatizei ainda mais com o local quando vi um pequeno palco empoeirado, com cortinas verdes antigas, muitos cantores de Jazz poderiam ter cantado ali, aquilo devia ter tanta história.

— Fascinado? — perguntou uma voz rouca e rústica, era Bill.

Lembro que conversamos por 10 minutos sobre minha vinda aos Estados Unidos, já que meu olho puxado e meu inglês travado deixavam nítido que eu não era Americano. Ele me perguntou se era cantor, respondi que sim e ele disse:

— Precisamos de música aqui, meu rádio pifou a semana passada e preciso calar essa gritaria. — Ele se referia a um grupo de homens velhos, que gritavam ao jogar baralho, mas o que vinha a seguir era a melhor parte. — Tenho um quarto aqui em cima e desde que não venha a me roubar, pode cantar aqui se quiser.

Olhei para as palmas de minhas mãos contando o pouco dinheiro que tinha, o qual havia sido guardado para comprar alguma winchester sem identificação, aquilo traria mais estilo para minha morte repentina, porém Bill insistiu:

— Não se preocupe com o dinheiro, fique com o quarto, eu realmente preciso que alguém cale esses homens. — E assim, viramos uma espécie de amigos que quase nunca se falavam, pela dificuldade do inglês e pela impaciência do mais velho.

Não comprei a Winchester que tanto queria, pois naquele dia minhas cordas haviam sido arrebentadas, então nada melhor que tocar naquele bar histórico, com cordas novas.

(...)

Quando toquei naquele palco pela primeira vez a sensação era estranha, para quem estava acostumado com a euforia e as luzes brilhantes que encaravam você durante toda apresentação, agora era substituída pela penumbra enigmática e o cheiro de álcool barato (lógico que aquilo irritava as narinas, mas depois você acaba se acostumando), entretanto a magia me fazia permanecer, aquilo apenas aflorava ainda mais meu êxtase no momento que eu dedilhava as cordas finas da minha guitarra. O som transbordava em minhas veias com o mesmo efeito de uma droga, tocar era meu vício, o vício mais puro que alguém poderia ter na vida, e era daquele jeito que me acostumava com a despedida forçada a Halsey (minha guitarra).

Last Moment With YouOnde histórias criam vida. Descubra agora