Conto 1 - Tanauê e a Natividade Selvagem

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- Pai! - Correu a criança em direção ao maior. - Finalmente o senhor chegou, trouxe a caça? - Antes de receber qualquer resposta, perguntou com ansiedade e curiosidade no olhar.

- Sim, Tanauê! - Respondeu o adulto, divertindo-se com a ansiedade de seu filho mais velho. Divagou rapidamente como o tempo passa depressa, seu primogênito já passa dos cinco Dias de Natividade, talvez devesse ter o levado nessa caçada, o levará na próxima vez, com certeza. - Onde está sua mãe? - disse bagunçando o alto da cabeça de seu orgulho - Já está quase na hora, a lua está cheia e já vai alto no céu. - Disse caminhando para perto da lareira enquanto tirava o gibão de peles, deixando-o de lado no cabideiro.

- Elas estão prontas, aguardando o senhor. - disse o pequeno, quase saltitando de tanta animação - Finalmente chegou a hora! Já não aguentava mais olhar aquele filhote esquisito.

- Tanauê! - ralhou o adulto - Não fale assim de sua irmã. Já lhe chamei atenção antes! - não estava de fato com raiva de seu filho, até entendia o que ele queria dizer, mas não podia aceitar tal atitude em sua casa.

- Desculpa, papai! - pediu envergonhado - Mas porque eles nascem tão estranhos? - perguntou novamente tomado de curiosidade.

- Os bebês são a imagem da nossa verdadeira natureza, Tanauê, nunca se esqueça! É assim que todos nascemos, é assim que nos lembramos de nossos antepassados, é assim que nos lembramos que devemos ser gratos pela benção da Arcana que nos dá força. - respondeu o maior em um tom quase professoral.

- Certo papai, nunca esquecerei, sou sim grato a Arcana da Força... - respondeu correndo e saltando de forma esguia e atlética sobre os móveis da sala, pousou magistralmente em frente ao pai que tirava os sapatos em frente a lareira e completou. - E qual a caça que o senhor conseguiu?

- Espere a cerimônia de batismo, Tanauê! - divertiu-se com a careta de desagrado que recebeu de seu pequeno. - O que já lhe ensinei sobre a impaciência?

- Que a impaciência desagrada a Força! - Tomando um ar célebre recitou o que vem aprendendo desde sempre com seu pai. - A Força nos ensina que a impaciência acabará com o bom momento e poderá nos trazer imenso prejuízo. - Sentiu-se orgulhoso por lembrar os ensinamentos de seu herói e satisfeito quando este o colocou em seu colo e lhe coçou atrás das orelhas felinas. - Então, vamos?

- Sim, vá e chame sua mãe que estarei esperando com tudo pronto. - disse se levantando.


Pouco tempo depois, estava Tanauê e seus pais, apresentando sua pequena irmã, que nasceu algumas luas atrás, para algumas pessoas mais próximas da comunidade. Estavam aos pés da Grande Árvore, às margens do Grande Lago, onde também foi batizado cinco Dias de Natividade atrás. Hoje é o primeiro Dia de Natividade de sua irmã. Enquanto olhava tudo ao redor, dominava a vontade de correr e pular em volta do Grande Lago ou escalar a Grande Árvore. Ouviu o Grande Xamã começar a cerimônia e ficou atento:

O Grande Xamã, era o líder espiritual e político daquela cidade; justo, sábio e muito respeitado, trouxe a paz com os povos vizinhos e trouxe à cidade: grandeza, respeito e riquezas, sem esquecer os bons costumes dos antepassados e assim garantiu as bênçãos dos Arcanos e principalmente da mãe de todos os Asenas, a Arcana criadora, A Força.

- Nós éramos um povo abandonado por nossos irmãos, vagamos por 40 dias e 40 noites, cruzamos o deserto e achamos essa savana. Em volta desse grande lago, aos pés dessa grande árvore, a Arcana nos adotou. E nos abençoou ensinando e iniciando esta tradição. - repetiu mais uma vez os ensinamentos, que antes eram passados oralmente de geração em geração, mas hoje estão em todos os livros e são ensinados em todas as escolas da Sociedade Asena. - Com o sangue deste mamífero caçado por seus ancestrais, com as folhas da grande árvore e as águas do grande lago, te batizo Analú! Anima! - gritou a última parte, enquanto realizava o ritual.


Tanauê nunca tinha visto um Dia de Natividade antes, seus pais nunca o levaram, mesmo chorando e pedindo muito, o batismo de sua irmã era o primeiro que via finalmente. Analú... o som do nome que ouviu pela primeira vez, o fez sentir a força que corria em si mesmo. De onde estava, viu um raio de luz da lua cheia, banhar sua irmã no altar, envolvendo-a e fazendo-a flutuar, nasceram-lhe presas, orelhas felinas e um rabo como o seu, só que brancos. Tanauê e seus pais sorriram satisfeitos, pois a Arcana aceitou mais uma filha, e nasceu mais uma Asena para a prosperidade da sociedade. Todos de pé aplaudiram, muitas mulheres e homens vertiam lágrimas de emoção. Ver a manifestação astral do divino era um privilégio sem igual. Mas entre todos naquele lugar sagrado, quem estava mais feliz era Tanauê, finalmente conheceu o ânima de sua irmã e aprendeu seu nome, Analú. Foi da vontade dos Arcanos que ela fosse igual a ele. Uma onça! Ele uma onça pintada e ela uma onça branca. - Que linda! - Tanauê exclamou em voz alta e também chorou emocionado. Ansiava que os Dias de Natividade fossem breves e logo tivesse uma companheira para correr, pular e brincar.

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⏰ Última atualização: Dec 12, 2020 ⏰

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