Prólogo

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Londres
Novembro de 1836

   - Qual é o seu estilo preferido, Srta. Lim? Gostaria que seu homem tivesse cabelos claros ou escuros? Altura mediana ou bem alto? Ingles ou estrangeiro?

A madame era de um profissionalismo impressionante, como se elas estivessem decidindo sobre um prato a ser servido em um jantar e não sobre um homem a ser contratado para a noite.

As perguntas fizeram Nayeon se encolher por dentro. Ela sentiu o rosto arder ate as bochechas formigarem e se perguntou se os homens se sentiam dessa forma na primeira vez em que visitavam um bordel. Por Sorte,
aquele bordel em particular era bem mais discreto e mobiliado com multo mais bom gosto do que ela tinha imaginado. Não havia quadros obscenos ou gravuras vulgares, e nenhum cliente ou prostituta à vista. O estabelecimento da Sra. Bradshaw era bem bonito, com as paredes cobertas de um
damasco verde-musgo, a sala de recepção privada cheia de confortáveis peças de mobilia em estilo Hepplewhite. Uma pequena mesa de tampo de
mármore fora elegantemente posicionada ao lado de um sofá estilo imperial com uma estampa de escamas douradas.

Gemma Bradshaw pegou um pequeno lápis dourado e um caderninho que estava na beirada da mesa e encarou Nayeon na expectativa.

   - Não tenho um estilo preterido - disse Nayeon, mortificada, mas com determinação, - Vou confiar no seu julgamento. Apenas mande alguém na noite do meu aniversário, daqui a uma semana.

Por algum motivo, a Sra. Bradshaw achou aquilo muito divertido.

   - Como um presente para si mesma? Que ideia deliciosa. - Ela encarou Nayeon com um sorriso lento, que iluminou seu rosto anguloso. A madame não era uma beldade, sequer era bonita, mas tinha a pele muito lisa, cabelos ruivos bem-cuidados e um corpo alto e voluptuoso. - Srta. Lim
posso perguntar se é virgem?

   - Por que quer saber? - devolveu Nayeon, em tom cauteloso.

A Sra. Bradshaw arqueou uma das sobrancelhas ruivas e perfeitamente delineadas em uma expressão bem-humorada.

   - Se realmente deseja confiar no meu julgamento, Srta. Lim, devo estar ciente das particularidades da sua situação. Não é comum uma mulher
como a senhorita procurar o meu cstabelecimento.

   - Pois bem. - Nayeon respirou fundo e falou rapidamente, movida por algo mais próximo do desespero do que do bom senso que sempre se orgulhara de ter. - Sou uma solteirona, Sra. Bradshaw. Daqui a uma semana
completarei 30 anos. E, sim, ainda sou v-virgem... - Ela engasgou com a palavra, mas continuou com determinação: - Mas isso não significa que
deva permanecer assim. Vim procurá-la porque é de conhecimento geral que a senhora é capaz de providenciar qualquer coisa que um cliente pedir. Sei que deve ser uma surpresa ver uma mulher como eu aqui e...

   -Minha cara- interrompeu a madame com uma risadinha discreta -, há muito tempo nada mais me surpreende, mas creio que entendi bem o seu dilema e vou, sim, lhe garantir uma solução agradável. Então me diga... alguma preferência em relação à idade ou aparência? Algo de que goste, ou
desgoste, em particular?

Preferiria um homem jovem, mas não mais jovem do que eu, E também não velho demais. Não precisa ser belo, embora eu não deseje que seia desagradável à vista. E asseado - acrescentou Nayeon quando um pensa mento lhe ocorreu. - Na verdade, insisto em limpeza.

Com o lápis, a Sra. Bradshaw anotava tudo rapidamente no caderninho.

   - Não imagino que isso venha a ser um problema - comentou, com um brilho nos belos olhos escuros, o que sugeria uma risada contida.

   - Também insisto em discrição apressou-se a dizer Nayeon. - Se alguém um dia descobrir isso...

   - Minha cara - interrompeu a Sra. Bradshaw, acomodando-se mais confortavelmente no sofá -, o que acha que teria sido do meu negócio se eu permitisse que a privacidade dos meus clientes fosse violada? Para seu
conhecimento, meus funcionários atendem a alguns dos membros mais importantes do Parlamento, para não mencionar os lordes... e damas..
mais abastados da alta sociedade. Seu segredo está a salvo, Srta. Lim

   - Obrigada - falou Nayeon.

Ela se sentia dividida entre o alivio e o terror, e tinha a terrível desconfiança de que estava cometendo o maior erro de sua vida.

DE REPENTE UMA NOITE DE PAIXÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora