Capítulo 1

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   Nayeon sabia exatamente por que o homem a sua porta era um amante profissional. Desde o momento em que ela o fizera entrar às pressas, como se estivesse abrigando um prisioneiro foragido, ele a encara em um silêncio atônito. Obviamente lhe faltava a capacidade mental necessária para almejar uma ocupação mais intelectualmente desafiadora. Mas é claro que o homem não precisava do cérebro para prestar o serviço para o qual fora contratado.

   - Rápido - sussurrou ela, ansiosa, puxando-o para dentro pelo braço musculoso. E bateu a porta assim que ele entrou. - Acha que foi visto por alguém? Não imaginei que você simplesmente apareceria na porta da minha casa. Os homens na sua profissão não são treinados para mostrar certa discrição?

   - Na minha profissão? - Repetiu ele, perplexo.

   Agora que ele estava escondido das vistas de qualquer passante, Nayeon se permitiu encara-lo com atenção. Apesar de sua aparente lentidão mental, era muito bem-apessoado. Na verdade, era lindo, se é que era possível usar essa palavra para se referir a uma criatura tão obviamente máscula. Ele era seguiu e musculoso, os ombros tão largos que pareciam encobrir toda a largura da porta da frente. Os cabelos negros e brilhantes eram cheios e bem-cortados, e o rosto branco controlava em um barbear preciso. Além disso, tinha um nariz muito fofo e uma boca voluptuosa.

   E olhos castanhos impressionantes, de um tom diferente de qualquer outro que Nayeon já vira - exceto, talvez, na loja de tintas, onde o químico. Os olhos daquele homem não tinham a qualidade angelical. Eram sagazes, experientes, como se vissem com frequência excessiva um lado da vida completamente desconhecido por Nayeon.

   Foi facil entender por que mulheres pagavam pela companhia dele. A ideia de contratar aquela criatura tão mäscula e de encher os olhos para uso particular era extraordinária. E tentadora. Nayeon sentiu-se envergonhada
pela reação secreta que teve a ele, as ondas de calor e os calafrios que der correram seu corpo, o rubor ardente que dominou seu rosto. Havia, afinal
se resignado a ser uma solteirona digna... chegara mesmo a se convencer de que ser solteira Ihe garantia uma enorme liberdade. No entanto, seu corpo enervante parecia não entender que, na idade dela, uma mulher não deveria mais ser perturbada pelo desejo Em uma época em que aos 21 anos as moças eram consideradas velhas, aos 30 elas certamente já haviam sido postas de lado. Nayeon já tinha passado do seu auge, não era mais desejável. Era
uma "moça velha", como as pessoas às vezes chamavam mulheres da sua idade. Se ao menos conseguisse se convencer a aceitar o próprio destino...

   Nayeon se forçou a encarar o homem bem no fundo de seus extraordinários olhos castanhos.

   - Pretendo ser franca, senhor... Não, não importa, não me diga seu nome, não vamos nos relacionar pelo tempo necessário para exigir apresentações. Veja bem, a questão é que tive tempo para pensar melhor sobre a decisão
que tomei um tanto precipitadamente, e o fato é que... bem, mudei de ideia.
Por favor, não veja isso como uma afronta pessoal. Não tem nada a ver com o senhor, ou com a sua aparência, e vou me certificar de deixar isso claro
para a sua patroa, a Sra. Bradshaw. O senhor é um homem muito bonito e pontual, e não tenho dúvidas de que é muito bom em.. bem, no que faz.
Mas a verdade é que cometi um erro. Todo mundo erra, certo? Eu com certeza não sou exceção. Muito de vez em quando, cometo algum errinho de julgamento...

   - Um segundo. - Ele ergueu a enorme mão em um gesto defensivo, o olhar firme fixo no rosto ruborizado de Nayeon. - Pare de falar.

   Ninguém na vida adulta dela Ihe dissera para parar de falar. Mas a surpresa fez Nayeon se calar e se esforçar para conter a enxurrada de palavras que
ameaçava escapar de seus lábios. O estranho cruzou os braços na frente do peito musculoso e apoiou as costas contra a porta para encará-la. Sob o brilho da luminária no minúsculo hall de entrada da elegante casa de Nayeon em Londres, os longos cílios dele projetavam sombras em seus malares.

DE REPENTE UMA NOITE DE PAIXÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora