34. um ano a menos, uma insegurança a mais

16.7K 2K 2.4K
                                    

Ao mesmo tempo que o som do despertador tenha se tornado uma ideia propositalmente genial, ele era o motivo para a dor de cabeça de Jungkook naquele exato momento. Poderia, sem dúvidas, ser considerada a ideia mais irritante do universo, mesmo que uma das mais inteligentes.

Seria tolo de sua parte acreditar que era o despertador. Era sábado, ele não tinha motivos plausíveis para acordar cedo e tinha consciência disso. Sua mente ainda navegava naquele sonho perdido e um tanto confuso demais para que pudesse processar ainda que adormecido, trajando de seu melhor e extravagante motivo para continuar dormindo feito boneca. Recentemente, seus descansos têm sido interrompidos, frequentemente. Seja por inatividade, seja por chamados inesperados ou, raramente, uma confusão que ocorreu segundos antes de deixar os cabelos longos e compridos no travesseiro macio. Não podia negar que era ensurdecedor a forma como seu coração batia feito maluco toda a vez que sentia que algo ruim estava propício a acontecer; ele ficava desesperado, essa sensação nunca era bem vinda e ele nunca forçava seus melhores sorrisos para recebê-la. Entretanto, balbuciando os pensamentos ultrajantes de maneira pouco vagarosa, mentalmente, ele chegava a conclusão que, no fim, era tudo de coisa de sua cabeça.

Era menos assustador pensar que estava tudo bem, porque a mentira era muito mais fácil de ser manipulada por si próprio.

De olhos abertos e, agora, cabeça explodindo de dor, ele vasculhou em volta. Quarto vazio, tal como deixara na noite anterior. O som incessantemente barulhento ainda invadia sua cabeça, acumulando todo seu ódio para simplesmente explodir sua mente em diversos pedaços pequenos, transformando num quebra-cabeça ainda mais confuso e problemático de resolver. Acordou diante de barulho, mas lembrara de dormir rodeado de silêncio na noite anterior; isso não parecia certo.

Direcionou os olhos à mesa de cabeceira, encontrando a fonte do som alto que preenchia todo o espaço de seu quarto. Uma música específica tocava, a qual ele não fez questão de identificar. Seu toque de chamada, provavelmente. Bocejou como resposta, pois não se via no intuito de se dar ao trabalho de acordar e simplesmente atender e responder. Era sábado. Quem em sã consciência teria tamanha força de vontade para levantar e viver a vida? Na percepção do dito cujo, ninguém.

Não era nenhum dia especial, não tinha motivos para ligações num sábado de manhã.

Nenhum dia especial.

Droga, era um dia especial!

Num quase pulo imperceptível, sentou na cama e agarrou o celular com uma das mãos cegas, tentando enxergar, com dificuldade, quem era o estúpido do outro lado da linha. Pressionou os lábios um no outro ao enxergar o nome, também podendo enxergar o reflexo de seu rosto.

Uma vídeo chamada.

ㅡ Merda, pai ㅡ resmungou. ㅡ Por que tão cedo?

Apitos, confetes, sorrisos largos do outro lado da chamada e, por fim:

ㅡ Feliz aniversário, Jeon! ㅡ Jin acabou comemorando sozinho.

Aniversário, sabe? Aquele dia em que comemoramos menos um ano de vida.

Otimismo era a última palavra que dominava o espírito de Jungkook somente em seu próprio aniversário. Odiava comemorá-lo. Poderia existir vezes, lógico, em que ele comparecia em festas surpresas de amigos, que saia para beber, que vivia sua vida como um jovem aniversariante que era. Mas, mesmo em momentos de farra, seu aniversário, de longe, não era um momento para sorrisos bobos e alegrias constantes.

Sempre vinha em mente o último aniversário que passou com seu avô.

Tinha brigado com seu pai naquele dia, o dia não tinha começado muito bem. Não sabia ao certo o motivo da briga, mas entendia que, para discutir com o homem que sequer parecia ter coragem para abraçar seu corpo num dia frio e pouco acolhedor, não se era preciso motivos plausíveis para que palavras sejam cuspidas contra seu rosto já derrotado.

ROOMMATES ᨞ jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora