Capítulo único

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Lembrando de como tudo aconteceu eu me pergunto o que eu vi nesse preguiçoso, respondendo a minha própria pergunta, podem ser várias coisas, pois tenho que confessar que a pose dele de parecer tão certinho e entre quatro paredes me pegar de forma bruta me faz derreter aos pés dele. Ou de como ele me olha em público com a sobrancelha arqueada como quem está prestes a fazer algo indecente me deixa queimando por dentro, as reclamações dele sobre o barulho nas festas que eu adoro me irrita e voltar para casa antes das três horas da manhã também, entretanto sei que quando chegamos em casa ele me recompensa da melhor forma possível. O que faz tudo valer a pena é de como nos damos bem apesar das diferenças e se for parar para pensar, a grande verdade é que tínhamos tudo para dar errado.

Desde que nos conhecemos até aqui, pude ver o quanto somos divergentes, mas ele nunca pediu para eu mudar e nem eu a ele. A gente funciona assim, mesmo sendo completamente opostos, nós combinamos. Afinal, não é sobre isso? Peças de quebra cabeça não se encaixam se forem iguais, porém ainda me pego olhando para ele pensando no que eu estaria fazendo agora se não tivesse esbarrado com ele naquela lanchonete.

— Bom dia, amor. — Sinto a mão dele em meu quadril e em seguida o beijo em meu pescoço.

Naquele dia eu estava voltando de uma balada e entrei na lanchonete em frente ao meu studio, quando corri os olhos pelo ambiente lá estava ele, sentado em um dos bancos estofados de couro vermelho, eu adoro o lugar, pela decoração vintage e claro, pela comida maravilhosa. Enquanto eu estava com a roupa da noite passada, maquiagem borrada e cheirando a álcool, ele mantinha sua pose de homem sério e isso já era uma grande diferença entre nós. Ele é o centrado, o responsável e eu sou a desenfreada que sai para balada todo final de semana, bebe todas e chega de manhã em casa.

— Bom dia, preguiçoso. — Selo nossos lábios e me remexo entre os lençóis brancos colocando minha perna sobre seu quadril. — Você vai buscar o café?

Quando me sentei a dois bancos de distância no balcão, consegui ver melhor o seu rosto — puta merda, ele é lindo — pensei naquele exato momento. Os olhos castanhos, baixos, evidenciando o cansaço o deixava um tanto sexy, os cabelos também castanhos presos em um coque dava um ar despojado apesar da roupa social. Vi seus olhos alcançarem os meus e em seguida me medir de cima a baixo, o que me fez esboçar um sorriso sacana, pois sei bem que sou uma tremenda de uma gostosa e a saia preta justa que eu estava usando só realçava o quanto. Poderia jurar que foi ali que nossos destinos se cruzaram, talvez se eu acreditasse em destino, pensaria assim. Pedi meu café a garçonete, em seguida o assisti pagar a conta e sair dali às pressas em sequência, me deixando um gostinho de curiosidade sobre ele.

— Hoje não é o seu dia de ir buscar o café da manhã? — Ele ri com humor. — Depois o preguiçoso sou eu. — Sinto o beijo em minha testa e ele levanta em seguida caçando suas roupas pelo chão.

Demorou mais ou menos uma semana para eu vê-lo novamente na lanchonete, dessa vez eu estava ao menos apresentável, já que estava saindo para correr. Tomei meu costumeiro café o fitando a cada gole em minha xícara e a cada mordida em meu croissant, meu pensamento ia longe e foi ainda mais quando o vi olhar para mim e esboçar um curvar de lábios antes de deixar o local. Eu tremi em expectativa, depois desse dia eu ficava à espera da próxima vez que ele apareceria por ali e — para a minha felicidade — isso começou a acontecer com frequência. Gostava de pensar que era por minha causa, afinal, eu frequento a lanchonete todos os dias pela manhã e nunca o tinha visto antes do fatídico dia da festa.

— Volte logo, quero a sobremesa antes do café — falei mais alto devido a distância e sorri safada para ele que sacode a cabeça rindo enquanto sai pela porta.

A cada dia que passava, eu ficava ainda mais ansiosa, quando ele sentaria naquele banco novamente? Qual seria o dia em que eu poderia o analisar de novo sem o mínimo de pudor? No dia que sentei na mesa de costume, para tomar café mais cedo que o normal, eu estava com os hormônios a flor da pele, olhava para a porta várias vezes em busca dele, o homem que tirou várias das minhas noites de sono e eu nem sequer sabia o seu nome. Quando o vi cruzar o arco de madeira mordi meu lábio em nervosismo, parecia uma adolescente vivenciando sua primeira paixão avassaladora, me sentia um pouco idiota até, mas não me importaria com isso. Eu prestava atenção nele, eu parecia estar hipnotizada e o que me deixou surpresa foi a roupa que estava usando.

Ele não vestia sua habitual camisa social de botões e sim uma camiseta preta do guns n' roses e uma calça jeans com alguns rasgos, um tênis branco completava seu look e com certeza não imaginei que teria tatuagens em seus braços. O engraçado é que dessa vez ele entrou sorrindo com seus dentes perfeitos e o sorriso era endereçado à mim. Não esperaria mais nenhum dia, decidi que faria algo, não poderia mais parecer uma stalker, respirei fundo e quando ia levantar o vi se movimentar antes de mim. Ele estava vindo em minha direção e eu fiquei estática, apenas aguardando seu próximo passo. Pelo que pude perceber, não tinha sido só eu que queria fazer algo a respeito dos sorrisos trocados, dos vários cafés pedidos para podermos ficar ali encarando um ao outro e principalmente dos olhares sacanas que lançávamos.

Logo eu, que sempre sou segura diante de um homem fiquei sem ação quando ele apenas sentou na cadeira a minha frente com um sorriso de canto, o que fez eu sentir meu estômago revirar e meus lábios serem molhados pela minha língua em frenesi devido a ansiedade que corria em meu corpo. Ele estendeu seu braço com um papel em mãos. No papel: seu telefone, no antebraço: uma tatuagem de uma carpa em tons de azul e vermelho e nos olhos: o desejo espelhado, pois eu carregava o mesmo olhar. O encarei por algum tempo antes de esboçar um sorriso e puxar o pequeno papel da sua mão, não precisou proferirmos nenhuma palavra, passamos semanas flertando e sabíamos exatamente o que queríamos.

Levanto da cama sorrindo com minhas memórias nostálgicas que invadiam minha mente nesta manhã. Vou até o banheiro escovar os dentes, ao chegar na sala puxo uma camiseta dele jogada em uma das poltronas, sorrio quando a visto e vejo que é a preta do gunz n' roses. Caminho até a cozinha e pego um copo de água na geladeira, me escorando na bancada da pia em seguida, sinto o líquido gelado descer pela garganta e fico analisando o meu apartamento, que já não é mais só meu a algum tempo. Quando fizemos 8 meses de namoro ele já dormia mais aqui do que em sua casa, então ele veio morar comigo.

Hoje, faz dois anos que estamos juntos e eu agradeço por ter ficado até amanhecer naquela festa e agradeço ainda mais pelo meu estômago ter roncado quando desci do táxi em frente ao meu prédio, foi o melhor encontro que poderia ter, encontrar você foi o melhor que poderia acontecer.

— Não tinha o croissant que você gosta, então não fique chateada, loira. — A voz rouca dele me tira dos devaneios. O vejo colocar o saco de papel em cima da mesa, assim como o suporte de papelão com os dois copos de café.

— Tudo bem, posso me contentar com outra coisa para o café. — Largo o copo de vidro e pulo me enlaçando em sua cintura. — Vamos voltar para a cama. — Sinto suas mãos apertarem minha cintura.

— Você é fogo, Yamanaka. — Ele beija meus lábios, sua língua se enrola na minha e tenho tudo que eu quero bem aqui, seu abraço; seu beijo; seu cheiro e seus olhos castanhos, que agora, só enxerga o azul dos meus. Os beijos descem para o meu pescoço.

— Shikamaru...

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