DOIS "ENCONTRO INESPERADO"

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Blake.

Parece que não vou conseguir. Suspirei, olhando aquele escritório. Parece que tudo está escorregando entre os meus dedos. Parece que tudo está perdido.

Ainda era tudo novo.

A morte verdadeira e satisfatória do meu pai, por Camille. O melhor amigo que virou irmão. A irmã que virou amiga. Tudo tão confuso. Assim como os olhares dos homens de Leon em cima de mim, provocando-me.

Deitei na cadeira, olhando para o teto. Inconformado. O que vou fazer? Por que eu? Foi quando meu celular tocou. Ainda sem parar de olhar o teto rachado, tateei em busca do celular em cima da mesa. Nem olhei o visor quando atendi.

— Alô.

Que ânimo — Nicholas falou, com a voz mais baixa que a minha. — Preciso que venha a minha casa.

— Estou atulhado de coisas a fazer — comentei, dando de ombros. — Não posso ficar procrastinando.

Houve uma pausa, em que quase imaginei-o pensando em maneiras de como me matar e enterrar meu corpo sem suspeitas. Os Coleman, eles não tinham paciência alguma. Isso parecia ser de família, tanto por Camille como por Nicholas.

Não é procrastinação, Blake. — Sua voz saiu irritada. — É melhor que apareça aqui. Agora.

Desliguei, antes que pudesse falar algo que me arrependeria depois. Eu e Nick estávamos arrumando um jeito de melhorar os negócios de nossos pais há uma semana.

Mas é muito mais difícil de se fazer, do que pensar. Tudo impedia nosso avanço. Os homens dos nossos pais, os negócios dos nossos pais, a herança dos nossos pais. Tudo girava em torno deles enquanto tentávamos dar uma volta sem nos matar.

Pais. Se é que Leon Turner e Richard Coleman poderiam ser chamados disto.

Por que Daylon, você não está aqui? Eu me achava tão novo para liderar os negócios de Leon. Tão inseguro.

Levantei-me da cadeira, quando David abriu a porta sem bater. Os machucados curando-se em seu corpo, e lhe dando um aspecto mais doente do que já estava. Pelo menos, o dreno havia sido tirado e ele andava normalmente agora.

Ainda apático e pálido.

— Oi, Blake. Que cara é essa?

A cara de quem está tão ferrado que não sabe nem como sair do lugar. Desviei os olhos, indicando a porta aberta pela que passara segundos antes.

— Seu meio-irmão me convidou para um almoço. Agora — frisei, colocando o celular no bolso. — Parece se tratar de negócios. Ele está irritado.

Ele virou o corpo para a saída.

— E quando é que Nicholas não está irritado?

Eu ri, assentindo.

David me acompanhou, enquanto olhava os corredores apinhados dos homens de Leon. Dos meus homens. Eles não reagiram bem quando souberam do grau de parentesco entre os dois. Mas não podiam fazer nada, enquanto Raven dava aquele olhar.

Significando algo entre Mato vocês e Posso esquartejar seus corpos sem suar. Esse olhar bastou para os mercenários calarem as bocas e receberem minhas ordens.

Como não partiram desse lugar, ainda era uma incógnita.

— Como anda Camille? — Indaguei.

Imediatamente os olhos de David suavizaram e um sorriso brotou em seu rosto. Era sempre assim, citar minha antiga irmã e David se derreter. Era incrível como Cami conseguia desarmar os homens ao seu redor. Era eu, David e até Nicholas.

— Voltou as aulas, se acertou com a mãe. Estamos bem.

Era o máximo de informação que receberia de David, de todo jeito. Saímos da sede de Leon — um depósito macabro, escuro e quente — e vimos o dia nublado. Meu irmão deveria estar longe daqui. Sendo policial ou até guarda-costas.

Mas David não conseguia se afastar dessa vida.

Não quando ainda estava processando como era ser meu irmão de sangue, e não mais filho do homem que matou.

— Vem comigo? — Perguntei.

Ele assentiu.

— Buscarei Camille e estarei lá daqui a pouco.

Assenti. Por mais que não gostasse da ideia dela tão perto dos negócios, não podia falar nada. A vida era dela, e Camille também gostava dessa nova aventura. De estar de olho em nós dois para não fazermos nada contra a lei, como nossos pais faziam.

Entrei no carro e parti.

[...]

Esperei por David e Camille na entrada da mansão de Nick. Um caminhão estava parado ao lado da casa, mas não me ative a isso. Encarei o céu imundo e sorri ao notá-la descendo do carro. Só para abrir a porta do meu carro rapidamente e correr até ela.

Segurei seus ombros, preocupado.

— O que foi isso? — Perguntei, me referindo ao sangue abundante em seu supercílio.

Olhei para David inquisitivo. Se ele fizera aquilo com ela... Cami riu.

— Calma aí, macho alfa. Era uma atividade de Suporte Básico de Vida, uma matéria optativa. De resgate a vítimas em acidente de carro. Eu fui a vítima. O sangue é de mentira. E tire esse olhar assassino do rosto.

Meus pulmões respiraram mais aliviados depois de escutar sua explicação. Concordei com a cabeça — é claro que David seria incapaz de machucá-la —, massageando seus ombros antes de largá-la e começar a subir as escadas.

Minha cabeça agora no assunto tão urgente que Nick gostaria de tratar comigo.

O segurança deu uma olhadela ao antigo príncipe — David —, mas sabiamente não disse nada. Ele nos levou até a sala de jantar, em que o irmão de Camille também utilizava para almoços. Estava a ponto de cumprimentá-lo, quando meu olho bateu no homem ao seu lado.

Todo o sangue escorreu do meu rosto quando os olhos azuis tocaram os meus. Confusos.

Senti meus joelhos falharem, meu coração quase parar de bater. Aquela visão... era impossível! A pressão em minha cabeça estava aumentando a cada segundo, parecendo processar que aquilo com uma faca na mão, não era um fantasma.

Todos estavam petrificados.

Mas foi para David que os olhos de Daylon Turner seguiram. Agora, olhos cruéis, como meu irmão costumava dar ao receber as ordens de Leon.

Você — seus lábios se abriram em um grunhido monstruosos. Tão conhecido. — Você me matou!

Foram segundos em que hesitei. Camille soltou um arquejo de surpresa nesse meio tempo — o sangue falso ainda no rosto. E foram esses segundos que Daylon utilizou. Com os movimentos tão conhecidos por mim, enquanto treinávamos.

Ele arremessou a faca em que estivera em sua mão.

E ela partiu direto para o coração de David.

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