QUATRO "SERVIÇOS INACABADOS"

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Nicholas

***

Quando as coisas pioravam nos negócios do papai, e ele descontava em nós, Sook sempre nos tirava de lá. Às vezes, íamos ao cinema, outras, no parque da cidade. Ou somente, dar um passeio enquanto Richard esfriava a cabeça.

Eu não entendia por que ele se irritava com tamanha facilidade. Era quase todos os dias.

— Ele quase bateu em você hoje — resmunguei, vendo David brincar com um cavalo de plástico na areia.

Sook suspirou, talvez lembrando do episódio de Richard dando um soco na parede. Tão perto do seu rosto, que uma mecha de seus cabelos escuros ficou presa entre os dedos dele.

— Seu pai é assim. Daqui a pouco, ele estará melhor.

Certo, porque me obrigar a matar um gato por pura diversão era realmente um sinônimo de melhoria. Eu odiava meu pai com todas as forças. As minhas células ansiavam a cada momento, que ele enfartasse e morresse.

E nos deixasse livre, de seu contato.

— Sei — respondi.

Sook se aproximou de mim, no banco, e encostou seu braço no meu.

— Vai ficar tudo bem, Nick.

Essa era uma promessa tão vazia, quanto eu estava me sentindo naquele momento. Porque não tínhamos escapatória dele. E ele acabaria nos matando lentamente, como vinha fazendo todos esses anos em que convivíamos juntos.

Richard Coleman era tóxico.

— Por que não fugimos? — Perguntei, repentinamente.

Ela passou a mão em meus cabelos crescidos, com um suspiro cansado.

— Ainda não, meu pequeno.

***

O clima estava mais que pesado, quase palpável.

A mesa era enorme, mas os três deram um jeito de quase se fundir. Os três, digo, era Camille, Blake e Daylon. Porque David estava ao meu lado, carrancudo e quase perfurando o prato com os talheres.

Ela estava no meio, e ele gostaria de estar sentado lá. Mas com um rosnado de Daylon, um olhar ferino de Blake e o sorrido meigo de Camille... eu soube que os três seriam imbatíveis juntos — independentemente de não serem irmãos de sangue.

Meus pensamentos viajaram nas meninas. Aquelas que já deveriam estar indo embora.

Fiz o certo? Se Richard ainda fosse vivo, ele arrancaria minha orelha e me faria ir atrás delas. Uma por uma. Acabando com suas vidas tão rápido quanto o pensamento. Por que não sou igual a ele?

Camille riu de uma piada que Daylon contou. Seus olhos azuis tocaram os meus. Alegres. Se ela soubesse o que tinha sido criado para fazer. Que a chama da rebeldia — para matar todas as garotas — ainda dançava em meu peito... ela nunca me perdoaria.

E ter uma irmã como ela... era cem mil vezes mais intenso e interessante do que ter Raven como irmão.

— Está muito pensativo hoje — David cochichou.

Voltei meus olhos para ele.

— Um carregamento de mulheres traficadas entrou por meus portões mais cedo.

A taça de vinho parou na metade, quando seus olhos correram imediatamente para Camille. Mas ela estava absorta demais para notar o olhar que cruzou o rosto dele. De medo.

O Melhor CriminosoOnde histórias criam vida. Descubra agora