dia:8°

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“Conformar-se é um dos passos de
quem procura seguir em frente. Cedo
ou tarde, a gente entende que não tem
como manter alguém em nossa vida
contra a sua própria vontade,
independentemente do que a gente
ofereça em troca.”
8º dia

Eu menti pra você. Eu menti toda vez que disse que não me importava com o que fazia em meio a uma risada irônica. Eu
estava lentamente me dilacerando por dentro; o riso foi puro
desespero. Eu menti pra você quando disse que não fazia
questão de te ver. Não é como se eu fosse dependente de ti, mas
como se você fosse a melhor parte de mim e toda vez que você
se afastasse, eu tivesse medo de me perder, ainda que fosse só
por um metro. Nada me doía tanto quanto a distância dos teus
passos até a porta.
Menti quando aceitei de lábios cerrados e coração apertado ser
qualquer coisa em sua vida, inclusive nada. Eu queria ser a
pessoa em quem você pensa antes de dormir, aquela que
procura quando precisa desabafar ou contar uma piada em que
só você acha graça pra que eu te fizesse sentir que não está só.
Eu queria ser a pessoa que te faz enxergar o mundo ao avesso e
se apaixonar por cada desencontro que a vida traz. Eu mentiquando um fio de orgulho precipitou minhas palavras e me fez
me despedir de você ao telefone. Por mim, meu bem, eu
permaneceria em silêncio só ouvindo sua respiração pra ter
certeza de que você ainda estava ali, do outro lado da linha, se
importando comigo. Mas eu menti porque não pude suportar a
ideia de te deixar, de sair da tua vida e fingir jamais ter te
encontrado.
Contudo, quando eu olhava pra ti era exatamente isso o que eu
queria: abandonar o orgulho e abraçar tudo o que eu vinha
sentindo. Dizer ao mundo inteiro que eu tinha te conhecido, sim.
E que todo o errado que eu vivi, entre amores levianos e paixões
enlouquecedoras, havia se tornado gratidão por você. Eu queria
você e eu agradecendo por mais um dia nascendo lado a lado,
sonhando de olhos abertos. Eu queria você e eu vivendo um no
outro entre pernas e planos.
Não é como se eu nunca tivesse pensado em te dizer a verdade,
aliás, eu pensei nisso todos os dias. Principalmente aqueles em
que te via acordar. A hora em que nossos olhos se encontravam
pela primeira vez no dia era como soltar o ar que eu havia
prendido a vida inteira nos pulmões, e a rapidez com que meu
coração se acelerava com a consciência da tua presença ao meu
lado, diariamente, me dava a chance de acreditar em finais
felizes mais uma vez.
Às vezes, me pergunto se teria sido diferente se eu tivesse lhe
dito as coisas que escrevia pra ti em segredo, e tento me
convencer de que não. Conformar-se é um dos passos de quem
procura seguir em frente. Cedo ou tarde, a gente entende que
não tem como manter alguém em nossa vida contra a sua própria
vontade, independentemente do que a gente ofereça em troca.
Não vou dizer que aprendi a minha lição porque nas manhãs de
domingo, nos livros de romance e aqui no fundo, a verdade
desse sentimento me libertou. Eu faria tudo de novo.É quase impossível que um amor tão errado, com o tempo e a
nossa própria insistência, pudesse dar certo. Eu disse quase. O
que quer dizer que, pra não deixarmos nosso coração endurecer,
pra não cairmos no abismo da desilusão, pra não matarmos
nossa esperança ou enaltecermos nossas expectativas, temos
que crer no quase. Ou no impossível, tanto faz. Mas, quando a
gente cria uma mentira pensando que ela nos protege da força
da verdade, só alimentamos o medo de descobrir nossas
próprias fraquezas. Eu menti, sobretudo, pra mim e paguei o alto
preço de te perder.

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