“Um dia a mais, outro a menos, a
gente acaba aceitando que nem toda
saudade vale a pena.”
15º dia
Eu não senti nada notável quando te vi, nem um arrepio me
percorreu o corpo e nem compus um futuro a dois em meio
segundo. No entanto, lembro com exatidão do instante que seus
ambiciosos planos de mudar o mundo me convenceram a ficar.
No hiato do seu esforço contínuo de me conquistar, eu me
entreguei. Quando percebi que o silêncio se arrastava sem
qualquer preocupação de ser preenchido com palavras nervosas,
eu soube que havia me vencido. Às vezes, por menos que um
gesto a gente já se despede da muralha erguida para nos
defender.
Honestamente, a gente só quer que dê certo pra gente e, por
mais impenetráveis que sejamos, até mesmo duas rochas que
colidem acabam por faiscar. E, no fundo, essa esperança que se
acende é tudo o que a gente procura.
Como eu queria mudar essa história! Você não faz ideia. Eu quis
tanto que desse certo que nem preciso fechar os olhos pra te ver
na minha porta outra vez; metade da mente fora, metade do
coração dentro. E todas as infinitas possibilidades que eu tinha
de ter feito mais, de fato, adiantariam? Acho que o problema
maior foi esse – ou talvez seja esse – o orgulho me impediu de
apostar todas as fichas. Mas, você bem sabe, um relacionamento
nunca se faz a dois. O que já sorrimos para outros olhares conta.
O que já sonhamos em outros corpos também. Não existe essa
de recomeço, somos o meio. Às vezes, o fim. Cansados demais
para tecer um novo drama nos baseamos no que já vivemos. Já
estamos feitos.
No início, eu só queria alguém, sabe? Alguém com quem eu
pudesse compartilhar uma garrafa de vinho sem me preocupar
com o gradual histerismo da minha risada. Aliás, alguém que me
fizesse rir assim: enlouquecidamente. Alguém pra andar de mãos
dadas, compartilhar o que só digo em voz alta quando estou só.
Inclusive, alguém que não me deixasse sentir solidão, mesmo à
distância.
Com o tempo, eu só queria você no lugar de todo alguém que eu
encontrava. Não era a mesma coisa, mas era alguma coisa e, às
vezes, isso me bastava. Mas o pior é que continuo querendo
você com a mesma vontade.
Já me convenci de que não éramos para dar certo. Eu apagava
uns erros com outros, tanto meus quanto seus. Insistia.
Perdoava. O problema do perdão é que a gente não esquece, só
enumera os motivos pelos quais vale a pena tentar mais uma
vez. Acontece que se a gente enumera não é amor, é apego.
Não se justificam prós em uma lista negra! Quando alguém nos
faz bem, a gente sabe. Nos sentimos agradecidos, sortudos. No
entanto, com você eu me sentia imbatível, como se valesse de
algo o placar imaginário de pontos em que tive a razão. Como se
ele compensasse nossas reconciliações manipuladas. Você já
sabia o que dizer pra me agradar, eu já sabia o que fazer pra te
afetar. O amor não é um jogo e, por isso, toda vez que tentava te
ganhar, me perdia mais um pouco.
Em razão da saudade que me arregaça o peito sem dó, eu não
volto atrás. Talvez fosse esse o empecilho: orgulho demais para
ceder uma vida inteira por meia história. Ou talvez ainda seja.
Mas vou em passos curtos, por vezes lentos, seguindo em frente.
Ninguém sabe do esforço que faço para não sucumbir à vontade
de não te ligar agora ou ao desvio do meu caminho que cruzaria
com sua rua. Essa é a questão: só eu sei. Você sequer algum dia
soube. Não dá pra recompensar algo que nunca foi dado, não é
mesmo? Eu te dei bons momentos, cafunés intermináveis,
sussurros ao pé da orelha. Porém, nunca te dei certeza, pois não
é uma coisa que se pode prometer, é uma ponte que se ergue
naturalmente pra conectar dois resistentes. Mas nós éramos dois
desistentes lutando para sobreviver.
Eventualmente, eu vou me esquecer do seu cheiro, do susto que
ainda levo quando não te encontro ao meu lado na cama. E vou
acreditar que foi melhor assim. Afinal, nada pode ser pior do que
passar o resto da vida se lamentando pelo que poderia ter sido
com alguém. Então, quer a gente queira ou não, vai ser melhor
assim porque tem que ser melhor assim. Um dia a mais, outro a
menos, a gente acaba aceitando que nem toda saudade vale a
pena.“Não tem coisa pior do que se
apegar a alguém e, lá no fundo,
acreditar que vai acabar logo. O que
a gente precisa é de quem nos dê
esperança, e não de quem nos
rouba pouco a pouco a fé. A gente
precisa de quem também precisa da
gente.”
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500 dias sem você
RomansaTodo mundo tem alguém para quem não consegue dizer não. Aquela pessoa que, não importa o tempo que passar, ainda dá uma pontada certeira no peito que te desnorteia. Aquela pessoa que ao menor sinal de reaproximação já te deixa com a boca seca e o co...