Capítulo 1

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"O destino baralha as cartas, e nós jogamos" 

                                                                (Arthur Schopenhauer)

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Eu vou mata-la

Mas primeiro vou fazer com que ela sofra, vou destruir as roupas dela, é isso, pensei, plano perfeito, agora só preciso descongelar o meu corpo antes de colocar em prática o meu plano diabólico.

Meu corpo inteiro parece estar sofrendo convulsões, meus dentes tiritam de tanto frio, talvez algum deles caiam de tanto eu apertar. Tento apertar o passo, mas as calçadas deslizam sobre os meus pés, a casa do meu irmão parece cada vez mais longe, o que antes só levava quinze minutos para chegar parecia agora que eu estava escalando o monte Everest em vez de dobrar em algumas ruas.

Vamos Lyra, mais alguns passos e você consegue, pense em coisas quentes, fogão, lareira, fogueira, chaminé, o professor gato da escola. Droga, o professor não, tudo bem que ele é bem quente, mas nem a pau que eu vou pensar nele pra me esquentar, muito corpo, pouco cérebro.

Graças ao céus, apresso um pouco mais de encontro a casa de cor caramelo, seu jardim completamente coberto de neve agora esconde as flores que eu cuidadosamente plantei, dou uma leve corridinha a porta da frente e bato com a força que ainda me resta, o que é muito pouco aliás.

- Jesus, o que aconteceu com você? - Beca aparece na porta usando seu uniforme do hospital, usando seu melhor coque profissional e uma expressão assustada no rosto. Ótimo, devo estar parecendo um picolé descongelado e congelado de novo.

- O que você acha? – Entrei batendo os sapatos no chão, deixando um rastro de neve pelo caminho. Quando já estava o suficientemente longe do frio e o ar quente da lareira foi aos poucos se impregnando em minha pele soltei um suspiro contente – Tá, agora que eu estou me sentindo um pouco mais humana, e não um picolé ambulante, pode me dizer que urgência é essa que me fez sair de casa em uma tempestade de neve?

Tiro meus sapatos e o meu casaco e me aproximo ainda mais da lareira. Quando não recebo uma resposta, olho de lado pra Beca que ainda parece estar em estado de choque, dou uma tossida falsa e ela parece despertar.

- O que realmente aconteceu com você? Parece que veio caminhando até aqui ou sei lá.

- Porque foi isso que aconteceu Beca, como você acha que eu vim? – Me sento no tapete próximo a lareira e começo a sentir os meus dedos dos pés.

- Cadê o seu carro?

- Na oficina é claro, o mané ainda não me devolveu. Mas você sabia é claro, agora tem como me dizer que emergência é? Sei que não foi morte, você não está com cara de quem chorou – Ela se aproxima de leve enquanto dá um sorriso amarelo. Epa, lá vem coisa – O que foi?

- É que eu só queria que você ficasse com o Thomas e a Melissa, o hospital ligou e estão precisando de toda ajuda possível por causa de um acidente – Ela dá um risada sem graça e quando eu compreendo o que ela está falando me levanto em um pulo.

- O quê?? – Minha voz sai mais como um ganido doloroso, talvez minhas cordas vocais tenham sido afetadas pelo frio, mas pelo menos meu corpo estava voltando ao normal – Diga que você está brincando Rebeca.

- Não, é sério, olha, a babá não vai poder vim, o Murilo vai pra oficina, eu vou pro hospital e eu não posso pedir a Lorenzo e a Natalia pra vim aqui porque é perigoso com toda essa neve e como o Tomi estava doente esses dias eu não queria que ele saísse e.... – Ela franze as sobrancelhas me encarando – Porque está me olhando desse jeito?

10 MinutosOnde histórias criam vida. Descubra agora