Capítulo 16

1.4K 223 26
                                    

"O amor não força nada, ao contrário, ele abre caminho" (William P. Young)

.

- Minha mãe se chamava Beatriz, não sei o sobrenome dela, a não ser a do marido dela Alex Garcia, meu pai, ele era policial da cidade, e não é como se eles se sentassem e conversassem sobre como se conheceram, o que eu sei é o que o Daniel me contou. Ele é quatro anos mais velho que eu e teve uma experiência mais próxima ou o que seja com o Alex. O fato é que eu nasci, e isso mudou a vida dele, da minha mãe e a minha consequentemente.

- Porque? – A voz de Beca sai baixa, como se estivesse com medo de perguntar.

- Porque minha mãe ficou 6 meses fugindo de Alex e quando voltou, algumas semanas depois, ela descobriu que estava grávida de mim, ele não acreditou que o filho era dele e nos puniu da melhor forma que ele achou ser possível. Eu nasci e Alex achou melhor me chamar de Lívia, ele não deixou minha mãe colocar o seu sobrenome, ele disse que iria manchar seu nome com uma bastarda.

Pigarreio e tomo fôlego antes de continuar.

- Alex não era um bom policial, ele roubava as drogas e todas as noites ele levava pessoas dignas de sua companhia, prostitutas em sua maioria, ele queria diminuir ela em todos os momentos, cada mínima falha era apontada e todos os dias era a mesma coisa, música alta, drogas, gritaria, e no final quando sobrava somente nos três ele decidia quem iria ser punido por perturbar sua vida. Ela apanhava, ela pedia desculpa, ela chorava e dizia que o amava então ele vinha até mim.

Pesco a pecinha do meu bolso e fico rodando em minha mão, fria como sempre.

- Ele me culpava pelo que minha mãe fez, e cada soco para ele contava como redenção, Daniel sempre ficava quieto, não o culpo por isso, ele tinha tanto medo quanto eu. Ele ferrou com nossa mente, todos os dias, todas as noites ele nos colocava no lugar, como se fossemos ratos vivendo sobre o teto dele, nunca nos deixava quietos, sempre nos puxava para fora, era agonizante à espera do momento em que ele apareceria.

- O que aconteceu? – Enzo me olhava e havia tanto ódio nos olhos dele que me perguntei se eu mesma não refletia isso.

- Até hoje não sei o que deu nela, talvez estivesse cansada de tudo aquilo, mas ela o acertou na cabeça com um objeto de vidro – Franzo a testa tentando voltar aquele dia – Eu não lembro o que foi, mas ela estava com sangue nas mãos e ele estava deitado chão de bruços, ela simplesmente nos pegou e nos levou embora – Não falo sobre a cena em que ela foi rejeitada por alguém que não conheço pois nem mesmo eu sei o que foi aquilo – Ela nos levou para o orfanato e alguns meses depois soubemos por uma mulher que trabalhava lá que ela tinha morrido, acidente de carro foi o que disseram.

"Ela morreu querida, ela bateu em uma árvore, eu mesmo vi o noticiário e a reconheci quando ela trouxe vocês para cá. Eu sinto muito, ela não vai voltar". Deveria ter a corrigido, deveria ter falado que ela não voltaria porque nunca nem tinha ido, ela estava perdida, corpo e alma, tinham-na roubado dela mesmo, e eu nunca o perdoaria por isso.

- Daniel um ano depois conseguiu fugir com alguns outros meninos, ele disse que voltaria para me buscar, disse que encontraria um jeito, então eu o esperei, e não é nenhuma surpresa que ele não voltou e o resto é com Enzo e Naty. Nunca agradeci por terem me escolhido, a mim e ao Milo.

- Não precisa agradecer querida – Naty estava chorando e pegou minhas mãos e a de Milo que estava com mais raiva do que triste – Vocês dois foi a melhor coisa que poderia ter nos acontecido, vocês é que nos salvaram.

Dou um sorriso lacrimejante e me volto para Enzo que está olhando para suas mãos, imaginando, repensando, sopesando, pego suas mãos na minha e a aperto.

10 MinutosOnde histórias criam vida. Descubra agora