Capítulo Único

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Cerca de dez anos atrás, quem visse Snape e Andrômeda sentados lado a lado em pleno Natal na casa de ninguém mais, ninguém menos do que os Weasley diria que, absolutamente, tratava-se de uma ilusão de óptica, ou até mesmo que o pocionista estaria cumprindo uma promessa a contragosto.

Entretanto, desde a guerra as coisas haviam mudado bastante – até demais. McGonagall era a nova diretora de Hogwarts, Kingsley era o novo Ministro da Magia; muitos haviam se casado, como Harry Potter e Gina Weasley – agora Potter -, e alguns haviam se divorciado, como Lúcio e Narcisa Malfoy e, até mesmo, Rony Weasley e Hermione Granger. E havia aqueles que aos poucos resgatavam a fé no amor e se permitiam a construir novos momentos, como... Snape e Andrômeda.

Por mais estranho que soe à primeira vista, tudo havia caminhado de forma muito homogênea até chegarem àquele vinte e quatro de dezembro de 2005, sentados lado a lado, bebericando vinho e conversando enquanto Teddy brincava aos seus pés. Discretamente, Severo olhava-a com mais intensidade e Andrômeda se atrevia a encostar sua mão na dele.

— Severo! — Teddy gritou de repente. — Qual é o nome desse? — Mostrou o pequeno dinossauro de brinquedo que, por magia, mexia-se em sua mãozinha infantil.

— Protoceratops — respondeu sem emoção, mas seus olhos sobre o garoto de cabelos azuis eram carinhosos.

— Sempre esquece os nomes, Teddy. — Andrômeda comentou.

— Mas, vovó — disse com desânimo, transformando seus cabelos em um tom de castanho pálido —, os nomes são muito difíceis.

— Não ligue pra sua avó — Snape disse recebendo uma cotovelada da mulher nas costelas e arrancando risadas da criança; seus fios voltando ao azul de outrora.

— Você é impossível, homem! — Ela argumentou ao balançar a cabeça em negação. Deixou sua taça sobre a mesa de centro e se afastou para a cozinha.

Snape deixou seus olhos caírem das costas de Andrômeda para os seus quadris e fitou-a caminhar até a perder de vista. Respirou muito fundo, lembrando-se de beber o vinho, e pela milésima vez naquele dia se perguntou o que vinha se questionando todos os dias há três anos: o que fizera para merecer Andrômeda?

— Severo? — Teddy o chamou com certo receio; os cabelos agora negros como os do homem. Por mais que convivessem há alguns anos, Snape sempre seria uma imagem imponente. — Pode me ajudar aqui?

Aproveitando-se da ausência das demais pessoas – que àquela altura estavam distribuídas pela casa, deixando a sala vazia -, ele escorregou do sofá para o tapete em frente a lareira, sentando-se ao lado do menino.

— Esse é um Apatosaurus – ergueu uma miniatura na frente dos olhos de Teddy. — Era um herbívoro assim como o Protoceratops.

Por muitos minutos as duas figuras estranhas se envolveram em uma longa conversa sobre dinossauros e o período Triássico. Snape nunca tinha ligado para crianças – na verdade, nunca havia gostado delas; sentimento este que foi agravado quando começou a lecionar em Hogwarts. Ted Lupin, entretanto, poderia até carregar o sobrenome de um velho desafeto seu, porém, o menino trazia certo aconchego ao seu âmago.

O caminho que percorrera até chegar àquele Natal de 2005, com Andrômeda como sua mulher, Teddy se tornando alguém especial e, até mesmo, tendo Arthur Weasley como amigo havia sido árduo e longo.

Logo após a queda do Lorde das Trevas, a Ordem da Fênix fora resgatá-lo do chão imundo da Casa dos Gritos. Todos ainda estavam receosos sobre a história quase quimérica contada por alto pelo Menino-Que-Sobreviveu-Mais-Uma-Vez, e embora estivesse entre a vida e a morte, conseguia lembrar da hesitação do grupo em salvá-lo.

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