Parte 3

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Chego em casa às sete e meia. Dou oi para o meu cachorro, que vem bem devagar me receber.
Após dar sua cota diária de carinho, abro a geladeira para pegar uma Coca-Cola. Sou viciada em Coca-Cola... é desesperador! Sem pensar em mais nada, vejo a pilha de roupas para passar que estão em cima da cadeira. Embora viver sozinha e ser independente tenha lá suas vantagens, se eu estivesse morando com a minha tia essa roupa toda com certeza estaria passadinha e pendurada no armário.
Depois de terminar a lata de Coca, corro para o banho. Antes, ponho um CD da Anavitoria. Adoro essas meninas. Entro no banheiro. Tiro a roupa enquanto cantarolo Outrória.

(Ouça enquanto lê: https://youtu.be/n6O03WisDU4)

Tua fala transpassa
O mistério em ti
Teu pé
Fora do chão

Que maravilha! Que voz essas meninas tem! Instantes depois, suspiro ao sentir a água quente caindo sobre minha pele. Faz com que eu me sinta limpa. Mas, de repente, o senhor Bolat e seu jeito de falar comigo surgem em minha mente, e lembro da sua voz, do seu toque.

Quando vi, já veio sim
Tomou parte de mim
Levou embora o meu pesar
Teu ver me encanta
Enfim, canta perto de mim
Tua voz amansa o teu olhar

Após meu banho ás 20h40, fico histérica ao revirar meu armário. Não sei o que vestir. Quero estar linda como ele me pediu, mas a questão é que minhas roupas são bem básicas e funcionais. Acabo escolhendo uma saia e uma blusa preta que tem um corte bonito e se ajusta às minhas curvas, e resolvo estrear um par bem provocante de sapatos altos. Minha última extravagância.
Volto a consultar o relógio, nervosa. Já são 20h50.
Sem tempo a perder, ligo o secador e seco meu cabelo mecha por mecha. Para meu espanto, o resultado me agrada. Como não sou de me maquiar muito, passo delineador, rímel e batom. Odeio usar muita maquiagem; isso eu deixo para minha chefe.
Toca o interfone. Olho as horas. Nove em ponto. Pontualidade. Atendo nervosa e, antes de abrir a boca, ouço uma voz:
— Senhorita Yildiz, estou esperando aqui embaixo. Desça.
Após soltar um tímido "Estou indo", desligo. Em seguida pego minha bolsa, beijo a cabeça do meu cachorro e me despeço dele. Dois minutos depois, ao passar pela portaria, vejo-o apoiado num impressionante conversível preto. Porém o mais impressionante é ele próprio.

Ao me ver, Bolat vem e me dá um beijo educado na bochecha

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Ao me ver, Bolat vem e me dá um beijo educado na bochecha.
— A senhorita está muito bonita — observa.
Tenho duas opções: sorrir e agradecer ou ficar quieta. Opto pela segunda. Estou tão nervosa e desconcertada que, se eu disser algo, nem sei o que pode sair da minha boca.
Ele abre a porta e me sento. Bolat assim que entra no carro.
— Temos reserva no Moroccio — diz — Está tudo bem?
— Sim.
— Então por que está tão calada?
Olho para ele e encolho os ombros sem saber o que responder.
— Nunca tive um encontro como este, senhor Bolat — consigo dizer. — Em geral, quando saio para jantar com um homem, eu...
Sem me deixar terminar a frase, me encara com seus penetrantes olhos.
— Sai para jantar com muitos homens?
Aquela pergunta me surpreende. Por acaso esse cara se acha o último macho do planeta?
Respiro fundo e me contenho para não responder com alguma grosseria.
— Sempre que tenho vontade — esclareço.
Levanto o queixo com orgulho e, quando penso que não vou dizer mais nada, eu solto:
— O que eu não entendo é o que faço aqui, em seu carro, com o senhor e indo jantar. Isso é algo que ainda não consigo entender.
Ele não responde. Apenas me olha... me olha... me olha e me deixa perturbada com seu
olhar.
— O senhor vai falar alguma coisa ou pretende passar todo o tempo me olhando?
— Olhar a senhorita é muito agradável.
Xingo e suspiro. Em que furada eu fui me meter? Mas, como não consigo ficar quieta, pergunto:
— Qual é o motivo desse jantar?
— Sua companhia me agrada.
— E por que perguntou se saio com muitos homens? — Só por curiosidade.
— Curiosidade? — repito, coçando o pescoço, desconfiada. — Por acaso um homem como o senhor leva uma vida solitária?
— Não, senhorita.
— Fico feliz em saber, porque eu também não.
— Pare de coçar o pescoço, senhorita Yildiz — ele sussurra, curvando os lábios. — As brotoejas...
Cansada de tanta formalidade e levando em conta tudo o que já foi dito, eu protesto.
Vamos parar com isso logo de uma vez!
— Por favor... Pode me chamar de Eda. Deixemos a formalidade para o horário do expediente. Tudo bem, o senhor é meu chefe e eu lhe devo respeito, mas me incomoda jantar com alguém que fica me chamando pelo meu sobrenome.
Ele faz que sim. Parece ter ficado satisfeito com minhas palavras. Seus lábios me lançam um sorriso, e seu rosto se aproxima do meu.
— Acho ótimo, desde que a senhorita me chame de Serkan — sussurra. — É desagradável e muito impessoal jantar com uma mulher que se dirige a mim pelo meu sobrenome.
Após suspirar novamente, aceito e lhe estendo a mão.
— Combinado, Serkan, prazer em te conhecer.
Ele pega minha mão e, para minha surpresa, dá um beijo nela.
— Digo o mesmo, Eda — acrescenta numa voz dócil.
Nesse instante, o carro para e então Serkan Bolat  me segura pela cintura e eu leio um letreiro que diz "Moroccio".
Entrar naquele restaurante bonito e iluminado me deixa de bom humor. Sempre quis ir ali. Além disso, estou faminta; quase não comi nada na hora do almoço e estou com uma fome absurda. Ao entrarmos, observo as mesas do lugar e, em especial, os pratos que os garçons servem. "Meu Deus, esses pratos estão com uma cara maravilhosa!" Ao avistar Eric, o maître sorri e se dirige a nós.
— Acompanhem-me — ele diz após nos cumprimentar.
Serkan me segura pela mão e eu me deixo levar. Vejo algumas mulheres olhando para ele, o que me enche de orgulho por ser eu quem está a seu lado, e não elas. Ao atravessar o salão onde as pessoas estão jantando, chegamos a um espaço reservado com divisórias em tecido de cetim dourado. Não consigo esconder a surpresa, e, quando o maître abre uma dessas cortinas e nos convida a entrar, quase pulo de felicidade.
É um lugar luxuoso e iluminado por velas. Num canto há uma poltrona que parece confortável e, no centro, uma mesa redonda e arrumada para dois. Serkan sorri do meu espanto, e percebo que ele dirige um olhar ao maître para nos deixar a sós. Chega perto de mim e, num gesto de cavalheirismo, puxa uma das cadeiras para eu me sentar.
— Gostou?
— Gostei...
Enquanto me acomodo na cadeira, ele dá a volta na mesa e senta na minha frente.
— Nunca jantou aqui?
— Já passei mil vezes pela porta, mas nunca tinha entrado. Só de olhar do lado de fora, já dá pra saber que os preços são proibitivos para uma estagiária modesta como eu.
Em resposta ao que digo, Serkan torce o nariz e estende sua mão sobre a mesa até alcançar a minha. Começa a acariciar meu pulso, desenhando com o dedo suaves movimentos
circulares.
— Para você, poucas coisas são proibitivas — murmura.
Isso me faz rir.
— Mais do que você imagina.
— Duvido, menina. Tenho certeza de que é você quem impõe os limites.
Seu olhar, sua voz rouca e seu jeito de me chamar de "menina" me cativam. Ele. O senhor Bolat, meu chefe, me fascina a cada segundo que passa.
Aperta um botão verde que fica na lateral da mesa e, após alguns segundos, aparece um garçom com uma garrafa de vinho. Enquanto serve a bebida, leio no rótulo "Flor de Pingus. Ribera del Duero". Cara, eu detesto vinho! E estou doida por uma Coca-Cola bem gelada. Serkan pega a taça que o garçom serviu, chacoalha um pouco, aproxima do nariz e toma um pequeno gole.
— Excelente.
O garçom enche o restante da taça e depois dá a volta na mesa e me serve também. E agora? Instantes depois, ele se retira, nos deixando a sós.
— Prova o vinho, Eda. É maravilhoso.
Pego a taça e faço cara de séria. Mas, quando vou levá-la à minha boca, sinto a mão dele sobre a minha.
— O que houve? — ele pergunta.
— Nada.
Serkan inclina a cabeça.
— Eda, eu te conheço pouco, mas já estou vendo as brotoejas aparecendo no seu pescoço
— diz, surpreendendo-me. — Você mesma me falou sobre isso. O que aconteceu?
Sem conseguir me conter, abro um sorriso. Esse senhor Bolat não perde uma.
— Quer saber a verdade?
— Sempre — insiste.
— Não gosto de vinho e estou morrendo de vontade de tomar uma Coca geladinha. Chocado e irônico, olha para mim como se eu tivesse dito que os padrinhos mágicos são meu seriado favorito e que Bob Esponja é meu namorado.
— Você vai gostar desse vinho cor de rubi escuro — murmura com uma voz rouca porém gentil. — Faça isso por mim e prove. Se não gostar, é claro que eu peço uma Coca pra você.
Sem dizer nada, eu tomo um gole depressa.
— Que tal? — pergunta sem tirar de mim seus olhos penetrantes.
— Uma delícia. Melhor do que eu imaginava.
— Quer que eu peça a Coca?
Sorrio e digo que não com a cabeça. Instantes depois, a cortina se abre de novo e surgem dois garçons com vários pratos.
— Tomei a liberdade de fazer o pedido para nós dois. Tudo bem?
Faço que sim. Não me resta alternativa. E pouco depois saboreio um delicioso coquetel de
camarões, uma sofisticada pasta de berinjela e, em seguida, um ótimo salmão ao molho de laranja. Enquanto isso, nós dois conversamos. Serkan Bolat  se tornou de repente um homem com grande senso de humor, e isso me atrai muito.
Então me dou conta de que uma luz alaranjada se acende no canto direito da sala. — O que é isso?
Sem precisar olhar, Serkan sabe a que me refiro.
— Talvez depois da sobremesa eu te mostre.
Isso me faz sorrir e eu tomo um gole do vinho que, por sinal, acho cada vez mais saboroso. — Por que só depois da sobremesa?
Minha pergunta parece diverti-lo. Ele me encara e se recosta em sua cadeira.
— Porque primeiro eu quero jantar.
Não pergunto mais e, quando termino o salmão, os garçons entram para recolher os pratos. Segundos depois, entra outro garçom e deixa à minha frente uma fatia de torta de chocolate acompanhada de uma bola cor-de-rosa.
— Hummmm, que delícia. — E, ao ver que não lhe servem, pergunto: — Você não vai comer sobremesa?
Não me responde. Apenas segura minha cadeira e puxa para ele.

(Ouça enquanto lê: https://youtu.be/7F37r50VUTQ)

Fico meio nervosa

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Fico meio nervosa. É tão sexy que é impossível não pensar em mil safadezas nesse momento. Pega a colherzinha, parte um pedaço da torta, coloca um pouco de sorvete e diz:
— Abre a boca.
Pisco os olhos, surpresa.
— Quê?
Não repete o que disse. Me aponta a colher e, automaticamente, abro a boca. Me sinto
extasiada. Enfia a colher devagar na minha boca e eu logo fecho os lábios. Me olha. Sorrio com timidez. Após engolir essa iguaria, tento dizer alguma coisa, mas ele me interrompe:
— Está gostoso?
Com meu paladar ainda adocicado pelo chocolate e o sorvete de morango, faço que sim com a cabeça. Ele chega mais pra perto:
— Posso provar?
Digo que sim, e minha surpresa é enorme quando o que ele prova na verdade são os meus lábios. Minha boca. Encosta seus lábios suculentos nos meus e os saboreia. Quando sinto sua mão sobre meu joelho, minha respiração se acelera, mas eu não me mexo. Quero mais. Lentamente ele vai subindo com a mão até chegar à parte interna das minhas coxas, e fica massageando. Sua mão sobe até minha calcinha e eu sinto seu dedo ali. Mas, de repente, ele se afasta de mim e volta à sua posição na cadeira.
Minhas bochechas estão pegando fogo. Ardem, assim como meu corpo inteiro está ardendo. Aquele contato íntimo me deixou a mil. O que está havendo comigo? Um beijo e um simples roçar de sua mão quase me levaram ao delírio, e isso acelera minhas pulsações. Serkan me observa. Vejo seus olhos me fitando
— Eu tiraria sua roupa todinha aqui mesmo — murmura.
Estou tremendo. Meu Deus! Vou ter um troço!

Continua....

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