Capítulo 3

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Passei horas e horas sentada nas raízes da minha tão amada árvore...

Agora estou voltando para o castelo, pois perdi a hora para me arrumar para o baile e sei que Dalilah vai brigar comigo

Passo pelos portões enormes de madeira maciça e corro o mais rápido possível para o estábulo, guardo Argus em sua baia e avisto um balde cheio de maçãs, pego uma e dou para ele como presente.

Ando o mais rápido possível para não perder a elegância, pois se fosse pelo tempo eu estaria correndo muito.

Entro em meu aposento, vejo uma Dalilah com feição de raiva e me repreendo mentalmente pelo atraso de mais de uma hora!

-Você demorou muito Amy!- Ela segurava o meu vestido azul marinho em suas mãos e seus cabelos estava com vários tecidos enrolando suas mechas ruivas, acho que ela vai cachear.

-Mil perdões, Lila! Perdi o horário...- vou em direção ao banheiro, tiro minhas roupas e me limpo em menos de dez minutos.

-Tudo bem, venha!- me chama para colocar o espartilho branco.

Odeio espartilhos, já não sou magra o suficiente? Não consigo respirar usando aquilo! Queria poder usar minhas calças nos bailes.

Dalilah me ajuda a colocar o vestido e assim que soltamos toda saia sinto o enorme peso sobre meu corpo, sei que sentirei dor nas costas hoje...

Me sento na penteadeira de madeira e detalhes em puro e Lila começa a arrumar meus cabelos.

Eles bagunçaram tanto com o vento que ela terá que fazer um milagre com aquele pente!

Enquanto ela arrumava meus cabelos eu limpava meu rosto e me maquiava.

A única coisa que gosto em me arrumar para algum evento é a maquiagem, pois para mim maquiagem é uma arte! Sinto que posso me expressar através dela!

Passou se algumas horas e eu já estava pronta

-Posso pegar um de seus vestidos?- diz a ruiva do outro lado do quarto em meu closet.

-Claro!

Vejo o vestido verde em suas mãos ao voltar e lembro que ele está pequeno em mim.

-Pode ficar- digo simplista e reparo em sua cara de espanto desnecessária.

-Como?

-Pode ficar, não cabe mais em mim e além do mais fica muito mais bonito em você!- coloco meus brincos cuidadosamente, pois sou mestra em perder o fechinho deles.

-Muito obrigada!- Dalilah me abraça apertado.

-Se arrume logo, não gosto de baile, você sabe- começamos a rir.

-Aproveita para ver alguns cavalheiros- e aquele sorriso novamente.

-Lila!- dou um tapinha em seu ombro e rimos mais alto.

-Vou descer, tchau- saio do quarto e aquele guarda que vimos hoje de manhã, Thomas, não estava mais lá, agora era outro homem. Até perguntaria seu nome, mas eu já estava muito atrasada.

Desço as escadas e a cada degrau que piso escuto a música clássica sendo, perfeitamente, tocada e o barulho de vozes aumentando.

Percorro o salão de entrada e vou ao salão de baile, dois guardas estão ao lado da porta, nem piscam! Não sei como conseguem ficar tão quietos.

Avisto meu pai do outro lado do salão conversando com um casal, pela coroa devem ser o Rei e a Rainha, um jovem loiro se aproxima deles e suponho que seja o príncipe também pela coroa.

Passo pelas pessoas as cumprimentando, mas tentando evitar conversas, eu já estava atrasada o suficiente.

-Boa noite, perdão pelo atraso- meu pai se vira e me encara com aquela feição de que sabe o porque eu me atrasei.

Meu pai não gosta quando eu vou cavalgar fora dos limites do reino. A floresta não estava fora dos limites, mas estava quase.

-Boa noite minha filha, estes são Rei Arthur III, Rainha Edith e Príncipe Arthur II de Tonkzer.- meu pai volta sua atenção para os convidados e sorri -Esta é minha filha, Princesa Amelie Victoria.

Faço uma reverência puxando levemente a saia do meu vestido para não correr risco de uma queda repentina.

-Muito prazer- ofereço meu melhor sorriso para a família.

-Que bela moça- diz a Rainha com um sorriso em seu rosto.

-Muito obrigada- sorrio mais e sinto minhas maçãs do rosto queimarem.

Sou acostumada a receber elogios, mas nunca soube lidar com eles.

-Filha, porque você e o Príncipe não vão conversar um pouco?- entendo imediatamente que ele precisava falar sobre algo importante o suficiente para eu não saber, então apenas me retiro do local e vou para o outro lado do salão, onde ficava a mesa de bebidas.

-Gostei da coroa- diz o Príncipe ao pegar uma bebida vermelha que, aparentemente, deve ser gim de amora.

-idem- dou um gole na minha bebida. Era verdade, a coroa que ficava em sua cabeça era realmente muito bonita e as pedrarias acentuavam o tom de azul de seus olhos- Então Príncipe Arthur...

-Apenas Arthur, por favor- me lança um sorriso com seus dentes perfeitamente alinhados e brancos- já há muitas pessoas me chamando de Príncipe.

-entendo- nós rimos.

Apenas quem quem é da realeza consegue saber o peso de que é carregar um título, e como pode ser cansativo e desgastante tê-lo.

-Então, Arthur- ao dizer isso ele sorri novamente- quais são seus hobbies? O que gosta de fazer no seu tempo livre?- tento fugir da minha curiosidade constante, ainda bem que sou boa em conversar, meu irmão sempre dizia que eu falava muito. 

-Gosto de navegar, explorar ilhas e mares desconhecidos- era perceptível o brilho em seu olhar quando falava sobre seus interesses, como se ele fosso apaixonado por isso. Aquilo era encantador! 

A paixão para mim sempre foi algo muito inconsistente... Há pessoas que se apaixonam por outras pessoas, também há pessoas que se apaixonam por coisas ou por hobbies... Não sei ao certo o que é paixão, quando meus pais se olhavam daquele jeito... Acredito que aquilo seja paixão. Não conseguir viver sem tal coisa, não conseguir imaginar o mundo sem aquilo... Acho que isso seja essa tal de paixão. 

-Que interessante!- tento colocar a maior quantidade possível de verdade em minhas palavras, apesar de a única conversa que me interessa no momento é a que meu pai esta tendo com o Rei e a Rainha.

-E você, Amelie?- Arthur da mais um gole em sua bebida a acabando.

-Hm... Acho que cavalgar e arco e flecha- olho discretamente para o local onde meu pai estava conversando e não o vejo lá, deve ter ido para seu escritório.

Preciso tirar isso de meus pensamentos agora!

-fascinante!- sua feição de espanto é notável.

-Fascinante? Porque?

-Não é normal Princesas gostarem deste tipo de passa tempo...- confesso que aquela frase me deixou bem incomodada.

-Porque não seria normal? É normal, só não é comum. Pelo meu ponto de vista isto é perfeitamente normal, ora, se os cavalheiros podem e todos acham normal, porque não é normal para as damas?- tentei manter a calma e falar simplista.

Ele passou um tempo em silêncio, acredito que procurando a palavra certa para dizer e falou -está certa- Apenas isso.


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