Chantagem - CAPÍTULO 1

8 0 0
                                    


  Em pé, Pálida bateu com destreza a mão na mesa e falou pro homem braçudo sentado nela:


  —Quero ver tu repetir o que tu falou NA MINHA FRENTE!


  Todos do bar pararam o que estavam fazendo: o pianista cessou sua melodia com uma nota terrível; o barman colocou a mão esquerda mais perto da Winchester do balcão; os mercenários fizeram ventania com seus sobretudos; e os bêbados tomaram um golão para não perder o que estava prestes a acontecer: incitado, o brutamontes que Pálida ameaçou fincou seus punhos na mesa — quase rachando a madeira — e levantou-se para olhar a índia bem nos olhos dela.


  —POIS REPITO E TRIPLICO! — Esbravejou como resposta.


  Levou poucos segundos para ele ver aquele sorriso faceiro e o chapéu de aba longa e reconhecer a moça... nisso o homem gritou de felicidade e exclamou, de empolgado: "ENTÃO VOCÊ VEIO!" e Pálida deu o grito junto com ele, seguindo com uma risada esperta e jovial. Lentamente todos do lugar sentaram-se novamente, irritadiços e muito fulos da cara com eles.


  —É... eu acho que vim, Marcos... — Pálida reafirmou ainda rindo da situação, embora estivesse um pouco nervosa com a reação de todos. — E você já está com "aquele negócio" aí contigo? Vamos ver?


  —Opa, opa!... — Marcos reclamou. — Calma, menina, você acabou de chegar! Pega uma cadeira, que eu pedi um porquinho pra mim... pra nós, no caso.


  —Nossa!... eu deveria ficar mesmo, só pra evitar tuas dores de barriga! — Riram mais. Mas a verdade é que Pálida só comeria porco se naquele deserto só restasse porco. — É que... hoje já está bem escuro, e eu ainda tenho umas coisas pra fazer na cidade, então...


  Chateado, o Marcos imitou uma cara de convencido e mostrou as mãos para a índia.


  —Não, tá bem, tudo certo, você tem negócios mais interessantes pra fazer, me desculpe... — Ele atuou bem. — Se um porco assado não te convence, não tem nada que eu possa fazer, não é?


  —Aaaaai... não fala assim. Eu GOSTO das nossas conversas.


  —Você só vem aqui pra falar de problema, menina, como é que tu "GOSTA" das nossas conversas?


  Ele disse rindo, claramente fazendo uma piada que ela perceberia... mas Pálida levou ao pé da letra, afinal, se a piada foi feita, ela foi pensada. Marcos não criou a distância entre os dois — aquilo era real: eles nunca se conheceram de fato... tinham muita vontade de se conhecer, mas o caminho até isso era chato de percorrer. Fazia um bom tempo que nenhum dos dois se atrevia a alguma coisa, então esse assunto estava praticamente encerrado... embora os dois ainda se sentissem sós por dentro.


  Dois homens bêbados entraram no bar, com os revólveres à mão. Começaram a gritar e a dançar pelas mesas, até encontrarem a mesa ideal. O barman não queria atendê-los já tão bêbados e loucos. "Matt, dê um jeito naqueles sujeitos. Não peça ajuda. Veja, eles estão caindo duros de cachaça!" O barman pediu, e o filho Matt prontamente desarmou os caras com cuidado e sutileza, os arrastando para fora em seguida.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Dec 16, 2020 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Pele VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora