Capítulo 20

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POV. Draco







— Lógico que não, você não pode virar isso tudo de uma vez!—

— Eu posso, eu quero e eu vou. Veja só querida Ali. — Dominique virou pelo que parecia o décimo terceiro xote, bem, era assim que o chamava se não levasse em conta que o que era para ser um copo minúsculo, parecia mais uma jarra de tão grande. O mesmo franziu o cenho em uma reação azeda enquanto Alissa ria dos limites que Dominique parecia não conhecer fazendo-me pensar em tudo nos últimos dias. Não era novidade que havia fugido de toda aquela ladainha sem sentido, eu não devia satisfações a ninguém e não deveria me sentir mal por isso.

Não deveria.

Mas porra como eu estava.

Prometi a mim mesmo que não me forçaria a lembrar daquela noite, não queria relembrar o que aconteceu, não queria saber motivos de mini ataques de ansiedade com um misto de indignação. Eu não queria me submeter a mais confusões, já estava sobrecarregado e eu sabia que se continuasse ao encalço desse dois, se disponibilizariam a manter-me bem longe dali, a simplesmente esquecer as coisas e evitar ao máximo pensar.

Passava o máximo dos dias fora, e quando não o fazia, Alissa me ajudava com pequenos "calmantes", não sou idiota, sabia o que era aquilo tudo.

E por Merlin, mesmo assim não queria estar em outro lugar, ou até quisesse.

Mas tudo seria tão horrivelmente torturante e desgastante quando se trata de mim, que viver uma vida completamente nova, era mais reconfortante que voltar ao já tão bem conhecido passado.

Me sentia vivo quando não estava em mim mesmo, me sentia leve, meus pensamentos não trabalhavam tão bem e isso me permitia esquecer todos aqueles sentimentos cruciantes, o mundo parecia menos pesado e as pessoas menos escrotas. Tudo era tão brilhante e colorido, ficava fascinado com tudo que me privei de conhecer por tanto tempo.

Mas ai a realidade sempre volta, e o preço a pagar por aquelas pequenas doses de felicidade, era dor, as vezes física, mas muito mais psicológica. Meu corpo e minha mente pareciam se rejeitar, não confabulavam juntos e eu estava cada vez mais longe.

Mas eu não queria voltar, não queria ter que abrir mão de todo aquele mundo se significasse ter que lidar com a realidade. E ela estava bem ali a minha frente, de rosto inchado, olhos vermelhos e profundos emoldurados por óculos redondos.

Harry Potter parecia mais horrível do que a muitos anos já o havia visto. Mas como se não bastasse a pontada de preocupação que havia sentido, ao ver seus olhos tão rentes aos meus naquela sala, um choque pareceu correr meu corpo por inteiro e minha mente antes em branco, estalou com um turbilhão de lembranças.

Meu próprio corpo começou a tremer sozinho, minhas mãos se fecharam e eu não sabia o que estava acontecendo. Cada lembrança me acertou como um soco no meio da cara, cada palavra, cada ação, cada pessoa naquela noite.

Então meus olhos arregalados pairaram a volta parando nos de Blaise que também olhava-me, mas com um misto de preocupação com tristeza. Encarei o corredor que dava para os quartos lembrando-me de Pansy, ai tudo acabou de se explodir quando senti o toque em meu ombro, eu sabia que era Blaise. Tirei sua mão o mais rápido que podia sem me virar para o mesmo.

— D-draco, eu..—

— Nunca mais toque em mim.—

O interrompi, minhas palavras poderiam ter sido redirecionadas apenas para o mesmo, mas a forma que não havia me virado e continuava a encara Potter com o olhar mais frio que tinha, dei de ombros saindo daquele apartamento, deixando a entender que a intimação se estendia a Potter também.

Faces de um só. (Drarry)Onde histórias criam vida. Descubra agora