Já parou pra pensar o quanto nós temos que manter a calma antes de fazer uma besteira? Faça as contas mentalmente se isso já aconteceu com você: você simplesmente tem que contar até dez pra não ofender uma pessoa? Você revira os olhos com a força do ódio? Já se estressou dentro do transporte público com aquele cara que simplesmente entra com a mochila nas costas e leva todo mundo consigo, só pela preguiça que ele teve de tirar aquela merda pesada, feita de tecido, antes de passar pela catraca? Ou simplesmente quis empurrar uma pessoa num corredor de um shopping, só por que ela não estava andando com a mesma velocidade que a sua? Se você contou essas situações mentalmente e se identificou, saiba que você está a um passo de surtar como eu surtei.Imagine um quarto, dentro de um apartamento da cohab, no interior do estado de São Paulo, que ficou revirado. Todos os seus livros foram pro chão. Todas as roupas que estavam dobradas foram arremessadas para a cozinha. Seus CDs, dvds, jogos de vídeo game viraram freesbees enquanto você atirava-os pela sala. E tudo isso enquanto você gritava histericamente, descontando a sua raiva do mundo. O peso que estava em seus ombros se dissipando a cada grito, a cada lágrima que começa a formigar em seu rosto. A cada soluço vindo do fundo do peito, que queima os pulmões, e te deixa sem fôlego. E quanto mais você se debulha em lágrimas, mais você tem vontade de chorar. A cada vez que você respira fundo e tenta parar e diz "chega! Já deu!", você chora o dobro. O triplo. Imaginou? Agora imagine um jovem de vinte e cinco anos recém completos, que após surtar, quebrar quase todo o quarto, parou em frente ao espelho com os olhos inchados, soluçando, balbuciando palavras que provavelmente poderiam ter invocado um demônio de tão impronunciáveis que eram? Bem, se você imaginou a Britney Spears em 2007, parabéns, você acertou. Esse sou eu. A única diferença é que eu não possuo o dinheiro que ela tem na conta bancária. Pra você entender o por que eu fiz isso, o porque eu estou assim e o porquê minha casa está parecendo um quadro de reforma da GNT, é necessário voltar um pouco no tempo e se você não estiver com pressa, posso te contar que não sou esse João que eu me tornei.
Antes que você me chame de doido varrido, eu juro para você que está lendo isso que eu nunca pensei que eu fosse surtar. Eu achei que isso não aconteceria comigo, até por que sempre achei que a minha saúde mental era algo que estava controlada e intacta. Acredite, se você pensa assim, é por que sua mente pode ruir a qualquer momento. E quando eu falo ruir, é quebrar mesmo. Em vários pedacinhos pequenos a ponto de não ter como restaurar nada, tipo um vaso. Ha, é engraçado falar isso por que aos nove anos eu quebrei um vaso que ficava no quintal da minha avó, Maria, e fiquei bem quietinho achando que ela não tinha visto. Mas ela viu. Foram duas horas de sermão da montanha, puxando a minha orelha e dizendo "era o meu vaso favorito!". Felizmente a plantinha que estava nela não morreu e a minha mãe deu um vaso novo de presente para minha avó, que aceitou de bom grado, mas com uma condição: eu não podia chegar perto dele nunca mais em toda a minha vida. E assim foi feito. Nunca mais cheguei perto do vaso que a minha mãe deu para a minha avó e eu quase apanhei aquele dia.
Focando no assunto principal, minha vida começou essa montanha russa de satanás quando eu fui mandado embora do emprego que eu pensei que fosse do sonhos. É, eu sei. Nenhum emprego é o emprego dos sonhos quando se é um adulto de vinte e quatro anos e que nunca teve uma responsabilidade forte na vida. Eu gastei nesses três anos o equivalente a cem mil reais. Muita grana né? O fato é que, fui mandado embora de um lugar que já detestava trabalhar, por falar o que eu pensava.
Sempre fui assim um tanto quanto (como posso dizer) sincero demais. Meus amigos, que são poucos na verdade, falam que pedir conselhos para mim é brincar com a sorte. Com o perigo. Chamam de "sincericidio". Eu particularmente não ligo. O problema é quando você precisa se conter. Quando te castram emocionalmente e mentalmente dizendo. Você não pode fazer nada. Você não pode falar, agir, pensar e mover diferente. Você precisa ser uma máquina. E neste emprego, você precisaria ser um número. Pra esses tipos de empresas, todos os funcionários sãos números. Se você faz algo de diferente, você é derrubado. Derrubam você, puxam seu tapete. O que é horrível, por que estávamos passando por uma crise de desemprego terrível. Estávamos entrando nos períodos eleitorais e havíamos uma sombra de que seria o governo feito pelo palhaço que foi eleito (digo e repito: não por mim!).
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Desculpe o Surto
RomanceTodo mundo já teve aquele momento da vida em que tudo acontece. Não seria diferente com João Victor. Sua única diferença dos outros: em momentos de grande estresse, sua memoria apaga completamente, ficando apenas os resultados de seu comportamento...