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Acordei com o celular tocando as sete e cinquenta da manhã. Eu não tinha a menor ideia de como teria ido parar na cama. Provavelmente eu devo ter adormecido no sofá e a minha mãe me acordou quando chegou do plantão e eu fui me arrastando para ela. Boa pergunta: que horas a minha mãe chegou do plantão? Eu havia esquecido o quanto o meu colchão era confortável. Tinha feito muito tempo que eu não ficava em casa. Após o quarto toque eu atendi o inconveniente que me despertava das minhas férias forçadas.

- Oi! João? – disse a voz feminina – é a Jéssica aqui do recursos humanos do BF, tudo bom?

- O que você acha? – respondi com a voz sonolenta. Duas coisas que eu odeio na vida: ser acordado ou ser acordado.

- Desculpe – disse a pobre com a voz melancólica – é só pra te falar que, apesar da correria e do escândalo que você deu ontem dentro do instituto, o Flavio decidiu que não vai tirar os seus direitos e decidiu, de bom grado – respirou fundo – pagar todos os valores que você merece. Desde férias até o seu último salário.

            Levantei em um salto da cama

- Ah, que bom – disse sem jeito – desculpa o jeito que eu falei, é que eu acabei de acordar. Acho que passei um pouco do limite no vinho ontem. Sabe como é, né?

- Não sei - disse Jéssica em um tom sério – eu não participo das coisas do mundo. Minha religião não permite.

            Fiquei esperando as risadas e a parte do brincadeira, mas ela não veio.

- Entendi – disse totalmente sem graça.

- Enfim, se você puder aguardar, dentro de dois dias será feito o pagamento de uma parte dos seus valores e depois você poderá ir atrás de seus seguros e afins.

- Tranquilo – disse animado – eu vou aguardar.

- Que bom que você está tranquilo – disse Jéssica – ficamos com medo de você ontem. Na verdade ainda estamos. Até.

            Nem tive tempo de agradecer a ligação. O que mais me espantava era saber que todos da empresa estavam assustados comigo. Eu devo ter gritado aos quatro ventos o quanto eu odiava aquele babaca com o aeroporto de mosquito na cabeça. O que me deixava feliz era que eu ia receber um bom dinheiro por ter trabalhado todos esses anos e sem férias. Isso já me dava um animo de começar a ver as coisas por um lado positivo. Como diria o velho ditado, "Vão se os anéis, ficam-se os dedos". Aproveitei que havia acordado e sai da cama aos tropeços. Finalmente eu poderia curtir o dia como eu sempre quis. Fazendo absolutamente nada. Minha mãe não havia acordado ainda, então aproveitei para fazer um café decente para nós. Faz muito tempo que eu não aproveitava um dia todo de sol, então eu precisava comemorar de alguma forma. Enquanto o café era passado, deitei na cama e voltei a mexer no celular. Havia algumas mensagens no grupo do gayteto, havia uma mensagem da minha irmã mandando alguma coisa referente a Lady Gaga e uma mensagem de Rafael.

Bom dia, gatão!

            O mundo estava normal mesmo ou eu quem estava vendo tudo diferente? Há muito tempo o Rafael não me chamava de gatão. As vezes rolava um Jão, as vezes rolava um Amor, mas gatão era algo inusitado. Ele me chamava assim nos primeiros meses de namoro. Sinceramente eu tinha um certo medo quando as pessoas me tratavam bem demais. A esmola que o santo desconfia. E eu sempre fui muito esperto, rato velho de bueiro. Essa mensagem já disparou a voz interior que habita meu corpo. Poderia ser apenas uma mensagem boba. De qualquer maneira, eu teria que pagar para ver.

Bom dia, amor!

J

            Minha mãe levantou basicamente atrasada para o serviço. Tomei o café assim que ficou pronto e eu voltei para a cama e acabei adormecendo. Acordei com ela sentada do meu lado na cama. O cabelo trançado estava preso com uma faixa colorida em um tom amarelo forte e com estampas étnicas. Ficava bom nela. E era estranho vê-la sem pijamas ou sem a roupa branca padrão de enfermagem. Ela estava com cheiro de alecrim

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⏰ Última atualização: Dec 17, 2020 ⏰

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