Ninguém se compara a você...

October 12

Eu juro que tentei, achei que entenderia você por completo antes de tudo desabar.

Não consigo tirar da minha mente a cena de seu rosto próximo ao meu naquele 12 de outubro, aquele dia foi um dos melhores de toda minha vida.

Se você estivesse aqui, eu mudaria tudo.

Eu faria o que eu não tive coragem de fazer naquele dia.

Em 12 de outubro, você me fez o convite de ir para casa de sua família, nós ainda não tínhamos nenhuma relação, além de amizade.

Você usou a desculpa de que teria que suportar a chatice de sua família e queria dividir ela comigo, durante um dia que duraria para você, horas.

Você queria minha ajuda para suportar tudo, naquele dia você conseguiu porque eu estava lá.

E quando você me deu sinais de que estava me deixando eu não percebi.

Você estava morrendo.

E eu não entendi.

Não mereço seu perdão.

Eu te ajudei a suportar uma vez, mas na segunda, eu falhei com você.

E não consigo seguir em frente, sabendo que eu poderia ter entendido seus sinais.

Em um momento de sufoco você não quis mais ficar naquele ambiente, onde só havia nós dois e sua família.

O sol batia com força para dentro da casa, tudo estava laranja e quente, as cortinas eram empurradas pelo vento contra a janela me assustando a cada batida forte contra o vidro.

Segurou minha mão me lavando para fora, nós saímos correndo da sala apenas deixando lá seus parentes e o biscoito de chocolate, no qual você deu apenas uma mordida antes de me guiar para fora.

Já estava perto da hora de escurecer e isso me deixou um pouco receoso, porque onde nós estávamos só havia grama, matos altos e árvores.

Você ainda segurava minha mão e aquilo me fazia sentir que não importava o lugar onde nós estivéssemos, com você, qualquer lugar seria minha casa.

Nós caminhavámos sobre a grama verde, e o sol tocava a pele clara e avermelhada do seu corpo, seus cabelos voavam sobre seu rosto, que a cada momento era tocado por sua mão, retirando os fios que atrapalhavam sua visão.

Em 12 de outubro eu percebi o quanto te amava, percebi que era com você que eu queria viver a minha vida toda.

Você soltou minha mão, virou seu rosto para meu em meio ao vento, que fez seus cabelos voarem para a direção oposta, nós estávamos a 8 passos de distância.

Você sorria para mim de uma forma que eu nem conseguiria explicar, estávamos em sintonia e eu sentia que a qualquer momento, perderia totalmente meu coração para você.

E nem ao menos percebi que você já tinha levado ele.

O pôr do sol iluminou seu corpo e aquela é a visão que eu nunca mais terei, nunca mais tocarei suas mãos e nunca mais verei seu rosto perfeito em um dia imperfeito.

Mas... Você tornou aquele dia perfeito.

Fez o que eu não tive coragem de fazer, eu sempre fui fraco.

E você me deixou vulnerável.

Tomou minhas mãos naquele momento e entrelaçou as suas com as minhas, a sensação que me levou ao céu.

Por um instante, você se aproximou de mim e tocou meus lábios da forma mais sensível possível.

Você me beijou, fez com que eu tivesse a certeza de que nunca me deixaria ir.

E eu não pude impedir sua ida.

Eu não pude impedir você de tirar sua própria vida e agora não consigo mais ver o pôr do sol.

O toque dos seus lábios nunca poderá se comparar ao de ninguém.

Você se foi no dia 19 de julho, mas o gosto do seu beijo ainda tinha o sabor daquele biscoito de chocolate feito por sua mãe em 12 de outubro.

Se nós estivéssemos agora naquele dia, eu te beijaria antes mesmo de você soltar minha mão.

Mas eu não tive coragem, não enfrentei meus medos, então você fez isso por mim.

Quando deixou meus lábios e olhou nos meus olhos, me fez viajar com apenas um toque.

Eu nunca mais verei você.

Muitos dias parecidos com aquele aconteceram desde que você se foi, mas eu não consigo assistir o pôr do sol sem você.

Mais uma vez eu não consigo enfrentar meus medos sozinho, não consigo fazer algo que você fazia tão facilmente por mim.

Eu não tenho mais você aqui e meus medos vão me matar.

Eu prometi a você que não largaria sua mão no dia em que você me beijou.

Mas você fez isso, você largou minha mão.

Você me deixou, você soltou a minha e você que antes efrentava meus medos, se tornou o pior deles.

Eu não tenho coragem de tocar em nada seu que ficou aqui, não consigo olhar para nada.

Tudo ainda está igual desde 19 de julho.

Em alguns momentos eu apenas imagino você entrando por essa porta novamente, mas você não vai mais entrar.

Sua xícara preferida ainda está sobre a mesa e suas roupas continuam no cabide.

Por mais que eu tente tirá-las, o seu perfume me fez cair novamente.

12 de outubro, nos beijamos pela primeira vez em meio ao sol e vento, dia e noite.

Eu preciso ver seu rosto com a luz do sol novamente, mas eu nunca mais poderei ver.

Eu sinto muito.

Sinto muito por não ter te ajudado a suportar seus medos, por não te entender quando você precisou disso.

Você fez tudo desabar e agora não estamos em 12 de Outubro.

Se eu soubesse que teríamos apenas pouco tempo juntos, eu teria feito aquele dia durar para sempre.

Mas agora, apenas eu estou aqui.

Estou me desfazendo por você.

Você me fez conhecer o que era amar.

Não fui nada antes você, e sem você eu voltei a ser nada.

Voltei a sentir aquele vazio que você arrancou de mim em uma simples troca de olhares.

Voltei a me sentir totalmente incompleto.

Eu vou estar aqui, vou esperar por você.

Sei que nunca encontrarei ninguém como você.

Ninguém nunca chegará aos seus pés.

Ninguém nunca terá o mesmo sabor de seus lábios, os que você me fez viciar.

Ninguém nunca poderá parecer com você como naquele 12 de outubro.

Nenhuma pele ficará tão bem ao ser tocada pelo sol como a sua.

Nós estamos na minha memória agora, e só nela eu posso ver seu rosto novamente.

Só nela eu tenho você por mais alguns segundos, só nela eu me sinto completo novamente.

Naquele dia, assim como para sempre, eu tenho a certeza de que ninguém se compara a você.