Capítulo Três

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E ESTÁ TUDO BEM EM DESCOBRIR NOVOS SENTIMENTOS

Mesmo depois de semanas, com os gatos já comendo ração e tendo a necessidade de serem supervisionados só uma ou duas vezes por dia, Max e Jane ainda se encontravam todos os dias nos mesmos horários. Elas sabiam que aquele compromisso de se verem todos os dias era muito mais do que só por causa dos gatinhos, era por uma a outra.

Michael não apareceu mais lá, mas Max desejava que a hora dele ir embora chegasse logo, mesmo que isso significasse que as férias de verão estavam pra acabar.

— Esse aqui foi um desenho que eu fiz do carro do meu pai — Eleanor mostrou.

Deitadas no chão gramado, as meninas tomavam café da manhã juntas e conversavam. Eleanor estava debruçada no chão, enquanto Max estava de barriga pra cima, prestando muita atenção em tudo que a menina falava.

— Ele era um policial?
— Era. Bom, ele ainda é, — ela mordiscou um pedaço da maçã — mas agora trabalha em Nova Iorque. Na verdade, ele mora lá, porque vir aqui sempre ia gastar muito tempo.
— E por que vocês não se mudaram pra lá?
— É complicado, não sei. A gente daqui de casa prefere a vida daqui no interior, é mais calma e é o melhor pra mim e pro meu irmão, enquanto meu pai prefere o agito da cidade grande. Enfim, tem esse desenho aqui também — Eleanor mudou de página.

O desenho tinha o formato e estilo de um gibi, dividido por 4 quadradinhos diferentes: No primeiro era a Max sentada na grama, no segundo ela dirigindo, no terceiro ela dando leite pros gatos e no quarto ela e Eleanor com um dos gatinhos no colo. No desenho, Max parecia ter acabado de sair dos hqs da Marvel.

— Oh, Eleanor. Muito obrigado, — pela primeira vez, as amigas se abraçaram — ficou incrível.

Max se afastou do abraço e segurou o rosto de Jane com as duas mãos. O sol beijava a pele da garota, ela parecia ter acabado sair de uma revista.

Max desejou que a distância entre as duas fosse quebrada. Ela se aproximou e a respiração das duas já se misturavam, Eleanor estava ofegante e o coração de Max batia mais rápido do que o de costume.

— Max? — uma voz masculina fez com que elas se separassem.
— Billy.
— Mamãe tá chamando você pra ajudar a gente no almoço, vem. Oi, Eleanor.

Eleanor estava muito nervosa e envergonhada, as palavras se prenderam na garganta dela e ela pensou que não conseguiria emitir som algum. Balbuciando, ela respondeu:

— Oi, Billy.
— Hum... El, eu vou ter que ir, tá bom? — ela se levantou — A gente se vê mais tarde, pra cuidar dos gatos.
— Tá bom, eu também já vou.

Depois que eles saíram de lá, Eleanor se levantou e ficou sentada no chão, encarando a grama.

Com a mão na boca, ela nem conseguia acreditar no que quase tinha feito. Não tinha arrependimento, mas sempre ouviu dizer que aquilo era pecado.

Ela começou a chorar.

E se Billy batesse na Max? E se Billy contasse o que viu pra Susan? E se Mike descobrisse?

Eleanor não gostava de ver TV ou ler jornais, mas havia visto que pessoas com atos homoafetivos eram mortas nas ruas e viu também que era considerado um distúrbio mental.

Ela se recompôs (ou pelo menos tentou), limpou o rosto e se levantou. Tentou se convencer de que Billy não tinha visto nada, que o que quase aconteceu com Max havia sido um erro e que tudo ia dar certo. Ela saiu de lá antes que alguém da casa dela viesse a procurar.

— Você viu o que quase aconteceu lá? — Max contou pra Billy rindo, com a mão na boca.

Billy deu um cutucão na irmã.

— Mal chegou aqui e já tá pegando todas — Billy riu.
— Eu tô feliz por você, Max. De verdade. — ele continuou, agora mais sério — E está tudo bem em descobrir novos sentimentos, mas você precisa ser cuidadosa. A nossa existência é considerada crime e pecado, você sabe disso.

Billy a abraçou.

— Mas toma cuidado, por favor. E cuidado com aquele magrelo que namora ela.

Eles riram.

— Do que vocês estão rindo? — Susan falou ao ver os filhos entrarem em casa — Aqui, seus aventais.
— Nada, mãe — Billy falou, ainda rindo — É só a Max. Ela tropeçou numa pedra.

Susan arregalou os olhos.

— Mas tá tudo bem. Tá, no que você precisa de ajuda?

Billy e Max decidiram não contar o que era, pelo menos não por agora. Eles reconheciam o esforço que a mãe havia feito para enfrentar o ex-marido e aceitar o filho do jeito que era quando a situação foi o Billy. Eles não queriam ocupar a cabeça dela de novo com isso.

Mais tarde no mesmo dia, Max tomou um banho e se preparou pra ir encontrar Eleanor. Ela não costumava tomar banho antes de ir pra lá, preferia tomar quando voltava, mas a ocasião era especial.

— Até logo, mãe. — ela jogou um beijo no ar e saiu de casa.

Max esperou cinco, dez, quinze, vinte ou até trinta minutos, mas Eleanor não apareceu.

Max levava os potinhos e El levava a ração, então não tinha como ela cuidar dos gatos sem ela.

Será que ela esqueceu? Ou decidiu não vir de propósito?, pensou.

Ela chegou na conclusão que ela devia ter se esquecido, então era melhor que ela fosse até a casa de Eleanor pra buscá-la.

Depois de algumas batidas na porta, um menino que usava shorts curtinhos e uma camisa listrada abriu a porta. Ele também tinha o cabelo igual ao de Michael.

— Oi, você é o irmão da Eleanor, né?
— Aham. Will — ele estendeu a mão e ela apertou.
— Ah sim. Eu sou a Max. Será que eu poderia falar com a sua irmã? É importante — ela sorriu, nervosa.
— Só um minutinho — ele fechou a porta.

Max conseguiu ouvir ele gritando o nome da irmã e ela descendo as escadas correndo.

— Oi. — Eleanor abriu a porta.
— Oi. — ela sorriu— Você esqueceu?
— Eu esqueci completamente, me desculpa.

Ela não havia esquecido. Ela nem sequer pretendia ir porque estava com muita vergonha do que havia acontecido de manhã.

— Tudo bem, vamos — Max estendeu a mão.

Um silêncio ensurdecedor se formou. Elas sabiam no que elas estavam pensando, mas estavam com vergonha de falar.

— Olha, sobre hoje de manhã... — Max decidiu falar.
— Eu acho que foi um erro, Max.

Aquelas palavras atingiram Max como um soco. Ela tentou não transparecer que aquilo havia a deixado triste.

— É, claro! Eu ia falar isso. Foi um erro.
— É... A gente só foi pelo momento, nada demais.
— Com certeza. Mas então tá tudo bem entre a gente?
— Claro. — Jane sorriu.

Eleanor sabia que lá no fundo tudo o que ela mais queria era que Billy não tivesse aparecido lá e que elas usassem aquele pico de coragem. Ela sabia que tinha um namorado e fazer aquilo com ele era errado, mas também não seria fácil simplesmente chegar e falar que queria terminar porque estava a fim de ter um romance com a vizinha.

As duas estavam mentindo, e elas sabiam disso.

visions of you - elmaxOnde histórias criam vida. Descubra agora