A Mulher, O Livro e Um Dia Quase Normal

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 A chuva era pesada, trovoadas e raios faziam com que mal desse para ouvir ou ver algo além da água caindo para todos os lados causando enchentes em alguns pontos da cidade e as fortes gotas que caiam sobre o terno de Warmly o deixava ensopado e com o corpo pesado demais para caminhar rápido, ele não tinha escolha a não ser se aproximar da porta da primeira casa que apareceu na sua frente e tocar a campainha. Ainda não era madrugada mas ainda assim o horário tarde o deixava receoso que ninguém fosse o atender. Na primeira vez que seus dedos molhados tocaram a campainha pareceu não haver nenhum tipo de movimentação dentro da casa, na segunda vez viu pela janela uma luz acender indicando que alguém havia acordado, esperou pacientemente enquanto a tempestade ainda o deixava encharcado. A porta então finalmente se abriu e um homem de aparência jovial utilizando roupas de dormir o atendeu e o olhou de cima a baixo o julgando.

— Eu posso entrar? Só até a chuva passar, é que não tem mais nenhum lugar por aqui que eu possa me abrigar e... - Warmly disse tentando se justificar antes de receber um não como resposta.

O homem não proferiu uma palavra, apenas gesticulou com a cabeça indicando para que Warmly entrasse, talvez o sono não tenha ajudado a pensar melhor antes de deixar um estranho entrar em sua casa.

— Não se preocupe, assim que parar de chover eu irei embora. Aliás, qual seu nome? - disse Warmly.

— Henry. - respondeu ele sem dar mais detalhes ou mostrar algum interesse.

Henry voltou para sua cama para poder dormir em paz sem se importar ou notar que Warmly estava molhando seu carpete com aquela roupa encharcada. Após ter certeza que Henry havia dormido e não se incomodou com sua presença, Warmly correu em direção ao banheiro da casa e rapidamente tirou todo seu terno ficando vestido apenas com sua cueca, revirou toda a roupa que havia tirado até que achou o que procurava, um livro. Ele sentou no chão desabando aliviado pois o livro ainda estava com ele e não havia sofrido nenhum tipo de estrago causado pela chuva. Aquele era um livro grosso de certo com mais de mil páginas com a capa inteiramente preta sem nenhum tipo de arte ou sequer um título, quem olhasse de longe poderia até mesmo confundir aquilo com uma bíblia. Warmly abriu o livro e folheou até uma página específica, quando encontrou arrancou a folha e simplesmente colocou em sua boca a mastigando e a engolindo, aquilo de alguma forma o fez se sentir melhor consigo mesmo e renovado.

— Não posso perder mais almas... - Warmly sussurrou consigo mesmo.

***

Quando amanheceu, Henry acordou e se levantou indo em direção a cozinha para preparar o seu café da manhã antes de ir trabalhar, olhou pela janela do seu quarto e viu que a chuva havia passado mas as coisas na rua ainda seguiam molhadas e acabou se lembrando do sujeito que havia entrado em sua casa ontem e notou que o sono havia feito ele não pensar direito antes de deixá-lo entrar. Seguiu em caminho a cozinha na esperança do homem ter ido embora. Quando chegou se surpreendeu, Warmly ainda estava ali fritando ovos para o café da manhã e ainda haviam dois pratos sobre a mesa indicando que estava preparando a refeição para os dois, para piorar as coisas Warmly ainda estava usando uma camisa branca com a logomarca de uma rede de restaurantes e uma calça jeans cinza que havai encontrado pela casa.

— Mas que merda você está fazendo? - perguntou Henry frustrado.

— Café da manhã. - respondeu Warmly colocando azeite na frigideira, os ovos fritos dele aparentemente tinham mais preparo do que o comum.

— Eu quero saber, que porra está fazendo com minhas roupas? E por que ainda não foi embora? - disse Henry se aproximando e desligando o fogão.

— Se você gosta de ter mãos, nunca, jamais, em hipótese alguma faça isso novamente. - disse Warmly irritado por ter sido interrompido.

— O trato era você ir embora quando parasse de chover, e olhe parou. - Henry disse abrindo a porta da cozinha o convidando a se retirar.

O Livro das AlmasOnde histórias criam vida. Descubra agora