O Homem do Terno Branco

Capítulo I

Minha mãe não é nada parecida comigo. Não temos o mesmo tom de pele, a mesma cor dos olhos e cabelos, nenhuma característica física marcante que nos identifique como parentes.

Nossa convivência também nunca foi das melhores, mas não posso reclamar muito. Eu sei que ela sempre fazia o melhor que conseguia. A culpa de todos os nossos conflitos sempre foi a bebida. Com o tempo ela perdeu a capacidade de enxergar os limites e foi se afundando cada vez mais. Era comum encontrá-la desmaiada de tanto beber. E ela bebia o dia inteiro, todos os dias. Claro que a situação foi piorando.

Um dia um vizinho fez uma denúncia anônima. Ela foi internada em uma clínica de reabilitação e eu tive que ir morar com o meu pai.

Nunca soube os reais motivos que fizeram com que ela largasse do meu pai.

Ela praticamente cruzou o país todo para fugir comigo quando eu ainda era muito novo para entender qualquer coisa. Todas as vezes que tentei entrar neste assunto ela mudava completamente a fisionomia e fugia de qualquer resposta. Sempre existiu essa lacuna do "a gente não deu mais certo", mas eu sabia que tinha algo a mais. Até o nome do meu pai era praticamente proibido de ser mencionado como se atraísse algo ruim.

Meu pai sempre foi um desconhecido e nunca fez questão de ter contato comigo. Sofri por muito tempo a ausência dele, até que em determinado momento desisti de saber sobre ele. Se ele não fazia questão do filho porque o filho deveria fazer questão do pai? Em termos práticos, acabou que não fez muita falta.

Imagina como foi lidar com tudo isso de uma vez.

Eu tinha acabado de fazer dezessete anos e ia para o último ano do ensino médio. Não era uma criança há tempos, mas não tinha a maturidade de um jovem adulto. Final de adolescência é complicado. Todos que passaram por ela entendem isso.

Eu era impulsivo e inconsequente como a maioria das pessoas da minha idade.