Capítulo II

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Até que o dia inevitável da mudança chegou.

Eu estava no aeroporto segurando firme a alça da minha mochila. Uma nova vida em um lugar desconhecido estava me aguardando. Eu só percebi o quanto era apegado a todas as minhas coisas quando percebi que tudo tinha desmoronado e desaparecido. Eu não ia ter mais a mesma casa, o mesmo colégio nem frequentar os lugares que estava acostumado. Não veria mais os meus amigos que conhecia desde que me percebo como gente. Estava começando do zero e estava morrendo de medo. Segurei muito para não chorar. Minha ficha ainda não tinha caído por completo. E eu só estava deixando me levar.

Senti uma fisgada ao olhar nos olhos da minha mãe. Ela não conseguia mais segurar as lágrimas. Tinha chegado o momento da despedida. Como eu podia deixar minha mãe para trás? Ela que apesar das falhas sempre cuidou de mim.

Ela ia conseguir se recuperar?

Ao lado dela estava um homem alto, calvo e de bigodes. Ela me disse que era um dos cuidadores da clínica que foi para acompanhá-la. Alguma coisa entre as linhas me fez acreditar que a relação dos dois era muito mais do que profissional. Minha mãe era ainda muito nova e os encantos e charmes da juventude ainda se refletem nela. E era uma eterna e constante namoradeira. Homens caíam do céu como chuva e corriam atrás dela que sempre se envolvia, mas nunca se apegava a ninguém. Ela nunca comentava essas coisas comigo, mas eu sabia perceber. O magrelo que fumava cigarro barato e usava óculos escuro em local fechado era o homem do momento. E como sempre eu não tinha ido com a cara dele.

— Eu não quero ir.

Sabia que não era momento para drama. Foi uma decisão que não partiu de mim nem dela e era o pior momento para dizer isso. Acabei tornando tudo mais doloroso.

— Prometo que é só uma fase meu filho. Logo estaremos juntos novamente. Eu te amo. Nunca se esqueça disso. É um momento difícil para nós, mas vai passar. Prometo que vai. Você precisa ser forte e se cuidar.

— Nós precisamos ser fortes. Vai ficar tudo bem.

— Diga ao seu pai que se ele não cuidar bem de você, vou atrás dele no inferno para quebrar todos os ossos dele.

— Vou dizer que você mandou lembranças.

— Prometo que vamos nos ver em breve. Eu sempre vou estar do seu lado quando precisar de mim. Vamos nos falar todos os dias e antes que você possa sentir saudades de estarmos juntos novamente.

Eu podia ver nos olhos dela o quanto ela queria acreditar naquilo e o quanto ela estava sofrendo com toda a situação.

— Não se preocupe comigo. Eu sei me virar. Como você disse é só uma fase e vai passar.

Ela me abraçou com muita força e começou a chorar ainda mais. Eu não conseguia dizer mais nada. Tudo estava sendo mais difícil do que eu esperava.

O momento chegou. Eu me despedi dela pela última vez.

— Te amo mãe.

— Te amo meu filho.

Só derramei algumas lágrimas quando já estava dentro do avião com o fone de ouvido no volume máximo.

O Homem do Terno BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora