Capítulo 01

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  Quem carrega consigo o sangue de um Domingues nunca teve uma infância normal. A minha, por exemplo, ao invés de passar horas brincando, se jogando no chão e comendo terra, eu aprendi a lutar. Hoje, com vinte e quatro anos, comando duas Máfias importantes para o mundo inteiro.
  Eu nunca quis isso para a minha vida, nunca pensei que um dia os meus talentos fossem servir de algo, já que sempre achei que o meu avô viveria tempo o suficiente para treinar um de seus outros netos (mesmo que todos sejam incompetentes).
  O meu lugar de origem, na verdade, é o Brasil. Vivia sendo treinada lá até os meus oito anos, e depois, tive que ir para o berço da família Domingues, já que carregava o seu sangue por conta da minha falecida mãe.
 
  Ninguém chorava em volta do caixão do meu avô, todos esperavam ansiosos a hora em que o velho ranzinza fosse logo para de baixo da terra.

  Logo após o seu enterro — o mesmo que demorou noventa e sete anos para acontecer — todos já estavam animados com a esperança de uma nova comandante, aquela que cuidaria dos dois países aliados. E a minha única empolgação era saber como o Brasil estava. Vivendo sempre dentro de casa ouvindo que um dia comandaria um país tão alegre, aguçou a minha vontade de voltad. E essa era a chance perfeita: ninguém pode mandar em mim, já que eu mando em todos.

***

  Ninguém queria acreditar. Eu, a nova comandante, largando o seu primeiro posto para assumir o segundo mais de perto (é assim que eles se referem aos negócios). Mas eu realmente estou indo, junto, é claro, de uma das minha melhores amigas.
  O plano era: visitar uma antiga amiga e ir para a minha antiga casa... na Rocinha, onde completei oito anos.

  Um homem alto aproximou-se do nosso carro assim que chegamos à comunidade, depois de passar horas em um avião.

— Vidros abaixados! — ordenou, tentando visualizar o que havia dentro do carro, não conseguindo, é claro, pelo vidro escuro.

— Temos ordens de cima, não retruca e deixa eles passarem! — um outro rapaz disse, com uma arma em seu pescoço.

  As ruas e os becos fizeram-me lembrar de como a minha infância foi, ao mesmo tempo, problemática e boa. Seguimos o nosso caminho diretamente para a casa da minha melhor amiga de infância: Andressa. Fizemos questão de nos mantermos em contato, seja  por chamadas de vídeos ou quando ela resolvia ir me visitar.

— Finalmente chegaram! — Um homem, bem arrumado e com uma arma na cintura nos atendeu. — Inês, certo?

— E você, quem é? — perguntei observando-o, intrigada.

— Pode me chamar de Chefe, é como todos me chamam!

— Então Chefe, é melhor começar a trabalhar em um nome novo, porque só quem pode chefiar aqui sou eu — eu disse com autoridade. Não gostei do seu tom.

  Ele me encarou, sorrindo como se me achasse uma tonta perdida.

— Andressa chega já, já — respondeu, dando espaco para que pudessemos entrar. E, sem aviso prévio, ele se encaminhou até a porta, aparentemente indo embora, sem que nos desse mais nenhuma explicação.

— Ele gostou de você — Maria disse sarcasticamente, se jogando no sofá.

— Acho que vamos nos dar bem...

♡♡♡♡

— Meninas? Até que enfim! — Andressa chegou à sala bem animada.

  Quando morava por aqui, não tinha muito contato com o irmão da minha amiga, o próprio, pelo o que eu entendia vivia fora de casa, sendo "treinado" para hoje estar a onde está.

(...)

— Estou indo à sala do seu irmão, preciso conversar com ele. — Digo me levantando.

— É só trabalho mesmo ou você caiu no charme do "Chefe"? — Duda ria da situação.

— Não sou você.

  Duda e Andressa se entreolharam e começaram a rir novamente.

  Quando finalmente subi até o escritório, sala, boca, ou sei lá como chamam, do "Chefe", ele estava aos beijos com uma garota que não pude descreve-la de imediato.

— Não tem mais educação? — Perguntou a mulher de cabelo cacheado, vestido e maquiagem.

  Respirei fundo e vi a minha paciência ir embora.

— Pode ir Jennifer, depois eu falo com você.

  Quando a garota saiu da sala, ordenei para que o "Chefe" saísse do seu lugar para eu poder sentar.

— Por que logo a Rocinha? — Perguntou impaciente.

— Vamos por partes, lembrando que quem faz as perguntas sou eu. — O vi revirar os olhos. — Respondendo a sua pergunta, a Rocinha fez parte da minha infância, e como sabe, sua irmã é umas das minhas melhores amigas.

— Hum.

— O que eu disse sobre o seu vulgo não era brincadeira, preciso saber o seu nome, ou você inventa outro...

— Eu acho que você está indo longe demais, quem comanda a Rocinha sou eu.

— Já imaginou o por que de você estar aí? — Endireitei-me na cadeira e o observei.

— E? Continua sendo minha.

— Por que eu deixei, então não venha testar autoridade pra cima de mim!

— Ok. — Um silêncio constrangedor se instalou assim que parei para obsersva-lo. — Só por isso que veio aqui? — Aproximou o seu rosto do meu.

— Por enquanto. — Respondi.

  Sai de sua sala tão depressa que acabei me esbarrando em alguém.

I'm From BrazilOnde histórias criam vida. Descubra agora