Me desculpe... : 26 de Dezembro de 1943

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          Eu devo ter enlouquecido diário, primeiramente por não saber por que eu insisto em continuar a escrever em você... já não faz mais sentido. O segundo motivo é pelo que aconteceu ontem, estamos ficando na casa de uma conhecida da Babka, ela se chama Ksenia e por algum motivo ela mesmo na atual situação ainda montou uma arvore de Natal. Mas o motivo pelo qual eu acho que estou maluca é pelo que vou contar a seguir:

          Já era madrugada do dia 25 e eu me levantei para beber água, Ksenia sempre deixa uma jarra no porão para nós, mas quando eu levantei escutei alguém andando sobre o piso de madeira, alguém estava na casa e era alguém diferente. Subi os degraus do porão até sair na cozinha e então olhei em volta, a única luz era as das velas que iluminavam as janelas... algum tipo de tradição de Ksenia. Achei que o som dos passos era loucura minha quando...

– O que faz acordada? – Perguntou uma voz baixa.

          Eu ia gritar, mas ele tapou a minha boca, sim "ele". Um rapaz branquelo com bochechas e nariz rosado tapou a minha boca, ele era bem incomum principalmente pelas orelhas pontudas e a roupa engraçada que usava.

– Por que vocês sempre gritam? – Perguntou ele. – Vou soltar você, mas não grite.

– Quem é você? – Eu perguntei baixo tentando evitar acordar os outros. – O que faz aqui?

– Eu? Meu nome é Antoni! – Ele disse bem alto.

– Xiuuuu! – Tapei a boca dele e o empurrei até perto da porta. – Quer acordar todos, é?

– Ninguém pode me ouvir, bom você pode, mas eu realmente não sei o porquê disso... – Antoni então ficou pensativo.

– O que quer dizer? – Perguntei a ele.

– Nós Elfos de Natal somos mágicos quando entramos em uma casa para deixar presentes todos na casa caem em um sono profundo e ficam assim até irmos embora. – Ele explicava gesticulando e balançando as mãos como uma criança depois de comer muito doce. – Mas você, você sempre acorda.

– Sempre? Como assim você é um Elfo?

– Sim, sim, você... Bom, vejamos... a primeira vez foi em 31, depois disso tenho quase certeza de que você sempre ouviu eu andar pela sua casa no Natal. – Ele parecia animado relembrando isso. – Eu sempre venho te ver na noite de Natal.

– Você realmente é...

– Sim, eu sou!

– Algum tipo de maníaco.

– Sim. – Ele concordou entusiasmado e depois travou. – O que? Não, não, não... você não precisa acreditar em mim, mas eu tenho que ir agora.

– E aonde você vai senhor maníaco?

– Voltar ao Polo Norte é claro. – Ele disse isso se virando, mas parou e voltou até perto de mim.

– O que foi? Não pode ir mais? Perdeu a última chamada para o trenó?

– Me perdoe, eu não consegui realizar seu desejo de Natal. – O semblante do Elfo era melancólico e cinza. – Seu pedido de três anos atrás, eu não posso mais realizar ele.

          O Elfo se virou e então virou um pó brilhante e branco que desapareceu como a neve no verão. Na hora eu não entendi bem o que ele queria dizer, eu não costumo ler o que eu escrevi anos atrás, mas por volta da hora do almoço Ksenia chegou em casa com um jornal impresso, a notícia em letras negras no topo da folha da frente informava como o bombardeio a um acampamento militar havia exterminado vários regimentos militares que haviam se reunido com feridos. Babka e Babcia tentaram esconder o jornal, mas meus olhos se derramaram antes disso.

          Querido diário espero que não se importe das marcas e dos borrados que ficaram nessa folha, foi difícil escrever tudo isso. Eu só queria ter tido mais um Natal com o Tata.

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