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"Como posso começar?"

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 Ando pelas ruas esburacadas evitando ao máximo encostar em algum desconhecido. De repente acabo esbarrando em um garoto.

 Ótimo. A única coisa que eu não queria, acabou por acontecer. Vida de merda.

 Levanto os olhos e encaro o menino que eu conheço muito bem. Seus olhos levemente caídos, idênticos ao do irmão mais velho.

 João.

 O irmão do meio de Hugo. O garoto para quem escrevo cartas.


— Oi! — digo entusiasmada com o pensamento de Hugo estar na cidade — já se passou tanto tempo.

— Oi! Desculpa a pergunta, mas quem é você? — ele diz com um olhar confuso.

— Gabi. Eu brincava com o seu irmão quando tínhamos dez anos. Você era um anão de jardim na época.

— Gabi — ele arregala os olhos ao perceber quem sou — Quanto tempo.

— Sim, vocês estão na cidade?

— Apenas eu. Me desculpe Gabi, mas tenho que ir — ele abre um sorriso nervoso e bagunça o cabelo.

— Tudo bem. Tenha um ótimo dia! — ele responde um "te desejo o mesmo" e sai andando o mais rápido que pode.

 Dou de ombros e continuo a minha caminhada rumo ao apartamento de meu único amigo: Paulo Campos.


— Sério Gabi até hoje eu não sei o que você viu naquele garoto — Paulo diz colocando mais pipoca em sua boca — A família dele tem medo de você! Tirando o fato que se passou onze anos.

— Eu não gosto mais dele — digo revirando os olhos.

— Claro que não, você só fala dele, na maior parte do tempo — seu tom irônico e o seu sorriso me fazem revirar os olhos.

— Mentira.

— Verdade.

— Verdade.

— Mentira — arregalo os olhos ao perceber que cai nessa de novo.

— Ha! Você confessou — ele diz apontando o dedo em meu rosto.

— Não confessei nada! Você fez eu falar — digo me jogando em seu sofá com as pernas em seu colo.

— Você é ridícula — ele fala dando um tapa em minhas pernas — E folgada.

— Um passarinho me contou, que você está apaixonado — digo me fingindo de desinteressada.

— Mande esse passarinho tomar conta da própria vida — ele retira minhas pernas de cima dele e se levanta — Acho que já deu sua hora, tenho que sair.

— Está me expulsando!? — pergunto incrédula — E o senhor não me respondeu.

— Digamos que sim, eu estou — ele aponta para a porta do apartamento — E eu não te devo explicações.

— Pera tá me mandando embora para evitar o assunto? — digo me levantando.

— Também, agora vaza.


"Como posso começar? Pensei que não iria mais escrever, mas hoje encontrei o irmão do meio dele. Confesso que não senti nada ao vê-lo, mas o pensamento de Hugo estar por aqui... ah! Isso sim me fez sentir coisas.

Senti uma vaga sensação de nostalgia, sabe? Como se aquele tempo nunca tivesse acabado ou ele tivesse passado em um segundo. Sei que isso não faz o menor sentido.

Não tenho muito o que dizer hoje, acredito que eu já escrevi tudo o que eu realmente precisava."

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Olá sonhadores!

O próximo capítulo é o penúltimo!

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Beijos de luz e até a próxima!

Cartas para um amor de infânciaOnde histórias criam vida. Descubra agora