Dizem que o tempo cura tudo.
Mas há feridas que o tempo só aprofunda.
Cicatrizes que não se veem no corpo, mas que gritam dentro da alma.

Eu cresci num lugar onde sonhar era quase crime.
Onde meninos aprendem cedo que o mundo não tem paciência com quem sente demais.
A rua foi meu primeiro livro.
O estômago vazio, meu primeiro professor.
E a ausência...
Essa foi minha maior herança.

Sonhar em Angola é resistir.
É levantar com o barulho do gerador do vizinho e mesmo assim acreditar que o amanhã pode ser diferente.
É ouvir que "o jovem é o futuro da nação" e rir por dentro, enquanto decides entre o pão e o passe de transporte.
É olhar pro espelho e não saber se estás a lutar ou apenas a sobreviver.

Este livro não é só sobre mim.
É sobre todos os Adilsons espalhados por Luanda, por Benguela, por Cabinda, por África.
É sobre os que carregam o peso dos sonhos nas costas e pagam o preço da sobrevivência com lágrimas, suor e silêncio.

Entre o que sonhamos e o que vivemos, há um abismo.
Mas mesmo que nos afoguemos nele...
Continuamos a sonhar.
  • JoinedApril 9, 2025

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Story by Mário Cristóvão
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