O último espírito

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Katsuki mal tem tempo de processar o que acontece. Num minuto, ele tá pulando pra cima do terceiro Fantasma. No outro, já está imobilizado no chão, um pé ossudo e gelado contra seu pescoço. Seu algoz usa uma capa com capuz, e não dá pra ver o rosto dele, não que haja necessidade pois o brilho de dois olhos vermelhos que surgem dentre a escuridão do capuz é um bom indicativo de quem o Fantasma dos Natais Futuros escolheu para se apresentar diante dele.

— Achei que vocês só assumiam a forma física, não a individualidade dos professores também.

O Eraserhead não responde, apenas o libera do aperto de seu pé e estende a mão para ele, Katsuki dispensa, apenas porque a aparência gélida da mão dele causa uma sensação meio mórbida.

O Fantasma não diz nada, apenas abre a porta e indica para que Katsuki o acompanhe. Tal como seu verdadeiro professor, essa criatura parece entender que o loiro não grita a não ser que tenha alguém para gritar de volta, e o silêncio frio o torna muito mais inclinado a obedecer ordens.

A saída não dá para o corredor dos dormitórios, e sim para uma escadaria, o Fantasma a sobe de modo que dá a entender que seus pés não tocam os degraus, e Katsuki o segue silenciosamente, olhando ao redor. Há uma certa agitação, muitas pessoas sobem e descem, mas ninguém esbarra neles ou sequer se dá conta de sua presença.

Ao observar melhor, todas os passantes usam trajes de heróis dos mais variados formatos e estilos, e de repente ele se dá conta de onde estão: a sede da Associação de Heróis, A turma dele foi trazida em uma excursão até aqui no ano passado, as escadas estão diferentes, parecem ter sido revestidas por um material escuro e borrachudo, mas o topo do prédio permanece igual, dá pra perceber assim que eles chegam ao fim da escadaria e param no pátio de frente para o prédio.

— Isso aqui é quanto tempo no futuro? — ele pergunta, e o Fantasma não responde, apenas aponta para um relógio gigante no meio do pátio apontando a hora e a data. São 3 da tarde do dia 25 de dezembro, 15 anos no futuro, a constatação o faz engolir em seco, por algum motivo.

Katsuki sempre teve muita certeza de que seu futuro seria brilhante, independente do que acontecesse. Mesmo aos trancos e barrancos, quando entrou na U.A. e descobriu que existem pessoas como o Meio a Meio ou a Rabo de Cavalo, que têm talentos e habilidades que faltam nele, ou mesmo o Kirishima e a Uraraka, que podem não ter atingido todo seu potencial, mas sabem conquistar as pessoas e gerar confiança de um jeito que ele talvez nunca consiga.

E tem o Deku... o maldito que passou boa parte da vida sem individualidade e agora passeia por aí no controle de quase cinco, que aperfeiçoou suas habilidades em pouco mais de dois anos enquanto ele e os outros vêm fazendo isso desde que são crianças. Independente disso tudo, quando Katsuki não se pega comparando com os outros, ele ainda sabe que seu futuro é promissor e brilhante porque só depende dele mesmo, Katsuki nunca teve dúvida que alcançará tudo que deseja, então não entende esse temor em estar no futuro e do que pode encontrar nele.

A multidão anda pra lá e pra cá desgovernadamente, como se estivessem à espera de um evento. Tem muito barulho, mas Katsuki consegue captar algumas conversas.

"Ouvi que a Uravity vai discursar..."

"Ela está de licença."

"O Deku..."

"O All Might tá aqui."

"Tinha mesmo que ser no Natal?"

"Dizem que ele odiava o Natal."

— Que diabos tá acontecendo aqui?

O Fantasma aponta para a entrada do prédio, e Katsuki não consegue impedir seu queixo de cair. É uma foto dele, enorme em um banner. Bom, não parece ele, mas dá pra saber que é ele, o mesmo cabelo, embora cortado mais curto, o mesmo rosto, embora mais quadrado e anguloso, os mesmos ombros, embora maiores e o mesmo uniforme preto com um "x" laranja, é ele adulto, e é uma puta foto boa, imponente e respeitável, do tipo que só heróis profissionais têm.

Sim, mais um conto de NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora