O segundo espírito

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Ele desperta por conta própria, não querendo ser surpreendido por mais outra aparição bizarra dentro desse sonho que parece não ter fim. Na verdade, foi meio difícil dormir pensando no que reviu antes. Katsuki não se lembrava de ter feito o nerd de merda parar de acreditar em Papai Noel, ele também não se recordava muito de ter dito que All Might o salvaria um dia. Tsk, e não é que foi exatamente o que aconteceu? Ironicamente, o encontro entre eles foi o que deu ao Deku uma individualidade e, com ela, uma responsabilidade que pesa mais que ouro, quem diria que sua sugestão maldosa seria o que de melhor aconteceu na vida do nerd e em proporção inversa, a pior coisa na vida dele próprio?

Qualquer satisfação que sua versão mais jovem possa ter sentido naquele momento em que humilhou o Deku e em tantos outros agora parece tão... sem sentido, não o ajudou em nada, muito pelo contrário, só parece ter incendiado algo dentro do nerd até torná-lo homem de confiança do All Might e... aquele que tem o coração dela. Tsk, só de imaginar o que a Uraraka pensaria se visse as coisas que ele já disse e fez pro nerd, ele se sente realmente envergonhado.

Se Uraraka gosta tanto do Deku, é porque ela vê coisas que Katsuki não consegue ou se recusa a reconhecer, o senso de julgamento dela é bom, sem contar o quanto é intuitiva. Por muito tempo, ele se perguntou o que ela tanto via no nerd maldito, hoje ele se pergunta: o que o Deku tem que falta nele para despertar tanta adoração?

Uma névoa em um tom pálido de cor-de-rosa começa a entrar por debaixo do vão da porta, fazendo-o erguer a sobrancelha. O miasma rosado também entra pela fresta da janela, e Katsuki arregala os olhos, isso aí é... ele já viu isso antes! Mentira, não chegou a ver exatamente, porque assim que entrou em contato com essa névoa, apagou na hora.

É o poder da Midnight-sensei.

— Ora, já está acordado? Bom menino! — a silhueta dela fica visível, até que toda a nuvem cor de rosa se dissipa. Assim como ele imaginava, é a Midnight.

— Tsk, você tá ligada que o poder dela é fazer as pessoas dormirem, né?

— Ah sim, sim! Eu só assumi a forma física da sua professora, não tenho exatamente as habilidades dela. Bom, de toda forma, eu preciso de você bem acordadinho, pra ver o que tá acontecendo nesse exato momento enquanto você fica aqui remoendo seu passado e sofrendo uma dor de corno sem nem mesmo ser corno.

— Vai se f-

— Eu sou o Fantasma dos Natais Presentes. Vamos indo, não é porque não vamos longe que podemos demorar a chegar. — a névoa rosa ocupa todo o quarto, e quando ela dispersa, Katsuki não está mais em seu quarto, e sim em um outro com uma decoração exagerada e cafona, ele já esteve aqui vezes o suficiente para saber que é o quarto do Pikachu, mas o idiota não tá sozinho, o Fita Crepe tá esparramado sobre o carpete e o Kirishima sentado em uma cadeira virada, apoiando o queixo no encosto.

— Eita, já são duas da manhã! — o ruivo olha para o relógio e arregala os olhos — Acho melhor puxar o carro.

— Tá cedo, bro!

— Tá nada! Fiquei de ajudar a Uraraka e o Todoroki na distribuição de presentes no centro.

— Pode crer. Puxado, hein? Ainda mais se você madrugar pra treinar com o Bakubrou, você vai?

— Ele não falou nada, mas pô, mesmo se ele quiser, não vou não! Amanhã é Natal, mano!

— Quer dizer... hoje é Natal, né? Já é dia 25.

— Não trocou de dia se você ainda não dormiu, é no que eu acredito. — o Pikachu coça a orelha com uma tampinha de caneta.

— É, enfim... não é possível que o Bakugou queira treinar até no Natal.

Sim, mais um conto de NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora