Conto natalino: Me reencontrando

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    Era para hoje ser uma noite especial...

    Mas não é o que está sendo.

    Pois enquanto estou diante de minha janela, observo atentamente cada gota de água que o vento ousa arremessar em meu vidro.

    Vejo a gota se rastejar para baixo, levando minha paz escassa consigo...

    Eu foco em olhar além dos vidros de minha prisão, e encontro as luzes piscando incessantemente. Me pego então contemplando cada pisca-pisca que envolve o mundo lá fora.

    Vejo luzes de diversas cores, com as mais variadas formas de piscar. E apesar da beleza que muitas casas alí possuiam, havia apenas uma que realmente conseguiu roubar minha atenção.

    A casa era simples, mas sofisticada. Não havia nada de tão diferente em suas luzes convencionais, mas o que chamou minha atenção, estava diretamente relacionada a elas. Pois em meio a tantas lâmpadas minúsculas que lutavam para sugar energia o bastante para brilhar...

    Havia uma que já não mais brilhava.

    E embora ela deixasse um espaço vazio entre as outras lâmpadas, ainda sim, as luzes continuavam a encantar, mesmo sem ela.

    E foi naquela minúscula lâmpada apagada, que eu vi o meu reflexo...

    Aquela inútil lâmpada inativa, se tornou semelhante a mim.

    Um cara estúpido que deixou de brilhar, e que agora depende de uma máquina para avisá-lo quando jantar...

    Eu não queria estar assim em pleno vinte e quatro de dezembro.

    Mas aqui estou eu.

    Observando a chuva que cai sem cessar, ouvindo as risadas de vizinhos alegres, assistindo comerciais idiotas no qual idealizam uma família surreal e totalmente fantasiosa.

    Aqui estou eu...

    Apenas eu.

    Devem estar pensando que eu sou uma pessoa horrível.

    Já consigo ouvir os sussurros das pessoas ao meu entorno.

    “Vejam, ele passou o natal sozinho. O que será que ele fez?”

    É sempre assim...

    O que ele fez?

    As pessoas sempre precisam achar um culpado na situação.

    O leite não derrama sozinho. Alguém precisa mesmo que não seja intencional, derramá-lo.

    Não é assim que funciona?

    Pois bem, eu não acredito nisso.

    Sabe por que não acredito?

    Vamos analisar uma situação. O leite está em cima de uma mesa instável, em determinado momento, ela não suporta mais nenhum peso, e então se rompe. O resultado você já sabe, não é?

    Mas se isso não foi o suficiente. Vamos a outra situação. Alguém está prestes a fazer um bolo, e decide de antemão, pegar todos os ingredientes antes de iniciar o preparo. No processo, a tal pessoa acaba pegando a farinha de trigo com certo descuido, e então o saco de farinha entra em colisão com a caixa de leite. É desnecessário dizer o que aconteceu, então nem vou perder tempo citando isso.

    Ainda não entendeu?

    Então imagina acontecer a droga de um terremoto. Tudo vai ao chão, inclusive o leite.

Confissões Levadas Ao VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora