Outrora num espelho me fitei
No fundo de minhas pálpebras
Um cadáver eu encontrei
Gelado e seco, contornado por pálidas linhas;Nele vi meu próprio rosto,
Mas em meu peito via outro,
O rosto dela. Seu pedaço virara carne,
De dentro para fora, seus dentes trituravam-me.Neste cadáver podia apenas ver a morte,
E apenas nela via vida.
Mas como em algo morto em pleno não-ser,
Eu podia vê-la?Ah, pois! Eu ousava. Via seus pedaços adiante
Numa esquina ou num poema,
Numa flor ou numa abelha,
Numa rosa ou alfazema.Mas somente ali,
Dentro de meus olhos
Eu não só a via, mas a sentia
Como sempre sentiE sempre sentirei:
Seus dentes me cortando,
Fazendo, por fim,
Um solene grito de minha'lmaDoce dor, inebria-me
Pálido sangue, banha-me
Torpe tristeza, fadiga-me
Só de longe posso me sentir por perto,
E nem de longe posso estar...
![](https://img.wattpad.com/cover/252686867-288-k6073.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Vazio
PoetryAlguns poemas e contos de minha florida e densa mente, colhidas da fértil e até agitada imaginação, donde até o inexistente em seu esplêndido impossível não-ser é contemplado. É isso.