Malas prontas

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A noite estrelada de lua cheia - daquelas em que a lua está tão magnífica e grande que temos a nítida sensação de que se esticarmos um pouquinho os braços em sua direção podemos toca-la, e o céu está tão limpo a ponto de parecer que cada cantinho daquela imensidão é coberta por um pontinho luminoso e brilhante ,tal qual purpurina - trocou de lugar com uma noite de céu nublado e sem qualquer resquício de lua.

A floresta de pinheiros no quintal do sobrado estilo vitoriano dos Miller -geralmente, convidativa à passeios matinais tranquilos, com trilhas sonoras melodiosas feitas por pintassilgos e tentilhões- expressava uma sensação de medo para quem observasse as sombras distorcidas das árvores.

Medo.

Desespero.

Esses eram os seus sentimentos ao correr loucamente aos tropeços entre os pinheiros e rochas da floresta.

Seu joelho esquerdo latejava de dor. Suas mãos cobertas de arranhões suavam frio.

- Q-Quem está aí??-sussurrou para si mesma, já sabendo que seria inútil perguntar à sua companhia.

Passos pesados se aproximavam cada vez mais ruidosamente dela.

Ao som dos piados de corujas brancas e alvas, cigarras e macacos se harmonizavam em uma opera sofrida.

Com sua corrida desenfreada e trôpega, seguia à diante. O barulho de algo se quebrando a sobressaltou fazendo-a olhar para trás em busca do que,ou quem ,a perseguia.

-arrrghhh -grunhiu ao ser engolida por uma relva de plantas pegajosas , grudentas e recém molhadas pelos chuviscos que caiam. Chuvas de verão. Sempre imprevisíveis.

Caules. Raízes. Galhos secos. Folhas. Se enroscavam em seu corpo, a puxando cada vez mais de encontro com a terra fofa.

Um grito agudo escapou por entre seus lábios no exato instante em que rolou morro abaixo, colidindo rudemente com o chão úmido e tudo mais que havia no caminho.

Sua cabeça latejava . Não seria de se espantar se ali houvesse um novo corte. Sua saliva tinha gosto de terra.

Os passos se aproximavam cada vez mais.

Sua respiração falhava.

Os passos diminuam a distância.

Seu coração arrebentava dentro do peito .

Os passos mantinham um ritmo calmo.

Seus olhos lacrimejavam.

Os passos pararam.

Sua garganta travou.

Seu coração desacelerou.

Sua cabeça se ergueu.

Seus olhos se encontraram. Aquele olhar.

Seu coração disparou.

Estava diante de seu nariz.

Sua respiração falhou em um grito sufocado e desesperado.

Com um pulo Melíssa sentou-se ,sua garganta seca reprimia um soluço.

Uma sensação de alívio imediato percorreu pelo seu corpo após perceber que estava no chão frio do seu banheiro.

Com um suspiro prolongado passou as mãos no emaranhado ruivo que outrora tinha sido seu cabelo.

Nas últimas semanas suas crises de sonambulismo haviam piorado bastante. Coisa que só acontecia quando estava estressada.

Sim.

A prisão MontgomeryOnde histórias criam vida. Descubra agora