| Um |

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Rafaella sentia sua cabeça doer ainda mais.

Suas mãos estavam trêmulas, os olhos avermelhados e inchados. Não conseguia sentir suas pernas firmes no chão, e ela sabia que podia desmaiar a qualquer momento.
Ela estava com fome, pois não teve tempo de comer depois que saiu do trabalho, e agora não sabe mais o que sentir. Sentia que podia vomitar ali mesmo, mesmo sem ter nada no estômago. A cena que ela viu, não seria fácil de engolir:

Caon, seu noivo, estava ali, deitado na cama, dormindo tranquilamente, ao seu lado estava uma mulher, Gabriela estava deitado de bruços, e seu peito subia e descia calmamente. O lençol cobria o corpo nu deles e a cama estava bagunçada. Gabi, como a chamavam, não era uma estranha para Rafaella. Ela e Caon trabalhavam juntos, compondo músicas e até cantando. Já que eles costumavam usar isso como hobbie, mas pouco tempo depois, começaram a levar pro lado profissional.

Rafaella não sabe dizer bem o que sentiu quando os viu, uma mistura de raiva, dor, medo, enjoou e a sensação de ser enganada, a consumiam.

Não iria fazer escândalos, nunca foi esse tipo de mulher e nunca seria. Sentou numa cadeira perto da cama, analisando de perto, pisou sem querer numa camisinha usada e que foi jogada ali no chão.

Nojo!

Foi o que ela pensou. As roupas dos dois estavam jogadas por todo canto do quarto – seja lá que horas eles chegaram ali, eles estavam com muita pressa, ou muito tesão, para que tudo tivesse jogado dessa maneira. Rafaella entende muito bem.

Rafaella estava com os olhos marejados, eles brilhavam, as lágrimas caíam e caíam, mesmo que ela não colocasse forças. Mas chorava em silêncio, sentindo calada a dor que perecia chutar cada vez mais forte.

Como que Caon teve coragem de fazer aquilo? Na casa deles, que conseguiram comprar juntos há, mais ou menos, 1 ano. Na cama deles, que na noite anterior, eles transaram e disseram um para o outro o quanto se amavam.

"O quanto se amavam" , pois é, não tem nenhum pingo de amor aí, né?

Rafaella escutou Caon gemer baixinho, virando-se de frente para ela. Ela enxugou suas lágrimas delicadamente. Fazia preces para Deus e todos os santos para que a ajudassem a manter a pose e não desabar na frente dele. Ele abriu os olhos lentamente, e ao ver Rafaella deu um pulo da cama, Gabriela se assustou com o movimento brusco e despertou também.

— Amor? — Foi a primeira coisa que Caon disse.

Rafaella jurou a ela mesma que se ele falar a típica frase "não é nada disso que você tá pensando", ela daria um tapa na cara dele.

— Boa noite ao casal. — Rafaella se assustou com o tom da sua voz, estava fria e firme. — Eu peço desculpas se estou atrapalhando algo.

— Rafa... eu... — Caon dizia entre um salto e outro, já que estava colocando sua cueca e sua calça muito rápido. Gabi estava calada, cobria seu corpo com o lençol e mantinha um sorrisinho cínico no rosto, mas que insistia em cobrir com as mãos.

— Gabriela... boa noite, amiga. — Ironizou a última palavra, direcionando um olhar isento para ela.

— Amor, olha pra mim. — Caon se jogou aos pés de Rafaella, ficando ajoelhado na sua frente. — Rafa... — Ele respirou fundo. — Eu sei o que você tá vendo. Mas tudo isso aqui, não tem sentimento nenhum. Não tem desejo de verdade, sabe? Eu te amo, Rafaella. Por deus, me desculpa. Me perdoa. Por favor. Por tudo que nós vivemos, amor. Seis anos juntos.

Rafaella encarava bem aqueles olhos verdes. Eles marejaram e Rafa se impressionou com tamanha capacidade que ele tinha de chorar rápido.

— Eu que deveria te lembrar de todos os anos que passamos juntos, Daniel. — Rafaella o chamou pelo primeiro nome, e ele entendeu ali, que ela não estava para brincadeira. — Seis anos jogados no lixo, por uma noite de prazer com essa vagabunda.

Tudo o que nos uniu || RaBiaOnde histórias criam vida. Descubra agora