Depois da guerra em que os Militibus ganharam, as fadas foram enviadas para as montanhas e o povo da água pro fundo do mar, o governante dos militibus não queria as outras espécies perto de seu reinado então os baniu para longe.
O rei abta a capital junto a sua corte, sem sair de lá a não ser que seja extremamente necessário, quando a um problema ele envia um representante em seu lugar.
Quando nasci os Militibus já tinham tomado tudo, não conheço um mundo diferente do que vivo hoje. A espécie sempre foi muito violento, porque não seriam? São mais atraentes e mais fortes do que humanos, aberrações com dons, praticamente deuses. Perfeitos.
Acho que esse foi o problema, são perfeitos demais, todas as outras espécies também são muito poderosas, isso não daria certo. O criador do mundo com toda a sua sabedoria decidiu torna as coisas mais justas criando um ser capaz de destruir mundos, dizimar vidas com somente um pensamento, o vazio. Eu.
Ser a criatura capaz de destruir o mundo não é ruim. Tirando o medo, a ansiedade, pesadelos e crises existenciais — que acontecem com bastante frequência — eu até que me dou bem com esse fato.
Eu sempre soube o que sou, das lendas sobre mim e sobre as outras que vieram antes de mim e como os mundos delas entraram em caos e ruínas, papai nunca tentou esconder isso, ele me contou tudo que sabia sobre o vazio, não era muito mas foi o suficiente para saber o quão poderoso o vazio é.
Quando tinha quatorze anos surtei,
e lamentavelmente não foi uma crise adolescente. Eu e papai morávamos perto de um vilarejo no meio do nada, nunca fui até ele sem a companhia de papai, em um belo dia com um sol brilhante no céu eu achei que seria legal sair escondida, foi uma ideia estúpida, a pobre e ingênua Freya só estava chateada com o seu pai por uma briga sobre como o mundo é perigoso e que ela era muito nova para lidar com isso sozinha, a Freya de quatro anos atrás tomou a palavra de seu pai como um desafio e saiu sem avisa-lo, ela queria mostrar o quanto era responsável e que não deveria mais ser tratada como uma criança.
Naquele dia o vilarejo foi atacado pelos soldados do rei. Tinha alguns rumores de que isso já vinha acontecendo em outros lugares mas só as cidades e vilarejos que eram contra o governo de nosso tirano rei, eles invadiam as cidades, dizimavam mais da metade dos habitantes, levavam os sobreviventes como escravos e ateavam fogo em todas as casas até que não sobrasse nada além de pó e cinzas no ar, ainda posso sentir o cheiro da fumaça impregnada em minha pele, os gritos de mães humanas desesperadas lutando para que não levassem seus filhos, mesmo sabendo que não teriam chances contras aqueles soldados grandes e robustos .
Então quando vi eles entrando na cidade causando alvoroço eu congelei os gritos das mães e o choro das crianças ainda podem ser ouvidas em meus pesadelos. Eu não iria fazer nada, ia voltar para casa, sabia que se o rei colocasse as mãos em mim não haveria salvação a não ser a morte, contudo por um infortúnio do destino um deles decidiu vim até mim, ele parecia tão alto e assustador, estava pronta para correr, fugir, consegui dar alguns passos mas foi em vão a minha tentativa de fuga, quando senti ele puxando meus cabelos e tentando me arrastar até os outros.
Foi preciso um segundo para tudo acontecer, o chão tremeu, os pássaros voaram de seus ninhos para o mais longe o possível, li em algum lugar que os animais sempre são os primeiros a saber quanto um desastre está por vim. E foi isso que aconteceu a seguir, um completo desastre. Eu suguei todas as almas que estavam lá, inocente ou não. Papai me achou alguns minutos depois chorando ao lado dos corpos, ainda lembro da sua voz me dizendo que a culpa não foi minha, mesmo nos dois sabermos que isso é uma mentira.
Todo ano no dia em que essa tragédia aconteceu eu fico na cama vegetando, não levanto para nada, nem beber água, comer, tomar banho, escovar os dentes, basicamente todas as coisas essenciais para que eu comece a pareça um zumbi fedorento.
Meu corpo praticamente já se fundiu completamente com minha cama, minha bexiga implora para que eu faça xixi, meu estômago está me alto devorando por causa da fome. Não sei que horas são mas tenho quase certeza que já anoiteceu pois Mera já chegou de seu turno, aqui em Domun eu sou a única que não faz nada a não ser participar de reuniões é andar por aí. Mera está sentada em sua cama me olhando fixamente.
— Você está bem? — ela pergunta.
A preocupação em sua voz me deixa surpresa. Mera é fria e frígida e praticamente nunca fala comigo, tento não levar pro lado pessoal. Se ela está preocupada comigo devo está parecendo a beira do suicídio.
— Sim — digo a ela mesmo que seja mentira.
— Você tá uma merda e fedendo muito — Mera fala.
Abro um sorriso pra ela.
— Hoje é o aniversário do dia em que matei pela primeira vez — confesso a ela precisando contar a alguém —
Mera pisca duas vezes antes de se pronunciar.
— Também já matei pessoas, isso não quer dizer que passo o dia sem comer e tomar banho — Ela provoca com um sorriso nos lábios.
Vira na cama olhando para o teto, decido ignora-la. Ouço ruídos mais me recuso a olhar.
O lado direito da minha cama afunda.
— Chega pra lá — Mera manda.
Obedeço mesmo que esteja confusa, sento e a encaro. Ela abre um sorriso e levanta uma garrafa para a altura de meus olhos.
— Whisky de fada — Ela diz.
Deus, fadas são criaturas cruéis e sanguinárias mas são ótimas em muitas coisas principalmente bebidas. Não que eu tenha experimentado álcool antes.
Assim que levo a garrafa aos meus lábios e sinto a bebida ardente descendo pela minha garganta me sinto melhor. Acho que álcool pode ser útil no fim das contas.
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Militibus
FantasyO mundo que conhecíamos foi destruído. Os militibus, uma raça antiga de guerreiros, tomaram o nosso planeta. Eles não são os nossos amigos. O seu rei quer a escravização da raça humana. Seus soldados matam e torturam qualquer um que se oponha a sua...