Capítulo 1 - Needle

41 6 7
                                    

— Este foi o objeto que veio junto de você, Ray. — Harvey disse, enquanto estendia o pequeno artefato para o garoto — Pode pegar, é seu.

Ray timidamente estendeu sua mão e tomou o objeto de Harvey, segurando-o com cuidado. Possuía um peso surpreendente, e sua cor prateada era extremamente cativante. Porém, o que mais chamava atenção no objeto era seu interior.

— O que é esse...? Eu não sei do que chamar. — Ray disse, olhando para o ponteiro através do vidro transparente.

Harvey riu de leve, deleitando-se com a curiosidade do garoto.

— Boa pergunta, Ray. Eu também não sei do que chamar. Mas veja, não parece apontar para algum lugar? — O velho respondeu, mirando seu dedo indicador no ponteiro.

Agora que Harvey havia dito, Ray notou. De fato, o ponteiro respondia conforme seus movimentos, porém continuava fixado em um mesmo ponto. O garoto levantou a cabeça e encarou o velho, parecendo esperar alguma explicação.

— Acredito que isso seja uma espécie de guia. Talvez te leve para sua cidade natal, ou até mesmo para seus pais.

Os olhos cinzentos de Ray pareceram brilhar de alegria. Ele amava Charlotte e Harvey, e era extremamente grato por tudo que os dois lhe haviam proporcionado. Mas também não podia negar que sentia em seu coração a necessidade de conhecer seus pais verdadeiros, assim como descobrir quem ele realmente era.

— Então... isso significa que eu posso ir? Você está dizendo que eu posso ir atrás de meus pais, vô? — Ray perguntou em um tom tão inocente e esperançoso, que até o velho Harvey pareceu desmoronar ao ouvir.

— Sim — O velho respondeu, curvando-se para abraçar o pequeno garoto — É isso mesmo, Ray...

Harvey amava muito aquele menino. Havia criado ele como se fosse de seu próprio sangue, e ele sentia como se estivesse abrindo mão de uma parte de si. Porém, assim como ele tinha dito para Charlotte — Harvey sabia que o garoto não o pertencia. Sabia que apenas teve sua guarda temporariamente e que o lugar dele era com sua família verdadeira, onde nasceu. Harvey apertou o pequenino com toda a força que seu velho corpo permitia, e deu tudo de si para manter suas emoções consigo.

Charlotte também não conseguia mais se manter naquele canto, apenas observando. Ela sempre havia sido muito protetora com Ray, mas em tempos recentes tentava manter um pouco de distância, para que o menino não ficasse muito dependente dela. Charlotte sabia que algo assim aconteceria um dia, pois seu pai já a havia instruído acerca do artefato e de seus planos para o futuro de Ray. "Caso ele expresse vontade, e esteja preparado para partir... é nosso dever respeitar isso. É direito do garoto."

Ela sabia disso. Ela entendia que era direito de Ray. Mas mesmo assim...

— Lotte? Você tá bem? — O garoto chamou, ainda abraçado com Harvey.

— Sempre tão perceptivo... — Charlotte respondeu, após uma breve e tímida risada. Pela milésima vez, aquele garoto a impressionara com seus afiados instintos — Desculpa, Ray. Eu acho que eu não quero que você vá.

Após enxugar o começo de uma lágrima, ela se aproximou e abraçou os dois.

— Não quero que você vá, mas eu entendo. Então por favor, trate de ir logo, antes que eu mude de ideia. Ok?

Os três ficaram assim por uns bons minutos, em silêncio. Muitas coisas passavam pela cabeça de Charlotte, pois ela se preocupava com a segurança de Ray. Ele deveria mesmo sair assim, sozinho, seguindo um objeto estranho e que eles nem sabiam para onde apontava? Qual era a garantia que seus pais estavam vivos, ou que esse era o plano deles desde o início? Que tipo de pais abandonariam o próprio filho para estranhos criarem, só para depois tirá-lo de sua nova família?

Mas ao mesmo tempo, ela também sentia que aquele era o caminho certo. Apesar de tudo, Ray não era como os outros habitantes do Subterrâneo. Seu tom de pele, seus cabelos — tudo indicava que o garoto havia nascido na superfície. Se isso era verdade, ele voltar para seu lugar de origem poderia não ser algo bom somente para ele, mas também para todo o Subterrâneo. Ray poderia achar um lugar novo para os humanos morarem, assim tirando-os daquele terrível e inóspito ambiente. Talvez fosse o destino dele.

Ainda abraçado com sua família adotiva, Ray levantou a mão que segurava o objeto, observando-o por cima do ombro de Harvey. Desta vez, ele investigou o artefato inteiro. Ao olhar para o fundo do mesmo, ele notou algo entalhado em dourado — Needle. Ray sorriu. "Bem vinda ao time, Needle" — ele pensou consigo mesmo.



------------------------------------------------------------------------------------------
Obrigado por ler até aqui!
Agora começa a jornada de Ray. Espero que estejam gostando! Eu queria fazer uns capítulos mais longos, mas tenho receio de ficar muito cansativo, então prefiro concluir eles um pouco cedo. Espero compensar o tamanho dos capítulos com uma maior qualidade e postagens semanais, se eu conseguir...

De qualquer forma, muito obrigado por todos que estão acompanhando a história, e que esse ano novo seja, assim como o começo da jornada de Ray, um prelúdio para acontecimentos incríveis e muitas vitórias, na vida de cada um de vocês.

NeedleOnde histórias criam vida. Descubra agora