O que o destino nos reserva?

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Tóquio, setembro de 1990

Midy abriu os olhos lentamente. Acordou amarrada pelos pulsos e tornozelos, sentada em uma cadeira de madeira. Seu corpo doía intensamente. Sentiu o gosto amargo e metálico de sangue na sua boca e o líquido escorrendo pelo seu queixo. Alguém a vestiu com uma roupa branca com vermelho, como se ela fosse uma sacerdotisa de um tempo antigo. E em seu pescoço havia uma corda grossa.

Logo seria morta. Disso não tinha dúvidas.

Foi preciso coragem e esforço para levantar a cabeça. Seus olhos negros e escuros percorrem a sala com paredes de pedra, que mais parecia um santuário de um mundo antigo.

Um grupo a rodeava, eram poucas pessoas. Todos vestidos com pele de cordeiro e máscaras de babuíno, estranhamente azul. A sala era um ambiente grandioso, com um teto que se erguia a surpreendentes vinte metros, sustentado por colunas de pedras. A iluminação foi feita com poucos velhas. O que mais iluminava era um facho de luar que entrava pelo amplo teto.

Era sombrio. Frio. Medieval.

A verdade por estar ali, porém, era ainda mais estranha. Tentou não se lembrar do interrogatório na noite anterior, da sua tortura e dos seus excruciantes detalhes. Naraku violentou tanto seu corpo, como a sua alma.

O seu único motivo foi negar informações sobre a joia Magatama. Um antigo mito dizia que esta mesma Jóia, foi entregue pela deusa Amaterasu a seu tataravó, a séculos atrás. Ela jamais poderia cair em mãos erradas. O segredo do seu esconderijo, será levado para o túmulo. Não havia arrependimentos. Faria tudo novamente.

- Chegou a sua hora. – disse uma voz grave, ecoando dentro das paredes de pedra.

A sacerdotisa levantou um olhar ausente para o facho de luar, mas à medida que os segundos passaram, uma mistura de tristeza e angustia tomou conta de si. Orou pensando nas suas filhas Rin e Kagome.

Que Kami as protegesse desse mal.

- Minhas filhas... me perdoem um dia. – sussurrou baixinho.

Após abaixarem a madeira que sustentava seus pés, a cadeira caiu e ela sentiu a corda trancar sua respiração, ferindo a pele do seu pescoço. Fechou os olhos tentando bloquear o medo e a dor. Não se debateu ou derramou lágrimas. Logo sentiu que mergulhava na inconsciência. A dor durou apenas alguns segundos.

E então, Midy se foi.

Ela não teve escolhas.

Quando o corpo da mulher enforcada ficou imóvel, Tankeda Higurashi desabou de joelhos no chão, arrancando a mascará e apertando o peito com mão. Percebeu a dimensão terrível do seu erro. Algumas pessoas se aproximaram, cercando-o e tentando o ajudar. Mas ele não queria ajuda.

Tankeda soluçou e enxugou os olhos. Nunca mais sentiria o toque quente da mão dela. Nunca mais dormiria ao seu lado. Nunca mais sentaria juntos na mesa de jantar ou conversariam. Entregou a sua esposa por causa da chantagem de suas dívidas. E seu ex-sócio é um homem cruel, que só quer informações sobre uma joia que ninguém sabe se realmente existe.

Midy foi entregue a Nakaru, e sua maldita sociedade secreta. Ela agora não pertencia mais a esse mundo e a culpa consumiria a sua alma para sempre. Não poderia corrigir o passado e nem seus erros, mesmo se quisesse.

Era tarde demais.

A jovem de quinze anos chegou a seu lado. Retirou a máscara e deixou os cabelos e lisos caírem como um vel negro. Seus olhos escuros eram serenos, mas seu coração está corrompido e sofrendo sem ninguém saber. Ela olhou para a imagem da mulher morta.

Koi No YokanOnde histórias criam vida. Descubra agora