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A loja de antiguidades não tinha mais a placa e entrada e puderam confirmar o que o padre havia dito: estava, de fato, caindo aos pedaços. Jooheon saiu da viatura encarando mais do que a loja em si, mas olhando ao derredor, capturando outra coisa.
As ruínas da residência dos incendiados era uma construção pela metade, tomada por um matagal que subia pelo que restava da estrutura. A aparência era tão mal assombrada que o Lee sentiu um arrepio lhe correr a espinha e só voltou a si quando a mão pesada de Hyunwoo tocou seu ombro.
— Você quer que eu entre sozinho? — perguntou, percebendo que Jooheon estava desconfortável.
— Não — o mais novo negou — Estou bem, vamos.
Os dois seguiram até a entrada da loja, mas um barulho no assoalho pelo lado de fora fez ambos pararem no lugar.
— Tudo bem se você entrar? — Hyunwoo perguntou — Vou dar uma olhada nisso.
Jooheon concordou, respirando fundo enquanto entrava no estabelecimento de uma vez. O lugar estava escuro e o Lee precisou franzir o cenho enquanto procurava por alguém dentro da loja. Observou as prateleiras com alguns produtos antigos, buscando pelas cruzes de ipê, mas não encontrou nada além de quinquilharias à primeira vista.
No minuto seguinte, um senhor surgiu, parecendo surpreso por ter alguém ali dentro além dele mesmo. Jooheon apresentou-se com o distintivo e o homem torceu o nariz para ele.
— Não sei de nada — foi o que respondeu.
— Eu ainda nem fiz nenhuma pergunta — Jooheon disse, dando um breve sorriso — Soube que o senhor produz cruzes ornamentais de ipê.
— Não produzo mais — disse de forma rude, sem nem ao menos olhar para ele — Desde que roubaram minha última remessa.
— Roubaram? — o homem confirmou com um aceno — E o senhor deu queixa?
— Para que? — finalmente seus olhos se voltaram para o mais novo — Já me roubaram diversas coisas nessa loja, mas ninguém nunca fazia nada a respeito. Desisti de tentar conseguir alguma justiça. Vocês só ligam para os que moram no centro.
— Eu sinto muito — Jooheon pediu, envergonhado — O senhor tem alguma ideia de quem pode ter feito isso?
— Foram os incendiados. — o homem saiu de trás do balcão, caminhando pela loja.
— O senhor diz... — Jooheon o acompanhava com o olhar — Os que foram dados como mortos no incêndio?
— Aquela família amaldiçoada. Eles atormentam estas bandas desde aquele dia — parou, tocando levemente um relógio antigo numa prateleira um pouco alta — Mas ninguém acredita em mim. Só me deixam aqui sozinho para lidar com eles.
Jooheon abriu e fechou a boca várias vezes, sem saber que pergunta fazer a seguir. O senhor, por sua vez, deixou o canto em que estava, caminhando em direção ao mais novo e parando diante dele. Os olhos eram claros nas bordas, provavelmente graças à alguma doença ocular e Jooheon não conseguiu desviar.
— Hm — ele sussurrou, o nariz se franzindo enquanto ele puxava o ar ao redor como um cão — Eu sinto o cheiro deles.
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Hyunwoo seguiu pela lateral até chegar aos fundos, percebendo que a vegetação se espalhava por ali também. Um gato de rua havia pulado do assoalho até uma lata de lixo já cheia. As portas traseiras estavam fechadas e sentados sobre a madeira velha, estavam dois rapazes, lado a lado.
O mais alto, com cabelos claros, acariciava as costas do outro que parecia estar chorando. Aproximou-se a passos lentos, percebendo ambos olharem para si.
— Oficial Son — apresentou-se — Vocês... Moram aqui?
O menor, que ainda chorava, apertou o casaco do outro que apenas encarava Hyunwoo sem dizer nada.
— Aconteceu algo? — voltou a falar — Podemos ajudar?
— Tudo que deveria ser feito, já foi iniciado — o de cabelos claros, finalmente, respondeu.
Seu olhar tinha uma ponta de mágoa enquanto dizia aquelas palavras, como se estivesse triste apesar da sentença. Ao ouvi-la, o outro rapaz menor enterrou-se ainda mais em seus braços, e o que parecia ser o mais velho o abraçou com força, chiando baixinho.
— Vai ficar tudo bem — repetiu aos sussurros — Nós vamos ficar bem.
Hyunwoo estava prestes a fazer novas perguntas quando ouviu o barulho da buzina da viatura, soando alto e repetindo-se três vezes. Deu longos passos até que conseguisse observar a rua e viu que Jooheon já estava dentro do carro, esperando-o. Ao voltar seus olhos para onde estavam os outros dois, no entanto, percebeu que já não estavam ali.
Hyunwoo olhou ao redor, dando mais alguns passos para dentro do matagal, mas não ouvia mais nada a não ser o gato vira-lata. Com o cenho franzido e um sentimento forte de inquietação, voltou e observou a porta dos fundos. Provavelmente haviam retornado para dentro da loja.
Suspirando, Hyunwoo seguiu em direção a viatura e tomou seu lugar no banco do motorista. As mãos de Jooheon tremiam e ele parecia nervoso, encarando um ponto em branco no porta-luvas. As mãos do mais velho foram imediatamente até as suas, acariciando-as enquanto perguntava se estava tudo bem, e o que tinha acontecido para deixá-lo daquele jeito.
— Eu quero ir embora — pediu, agarrando as mãos de Hyunwoo de volta — Por favor.
Hyunwoo obedeceu ao seu pedido, saindo das redondezas e dirigindo por longos minutos até decidir parar no meio da estrada praticamente vazia. Os dedos voltaram a se cruzar com os do mais novo e não houve uma explicação exata. Apenas Jooheon, estarrecido, tentando explicar o sentimento ruim que estar naquele lugar havia lhe causado sem um motivo convincente que pudesse justificar isso.
Mas Hyunwoo não o questionou outra vez. Houve apenas o silêncio após isso, e um abraço que durou tempo demais até que Jooheon parasse de tremer.
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Não esquece o votinho <3
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Burned | ShowHeon
FanfictionUma onda de assassinatos leva o investigador Lee Jooheon a Mulbang-ul, na intenção de ajudar a polícia local a desvendar quem está por trás dos crimes. Ele só não esperava se envolver em um emaranhado de pistas que trazem à tona uma tragédia que mar...