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Já era tarde da noite e a delegacia estava praticamente vazia.
Embora aquela fosse uma cidade pacata, não estavam em momentos de paz e a tranquilidade que carregavam no período noturno havia se esvaído. Jooheon tinha uma pasta grossa aberta sobre a própria mesa e os olhos corriam por cada folha; a mente trabalhando de forma insana.
O caso dos incendiados estava tomando sua atenção mais do que devia, ele sabia. Era um investigador forense e, embora tivesse pouco tempo de serviço, já havia visto coisas o suficiente para não se deixar abalar tão facilmente.
No entanto, aquele caso carregava algo mais. O desaparecimento das vítimas e o sumiço dos que restaram como declarados sobreviventes o intrigava. Afinal, para onde haviam ido? Aquelas crianças haviam de fato morrido?
As fotos da residência em seu período de tragédia recente eram assustadoras. No dossiê, foram relatados diversos objetos na cena que não foram completamente destruídos, revelando que a família era bastante religiosa e, porque não dizer, fanática.
Além das diversas cruzes espalhadas por inúmeros cômodos, havia muitos quadros, terços, rosários, livros de cunho religioso e um altar destruído no meio da sala de estar, com uma imagem assustadora de Jesus Cristo crucificado em cerâmica.
A maior parte havia continuado na casa e o que poderia ser reutilizado de alguma forma, havia sido doado para a igreja, uma vez que a família que restou partiu sem olhar para trás apenas com pertences mais pessoais.
O que não fazia sentido para Jooheon era que no quintal da casa, uma corda foi encontrada enrolada no tronco de uma árvore junto de uma pedra lisa e comprida deitada sobre as raízes. A corda parecia ter sido cortada com uma faca e havia rastros de sangue, com a suspeita de que pertencia a alguma das crianças desaparecidas, mas tal constatação não pode ser levada adiante já que não havia amostras de DNA que pudessem ser coletadas. Os únicos que poderiam lhes fornecer alguma informação válida haviam partido depois de darem um curto depoimento.
Tentaram encontrá-los por algum tempo, mas ninguém obteve sucesso. O resultado disso foi o arquivamento do caso e o esquecimento do que quer que tenha acontecido na casa dos incendiados.
Quanto mais procurava sobre, tentando fazer alguma ligação com o caso atual, mais Jooheon se sentia confuso e mergulhado naquela tragédia. Parecia que era uma história próxima, dando-lhe uma sensação que o corroía por dentro e o intrigava de maneira destrutiva.
As cruzes eram as mesmas, ele percebeu. Tanto as que eram utilizadas pelo assassino à solta, como as que enfeitavam a casa daquela família. E Jooheon quis muito estar errado sobre o que queria dizer aquela corda em torno da árvore no jardim da residência.
Queria muito que aquilo não tivesse a ver com sacrifícios.
O Lee repentinamente se lembrou do que o senhor na loja de antiguidades disse enquanto o encarava tão de perto. "Eu sinto o cheiro deles". O corpo inteiro se arrepiou enquanto pensava em que tipo de coisa poderia ter causado aquele incêndio e o que poderia ter acontecido naquele dia. Por que os pais e o único filho que sobreviveu desapareceram sem esperar por notícias dos outros.
E por que Jooheon ainda achava que o que havia acontecido tinha ligação com o que acontecia agora?
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Os dias passaram em uma falsa paz aparente.
Nenhum novo caso de assassinato se sucedeu, mas as investigações continuavam no mesmo lugar. Novos jovens foram interrogados na tentativa de descobrirem se além de possíveis inimizades com as vítimas, teriam a ver com o roubo apontado pelo senhor da loja, mas havia sempre um álibi que os fazia retroceder e parar no mesmo lugar.
Passando a maior parte do tempo juntos durante aqueles dias, descansando pouco e sem a menor condição de tirarem o foco do trabalho, Hyunwoo preocupava-se cada vez mais com Jooheon.
Desde que havia se mostrado tão afetado pelo que dissera o senhor naquele estabelecimento, Hyunwoo se mostrava atento ao que o mais novo estava sentindo e se não acabaria passando dos limites.
Percebendo que aquele seria mais um dia onde não haveria nada novo, o Son decidiu chamá-lo para comer fora da delegacia. Não na pensão de sempre, nem o fast food que vinham pedindo durante aqueles dias, acompanhado de cafeína.
— Um jantar de verdade — Hyunwoo disse, batendo os dedos na mesa e encarando o mais novo — Eu conheço um restaurante muito bom. Vai ser por minha conta.
Jooheon sorriu, esfregando os olhos e cedendo à oferta. Não havia conseguido pregar os olhos direito havia dias e ele sempre gostava do modo como Hyunwoo se mostrava preocupado. Devolveu o sorriso que o mais velho lhe direcionou e concordou, contanto que passasse no motel onde estava hospedado para tomar um banho decente. Hyunwoo não só aceitou sua condição como o levou por conta própria, passando para buscá-lo em seguida depois de ele mesmo ter se banhado e trocado.
O lugar não era distante, nem muito chique, mas era bonito e a comida era realmente boa. Por isso, a conversa ficou longe do trabalho por todos os minutos em que estiveram ali, concentrando-se em dar espaço para conversas iniciadas em outros momentos, reconhecendo o que poderiam ter em comum.
O soju foi novamente bem vindo e as risadas se tornaram mais frequentes, embora nos dias comuns eles não sentissem tantos motivos para sorrir. A companhia era gostosa, mais ainda do que a refeição, e por isso eles ficaram mais tempo do que deveriam ali dentro, apenas bebendo um pouco mais e aproveitando-se da boa conversa.
— O hyung é um policial muito bom — Jooheon disse em dado momento, prontos para pagar a conta — Mas é um hyung melhor ainda.
Hyunwoo baixou a cabeça, deixando o valor que já tinha sido calculado na carteira e se levantando do lugar para sair junto do mais novo. Um de seus braços foi para as costas de Jooheon enquanto eles caminhavam para fora e a resposta para o elogio foi um sorriso breve e constrangido.
— Nem sempre.
— Tem sido sempre desde que cheguei — Jooheon sorriu de um jeitinho frouxo e Hyunwoo o acompanhou.
Entraram no carro e o Lee parecia pouco preocupado com o fato de que haviam bebido, mas Hyunwoo ainda não parecia bêbado em sua visão. Mas ele não deu partida no carro, como esperava. Em vez disso, olhou para o mais novo de forma misteriosa e se aproximou com a desculpa de afivelar seu cinto de segurança.
Jooheon acompanhou seus movimentos com o olhar, lambendo os lábios amargos da bebida e segurou o braço de Hyunwoo para que ele não pudesse voltar ao lugar ainda. Os olhos se encontraram por segundos muito longos e os do Lee voltaram-se para a boca estreita e carnuda do outro.
Era arriscado, ele sabia. Não estava pensando direito, sabia que poderia, no mínimo, levar um soco por estar fazendo aquilo. Embora não esperasse atitudes assim de Hyunwoo, não poderia dizer que o conhecia totalmente.
No entanto, seu medo se dissipou quando ele encarou sua boca de volta e as dúvidas se esvaíram no momento seguinte. Porque diferente dos casos impossíveis que precisavam resolver, o corpo de Hyunwoo era fácil de ler naquele momento.
Ele o desejava também. E foi por isso que não hesitou quando o beijou.
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Não esquece o votinho <3
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Burned | ShowHeon
FanficUma onda de assassinatos leva o investigador Lee Jooheon a Mulbang-ul, na intenção de ajudar a polícia local a desvendar quem está por trás dos crimes. Ele só não esperava se envolver em um emaranhado de pistas que trazem à tona uma tragédia que mar...