𝐒𝐂𝐎𝐑𝐂𝐇 | Era dos Marotos

Capítulo 19

"É uma coisa curiosa, Harry, mas talvez aqueles que são mais aptos ao poder são aqueles que nunca o buscaram." 

  É engraçado como a nossa percepção de algo pode mudar do dia para a noite. Alexia não sabia muito bem dizer o que havia mudado, mas quando abriu os olhos ela tinha certeza que algo estava diferente.

  Cada centímetro de seu corpo estava dolorido. Parecia que ela tinha sido atropelada por uma manada de hipogrifos. Doía até mexer os dedos da mão.

  Olhou em volta e a primeira coisa que viu foram as macas alinhadas em sua frente. A segunda foi Sirius Black. Black dormia calmamente, com um dos braços embaixo do travesseiro e a boca levemente aberta. Ele estava sem camisa mas o peitoral e a parte superior dos braços estavam cobertas por gazes. O lençol branco padrão da enfermaria cobria de sua cintura para baixo, então o abdômem cuidadosamente esculpido do maroto estava amostra.

  Alexia teve que piscar algumas vezes para conseguir desviar os olhos de Sirius. Ele parecia um anjo dormindo, o completo oposto do que era quando estava acordado.

  Anjo. Algumas memórias surgiram como algo boiando na margem de um rio. Ela lembrou da dor agonizante, lembrou da sensação flamejante e então do gelo subindo lentamente pela suas veias. Lembrou de um anjo que a pegou no colo e a carregou. Ela tinha desmaiado e acordado, desmaiado e acordado. A última vez que lembra de ter visto algo foi no meio do corredor e ela podia jurar ter visto asas de anjo saindo das costas de Sirius enquanto lutava para manter a cabeça erguida.

  Ela estava alucinando, é claro. Mas seria díficil tirar aquela imagem da mente. Porque Black havia ajudado-a, e Alexia não podia fingir não sentir gratitude.

  Tentou se sentar, mas o esforço tirou um barulho vergonhoso de sua garganta. Black levantou num pulo, passando a mão no rosto enquanto olhava para Alexia e uma expressão brilhava em seus olhos.

  Lexa não conseguia achar melhor comparação para descrever sua expressão do que a de um nascer do sol. Uma imensidão de escuridão e então o sol surgindo no horizonte.

  Sirius levantou da maca rapidamente e colocou a mão na testa de Lexa, que vacilou para longe de seu toque.

  "Tire suas mãos de mim," Alexia queria agradece-lo, mas não conseguia evitar. Era um hábito que ela não sabia se algum dia conseguiria deixar para trás. "Não é só porque estou nessa cama que não consigo arrancar os seus dedos"

  Ao contrário do que esperava, Sirius sorriu, como se o que ela tivesse falado fosse uma grande piada interna. Uma que só ele era capaz de entender.

  "Madame Pomfrey disse que você precisa descansar" ele diz "O mínimo que pode fazer é obedecer depois de ter causado tanto estrago"

  Os olhos dela voam para as bandagens em seu corpo. E uma culpa se aninha em seus pensamentos.

  Eu fiz isso.

  "Você devia ter me deixado lá." diz, pois não é capaz de olhar nos olhos cinzas de Black e se desculpar. Não por conta de seu orgulho — dessa vez —, mas porque colocar os acontecimentos de ontem em palavras os tornam reais e ela não estava pronta para isso. Ainda.

  "Nunca mais diga isso," a voz de Sirius é firme e séria. É a primeira vez que Alexia ouve o falar assim "Eu nunca seria capaz de fazer isso"

  O que você quer dizer? Mas as palavras desaparecem junto com os passos que entram na enfermaria.

  "Black," a voz rouca de Leo cruza a sala até aonde os dois estão "Madame Pomfrey disse que assim que acordasse você poderia voltar para a dependências da Grifinória" Leo diz a palavra como se fosse o maior xingamento do mundo. Como se a simples menção da casa vermelha e dourada o enojasse.

  Alexia franze as sobrancelhas, confusa. Por que diabos Leonard estava agindo assim?

  Sirius ignora completamente a existência do sonserino.

"Mas eu estava falando sério," começa "Você realmente deu um susto em todo mundo ontem, Lexi. Vejo você em alguns dias, você sabe, detenção e tals..."

  Os olhos verdes pálidos de Leo encaram Alexia como se ela fosse um alvo perfeito para treinar algumas maldições. Como que a sua irmã tinha se metido nessa?

  "Tchau, Black" ela revira os olhos assistindo Sirius andar para fora da enfermaria como se nada tivesse acontecido, com a camiseta por cima do ombro "Você acredita nisso? Eu quase morro e ainda tenho que limpar os troféus!" disse sarcasticamente, esperando que fosse aliviar a tensão entre ela e o irmão.

  Não funcionou nem um pouco.

  "Você vai me explicar ou eu preciso começar a perguntar?" ele se aproximou com os braços cruzados.

  "Eu não faço ideia do que aconteceu, irmãozinho" era rídiculo tentar parecer mais madura que Leo quando ela não conseguia nem se sentar.

  "É só isso que está disposta a me contar?" Alexia podia ver que ele estava machucado. Não achava estranho já que nas últimas semanas os dois quase não tinham se falado.

  "Eu só tenho isso para te contar, Leo" inclinou a cabeça para o lado, intensificando o olhar para tentar fazê-lo entender "Não estou mentindo ou tentando manter algo escondido. Eu, literalmente, não faço ideia como aquilo aconteceu ontem."

  "E sobre as outras coisas, huh?" as sobrancelhas de Leo se arquearam "E sobre você ter entrado no time de quadribol? Isso tem algo a ver com Sirius Black? Ou talvez seja aquele lufano, Amos Diggory—"

  Alexia não podia acreditar no que estava ouvindo. A única pessoa com quem ela poderia falar abertamente como se sentiu ontem, a única pessoa com quem ela podia confidenciar de que suspeitava, não, tinha certeza, que aquele surto tinha a ver com seus poderes como Fênix, estava lhe dando sermão sobre garotos. Depois de ela quase ter morrido.

  "Isso é idiota até para você" o interrompeu "Eu sei muito bem o que posso e o que não posso fazer. Não precissa esfregar na minha cara." Apesar de nutrir qualquer que fosse os sentimentos idiotas que tinha por Amos Diggory, Alexia nunca agiria em cima deles.

  "Alexia..." tinha um aviso em sua voz, mas também tinha um pedido de desculpa silencioso. 

  "Madame Pomfrey disse que eu preciso descansar" fitou o teto "Eu gostaria de descansar agora, Leonard"

  E ela não parou de encarar o teto até que ouvisse os passos do irmão a deixando sozinha.