capítulo 4

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O garoto em meu colo está imundo, completamente sujo de terra, cinzas e sangue. Pergunto-me se o sangue poderia ser dele ou de alguém que o amava. Ao entrar no quarto sou recebida pelos olhos surpresos de Zaya que logo foi buscar roupas para o garoto. Eu o coloco sentado em um banco perto da banheira e me abaixo para conversar com ele. Deslizo meus dedos por seu rosto tirando o cabelo que cobria seus olhos.
— Não precisa ter medo, eu vou cuidar de você. Vamos preparar um belo banho e trocar suas roupas. - respondo-lhe olhando profundamente em seus olhos, deslizo minhas mãos por seu rosto para tirar a poeira.
O garoto ainda assustado apenas confirma com a cabeça e começa a tirar sua blusa que está rasgada. Cinzas e sangue cobrem seu corpo, aparentemente ele não está ferido. O ajudo a entrar na bacia com água quente e começo a esfregar sua cabecinha com shampoo.
— Meu nome é Elizabeth, mas meus amigos me chamam de Liza qual o seu nome? - o silêncio era sufocante permaneço sentada ao lado dele, enquanto ele brinca eu o lavo.
— Meu nome é Sebastian, mas o padeiro e a moça das flores me chamam de garoto insolente. Não sei o que significa, mas não gosto, sempre é seguido de tapas e isso machuca. - apesar de não me conhecer essa moça enfrentou aquela cara mal por minha causa, sinto que posso estar seguro com ela. Afinal ela está cuidando de mim, ninguém nunca se importou comigo assim.
Zaya retorna com as menores roupas que encontrou e que infelizmente ainda ficavam grandes nele, mas não era problema eu poderia ajustar depois.
— Não achei roupas exatamente do seu tamanho, mas vamos ajustar essas. Então terá o que vestir. - sorrio colocando a roupa sobre uma bancada.
— O que acha de experimentar as roupas? Podemos fazer um lanche depois. - o banho já havia acabado agora ele apenas brinca com a água ouvindo minhas palavras.
O garotinho na banheira se divertia brincando com a água. Quando Zaya entrou ele se calou por alguns segundos, logo se virando para mim. Ao ver as roupas ele se anima, eu o retiro da água e o envolvo na toalha. Após estar seco e vestido nós decidimos descer para ele comer algo. Nunca havia entrado na cozinha do castelo é maior que imaginava, para minha surpresa havia pedaços de carne pendurados acima do fogão a lenha, uma cesta com alguns bolinhos na mesa e diversos potes com doces, biscoitos e vinho. Faço algumas panquecas colocando no prato com mel e frutas silvestres, com toda certeza não era o prato mais saudável, mas era reconfortante e era disso que ele precisava.
— Prontinho, pode comer. - apesar de me olhar sorrindo ele tinha um olhar triste e eu queria mudar isso. Sebastian era muito novo e já tinha sentindo uma dor terrível, ao que entendi ele foi o único que sobreviveu e provavelmente viu todos morrerem. Depois que comeu perguntou se podia dormir, sorrio confirmando com a cabeça e o levando para o quarto.
Não irei deixa-lo sozinho então arrumo o sofá que tem em meu quarto para ele poder dormir. Ele pega 2 travesseiros de minha cama e eu coloco em sua "cama", ele deita e eu lhe dou um beijo na testa logo caminhando até a porta.
— Você vai embora? Vai me deixar como todo mundo? - ao vê-la sair me desespero, não queria ficar sozinho estava apavorado a única coisa que eu queria era Elisa comigo.
— Eu iria à biblioteca buscar um livro de contos, mas se quiser posso ficar com você. - partia meu coração vê-lo naquele estado então fecho a porta e o observo.
— Eu estou com medo, não quero ficar sozinho. - me sento a observando e abraçando o edredom.
— Não precisa temer eu vou ficar aqui com você. - caminho até o sofá me sentando ao seu lado e lhe dando um abraço. Ficar com ele daquele jeito me fazia lembrar das noites com minha irmã onde eu fazia o mesmo. Antes que eu me desse conta acabo adormecendo com ele em meus braços.
Já era manhã quando acordamos com os raios solares batendo em nosso rosto. Meu protegido permanece assustado, então pedi a Zaya para tomarmos café no quarto. Mesmo estando abalado ele concordou em brincar no jardim antes do almoço. Fui avisada do mau-humor de meu raptor, ignoro tal fato concentrando minha atenção em meu novo amigo que no momento está ao meu lado. Pode parecer loucura, mas apenas agora pude perceber que não estou mais em Martell, talvez em Visegrad ou Gevordan. Um vento gélido passa por nós enquanto caminhamos pelo jardim observando as flores que mesmo no frio insistiam em nos mostrar seu resplendor
— O que acha de brincar de esconde-esconde? - Bash estava poucos metros na minha frente e concorda com a ideia de imediato.
— Eu vou esconder e você conta. - nunca tive ninguém para brincar comigo, então estou muito empolgado. Concordo de imediato com a ideia e corro para me esconder.
Ele está animado e isso me deixa infinitamente feliz. Vejo o garoto correr para se esconder, me viro para a parede cobrindo meus olhos com as mãos contando até dez. No final da contagem me viro gritando que estou a caminho, mas ao abrir os olhos encontro o olhar furioso de Elijah e meu sorriso some.
— Suponho que você não entendeu como a brincadeira funciona. Eu conto e você esconde, simples. - seus olhos transparecem uma raiva que sinceramente não sei de onde veio. Ele segura meu braço me impedindo de passar.
— Posso saber por qual motivo você não desceu para o café? - a encaro fervendo em raiva, mas minha voz era mansa.
— Durante o jantar você me ameaçou de morte. Então não fui ao café da manhã. - o encaro retirando sua mão de meu braço, me viro começando a procurar por Sebastian.
— Eu salvei sua vida, sua ingrata! - grito indo atrás dela.
— VOCÊ A COLOCOU EM RISCO EM PRIMEIRO LUGAR! Para início de conversa. - grito me virando para ele, percebo que ele está mais perto do que eu imaginava.
— Eu deveria matar você, garota insolente. - quem ela pensa que é? Meu ódio se expande e acabo avançando contra ela segurando seu rosto.
— Então me mata e acaba com isso. - falo entre os dentes e o empurro, ele se vira e sai tão rápido quanto um piscar de olhos. Recupero meu fôlego, me viro para o jardim voltando a procurar por Bash. Brincamos durante toda a manhã, ao chegar na hora do almoço ele concorda em almoçar com nosso anfitrião. Mesmo com o claro medo que meu companheiro sentia nós entramos na sala, ajudo ele a se sentar logo me sentando ao seu lado. Sinto os olhos de Elijah em cada movimento meu.
— Vejo que o pirralho está bem. Ele já disse algo? - meus olhos passam do garoto para ela com um olhar severo.
— Ele tem um nome sabia? Sebastian é o nome dele. - respiro fundo reprimindo o estresse que estou sentindo.
— Não respondeu minha pergunta. Ele disse algo? - meus olhos se fixam nela aguardando sua resposta.
— Ele é apenas uma criança, deixe-o em paz. - meus olhos se fixam nos dele emanando toda a raiva que sentia.
— Tudo bem? Sebastian. Você gosta de brincar? - o observo cruzando os braços sobre a mesa com um sorriso travesso.
— Gosto. - olho para o homem e depois para Elisa buscando alguma resposta.
— Quer brincar comigo? - lanço ao menino um olhar calmo para que Elisa não desconfie de minhas reais intenções.
— Se deseja continuar acompanhado sugiro que deixe ele em paz, imediatamente. - meu garfo para antes de chegar a boca, me ameaçar é uma coisa, mas não aceitarei que ameace ao garoto. Ergo meus olhos do prato transparecendo toda a raiva que sentia.
— Está ameaçando agora? Nervosinha... - ouço o que ela diz e solto um leve riso.
— Meu amor eu tive uma ideia bem divertida. Vem, vou te mostrar. - retorno meu olhar para Sebastian mudando completamente, um enorme sorriso se forma em meu rosto.
Levanto-me e Bash me dá a mão, então saímos da sala indo para o jardim onde fazemos um piquenique e brincamos por muito tempo. Quando anoiteceu subimos para o quarto, a exaustão nos domina e em segundos estamos dormindo cada um em sua cama. Horas mais tarde o garoto me surpreende na beirada de minha cama.
— Posso dormir com você? Tive um pesadelo. - Liz dormia tão tranquilamente que excitei em acordá-la. Quando a vejo confirmar com a cabeça e me acolher em seus braços, sorrio fraco logo pegando no sono.
A noite segue tranquila, mas com o amanhecer veio o caos. Um dos homens de Elijah invadiu o quarto e arrancou Sebastian de meus braços, quando outro homem tentou me segurar eu o acertei com um atiçador de lareira. Corri na esperança de alcançar o garotinho que chorava e gritava meu nome, mas antes que eu segurasse sua mão, fui impedida pelo homem que acertei. Ele me trancou em meu quarto, lentamente os gritos ficaram distantes e deram lugar ao som de meus punhos contra a porta de Carvalho. Alguns dias se passaram, não tenho mais voz para gritar, minhas mãos doem talvez tenha quebrado de tanto bater na porta. Sento-me na janela observando la fora, os gritos de Sebastian rondam minha mente. O som da porta se abrindo me tira de um traze profundo. Era Elijah.
— Onde ele está? - falo cerrando os punhos com a respiração alterada.
— Ele está livre... Na floresta. Não é o que queria? O pirralho livre? - a olho com um olhar maléfico.
— Você é um monstro desprezível. Ele é apenas uma criança. Eu tenho nojo de você.- essas palavras saem de minha boca, praticamente gritadas, sem pensar muito pego a primeira coisa que vejo pela frente e jogo contra ele. O vaso de porcelana o atinge, mas em segundos ele está bem novamente. O ódio que sinto me consome, avanço contra ele cega pela dor. Apesar de ser loucura e dele desviar de quase todos os meus golpes, por sorte acerto um soco em sua traqueia e o mesmo se desestabiliza tentando respirar.
A porta atrás dele estava aberta, não preciso pensar duas vezes antes de atravessa-la e seguir para o Jardim. Se eu seguir meu plano de fuga e conseguir alcançar a floresta ficarei bem, passo como um raio por entre as flores chegando finalmente na floresta. Uma nevasca estava prestes a começar então preciso me apressar, já no meio da floresta um som me arrepia por completo, parecia estar ao meu lado então volto a correr o mais rápido que posso.
— VOCÊ NÃO PODE SE ESCONDER DE MIM. - a nervosinha acaba me acertando e fugindo do castelo, ao voltar a respirar solto um leve sorriso. Em segundos eu já estava na floresta, grito para avisar que estou indo atrás da mesma. As palavras que ela disse me fizeram ficar pensativo, ninguém nunca ousou me desafiar e viveu tanto tempo quanto ela. Não posso mata-la, ela se tornou de certa forma importante.
Enquanto corro pela floresta dou de cara com uma queda de vários metros, ao recuar para evitar cair sinto sua presença atrás de mim. Não penso antes de avançar para a borda, a neve sob meus pés cede e eu deslizo pela encosta até o leito de um rio congelado. Levanto-me obstinada a atravessa-lo, obviamente o gelo sob meus pés poderia se partir e me causar problemas já que não sei nadar, mas se eu atravessar estarei livre e poderei voltar para casa. Os gritos de Elijah me dão a motivação que faltava para seguir.
— EU POSSO OUVIR SEU CORAÇÃO BATER. NÃO HÁ ONDE SE ESCONDER, EU IREI TE ACHAR! - o coração dela batia forte e acelerado, para mim era como se ela estivesse ao meu lado. Continuo seguindo seus batimentos até que a vejo de longe na margem de um rio.
Avisto Elijah à distância, meus olhos percorrem o rio, respiro fundo e começo a correr pelo gelo o mais rápido que consigo. O gelo é escorregadio e eu acabo caindo algumas vezes. Um estalo me faz olhar para o gelo que aparenta estar intacto. Ao levar meu olhar a margem, vejo o vampiro parado na margem com fúria no olhar. Apresso-me para voltar a correr, já estava no meio do Rio quando me viro para garantir que tem uma boa distância entre nós. Um novo estralo ecoa mais alto que o anterior, ao olhar o chão vejo o gelo abaixo de mim completamente trincado, no segundo seguinte sou puxada para a escuridão das frias águas do Dark water.
A correnteza me arrasta para uma parte onde o gelo ainda não quebrou ou estava trincado. O pânico toma conta do meu ser. Começo a me debater no gelo, prendendo o ar o máximo que consigo enquanto bato no gelo na vã esperança de me libertar. Não consigo ver nada adiante ou ao meu redor, minha mão latejava e posso sentir que estou sangrando. O gelo permanece intacto, sinto que minha cabeça irá explodir a qualquer momento, não consigo mais prender o fôlego. Em um movimento desesperado por ar eu deixo a água entrar e a consciência ir. Meus movimentos ficam mais lentos, a paz que sinto agora arrancou a dor que senti anteriormente. Meus olhos se fecham antes de perder a consciência por completo.

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