Ao recobrar a consciência encontro Zaya sentada em uma poltrona, seus olhos estão fixos no chão. Ela obviamente não percebeu que acordei então decido quebrar o silêncio.
— Sua cara está péssima. Não dormiu o suficiente? - um leve riso se formou em meu rosto ao ver ela se assustar comigo.
— Pensei que os mortos tivessem a levado, é um alívio ver que está bem. - sua voz me pega desprevenida e dou um pulo na poltrona, me apresso para ajuda-la a se sentar na cama.
— Quando tempo eu fiquei inconsistente? - com a ajuda dela fico sentada, estou confusa e completamente zonza.
— Você ainda está fraca, perdeu muito sangue e ficou inconsciente por três dias. - arrumo os travesseiros para ela ficar confortável.
— Três dias? - questiono sem entender.
— Sim. Quando cheguei para cuidar dos seus ferimentos você apagou, fiquei desesperada e fiz todo o possível. O que aconteceu? - me sento ao seu lado na cama, Elizabeth me parecia fraca ainda, mesmo com a ajuda do lorde.
— Fui atacada, nos corredores. Foi tudo muito rápido, eu estava indo para o jardim quando aconteceu. - minha voz era fraca não me lembrava ao certo de todo o acontecido. Para mim tudo ao meu redor parecia girar.
— Quem a atacou? - a voz da garota quebra o silêncio e me faz olhar diretamente para ela.
— Eu não sei quem era. Lembro-me de estar indo para o jardim, ter a sensação de estar sendo seguida e então tudo já fica meio confuso. Lembro-me de um homem de cabelos pretos na altura do ombro, me lembro de seus olhos. Desse momento em diante não me lembro de muita coisa, nem mesmo de como cheguei aqui. - encolho minhas pernas as abraçando. Minha mente está confusa não me recordo de muita coisa com exatidão. Lembro-me dos olhos, da dor que rasgou meu ser, do som do vidro quando o atravessei e da lua que brilhava no céu.
— Céus, eu não devia ter deixado a sozinha, a culpa foi minha. A senhorita perdeu muito sangue deve repousar um pouco. Vou trazer algo para comer e recuperar um pouco de suas forças. - estava me sentindo incrivelmente culpada ao ver Eliza daquele jeito. Levanto-me caminhando até a porta.
— A culpa não é sua não tinha como saber, não se preocupe eu vou ficar bem. - meus olhos se voltam para ela e acompanho seus passos com meus olhos.
Ela sai depois de alguns instantes e me pego pensando sobre tudo que aconteceu antes de ficar inconsciente. Minha mente está confusa, me deito novamente e acabo caindo no sono. O lorde a chama assim que a porta é fechada, Zaya o encontra no grande Salão.
— O senhor quer que eu faça algo? - ao fechar a porta sou solicitada, então me dirijo até o grande salão. Quando chego faço uma reverência, enquanto minha voz corta o salão.
— Como está nossa hóspede? - quando Zaya adentra o salão meus olhos se voltam para ela.
— Ela acordou, está assustada e confusa, mas ficará está bem. - Elizabeth tem grande importância mesmo que ela não saiba, por esse motivo ela se tornou o objeto de nossas constantes preocupações.
— Me agrada saber que ela ainda vive, quero que cuide para que ela se recupere da melhor forma. - acento com a cabeça a liberando para ir, saber que o que fiz deu certo me causava um certo alívio.
— Senhor, para conseguir o que deseja terá de ser gentil. Ela está apavorada, em menos de quarentena e oito horas aqui ela ficou à beira da morte duas vezes. Ela é como uma ovelha cerca da por uma alcateia faminta. Precisa mostrar-lhe que ficará segura aqui. - apesar de temer por uma represália de meu mestre, eu o respondo pensando no bem de Elizabeth. Faço uma reverência e saio para a cozinha.
Escuto cada uma das palavras de Zaya com atenção e ao vê-la sair me levanto e deixo o salão. As palavras que ouvi pairam por minha mente, caminho pelos corredores até parar no quarto de nossa hóspede. Entro no local e a encontro dormindo tranquilamente, me sento em uma poltrona e fico ali a observando enquanto dorme. Ela parece calma e em paz, completamente diferente de quando a encontrei. Não consigo deixar de pensar no que o futuro reserva para ela.
Talvez tenha se passado horas que eu dormia, até que a luz do Sol invade o quarto. Ao acordar por completo vejo o lorde sentado me olhando, um frio percorre por minha espinha. Puxo a coberta para meu corpo e fixo meus olhos nele.
— O que faz aqui? - falo ainda fraca, porém não como antes, creio que o sono me fez bem.
— Conferindo se ainda respira, sei que me despreza, mas espero que possamos conviver em paz. Não vou deixar que te machuquem novamente. - quando a garota acorda, acaba se assustando e não consigo evitar sorrir de lado. Ela presta atenção em minhas palavras e não diz mais uma palavra se quer. Optei por não passar mais tempo ali antes que ela comece a se achar importante e me cause mais problemas.
Depois do curto diálogo ele ajeitou suas vestes e saiu do quarto, talvez teria algo importante ou ele apenas queria se arrumar. Segundos devem ter se passado desde que ele fechou a porta e Zaya entrou com uma cesta de roupas.
— Bom dia, Elizabeth. Quer que eu traga o café para a senhorita? - entro no quarto preocupada com seu estado, mas ao vê-la acordada minhas preocupações diminuem. Coloco o cesto com roupas em um canto e me volto para ela.
— Bom dia, não há necessidade, eu estou sem fome. Creio que precisarei de novas ataduras. - me levanto devagar enquanto retiro o curativo de meu pescoço colocando sobre a mesa.
— Eu irei preparar um banho, ataduras limpas e devo insistir que coma algo. - caminho até o banheiro para preparar o banho depois voltando ao quarto.
— Obrigada. Eu posso até descer para o café, mas só irei se concordar em comer comigo. - ela avalia minha ferida, pela sua cara não preciso de ataduras. Meu pedido a pegou de surpresa posso perceber pelo silêncio que se instalou.
— Tudo bem, eu concordo com seus termos, tome um banho e se vista pedirei para que arrumem a mesa. - seu pedido me pega completamente desprevenida, isso não é comum. A mordida em seu pescoço se fechou, não precisará de ataduras, o corte em sua mão e o da perna também fecharam e a mordida antiga cicatrizou o que é bom.
— Zaya, já que ficarei aqui por muito tempo eu adoraria saber mais sobre você. Provavelmente será minha única amiga nesse lugar. - me viro para ela com um leve sorriso, caminho para o banheiro enquanto ela está saindo do quarto. Eu tomo um belo banho e me troco. O vestido estava sobre a cama, é azul com pequenas flores bordadas em seu corpete e saia. Era um dos mais belos que já vi.
Quando minha amiga finalmente retorna, já estou vestida apenas aguardando sua companhia. Deixamos o quarto indo em direção ao salão e de repente me pego sorrindo novamente, como se um enorme peso fosse de repente retirado de meus ombros.
— Quero que me conte sobre você, sempre morou aqui? - se olharem para nós, diriam que somos melhores amigas ou até mesmo irmãs.
— Eu sou de outro reino, bem distante desse lugar, estou aqui para pagar uma dívida de sangue. Eu devo minha vida a ele. - após anos nesse castelo gelado é bom sentir que não estou só, mesmo com os outros ainda parece que estou sozinha.
— Então ele salvou sua vida? Não consigo vê-lo dessa forma. - o que mais anseio é por ir embora desse lugar, mesmo sabendo que jamais sairei com vida. O que me leva a questionar, qual o motivo de ainda ter ar em meus pulmões?
Ao chegarmos na sala a mesa está posta, nos sentamos e comemos como se aquele fosse um momento de paz no meio da tempestade. Passamos a tarde juntas ela me apresentou a biblioteca e passamos o dia lendo as mais variadas categorias de livros. Quando a noite caiu fui convidada para me juntar ao lorde no jantar, mesmo com minhas dúvidas fui convencida por Zaya a ir. Ao entrar no salão o vejo sentado na ponta da enorme mesa, completamente sozinho.
— Está sozinho?! Supus que teria várias pessoas aqui com você. - desço as escadas devagar caminhando até a mesa.
— Vejo que está bem, isso é ótimo. - me levanto e caminho até a cadeira ao meu lado, puxo a mesma para trás em um gesto de cavalheirismo.
— Você não respondeu minha pergunta. - o encaro atenta e puxo uma cadeira a sua frente para me sentar.
— Você até que não é feia é no mínimo tolerável, quanto a sua pergunta eu como sozinho. - a atitude dela me irritava, mas de fato o que disse era verdade ela não era feia muito pelo contrário, o vestido que usava realçava os seus detalhes naturais.
— Tolerável? Vim a esse jantar para lhe agradecer, mas até quando tenta ser gentil, você consegue ser desagradável. - o olho com certo desinteresse e começo a comer.
— Não devia falar assim com quem salvou sua vida, me chamo Elijah muito prazer e a propósito eu ainda posso te matar. - a encaro com sorriso maléfico nos lábios.
— Você me convida para o jantar e depois me ameaça? Francamente olhe ao redor, sem mim você está sozinho, além disso você não vai me matar, não pode. Não teria me salvado se pudesse me matar, não é mesmo? - levanto meu olhar do prato o encarando com um olhar superior já enfrentei seres piores que um lorde mimado e não aceitarei ser tratada dessa forma.
— Você devia se calar ou... - acabo me exaltando e bato minhas mãos na mesa com muita força.
— Ou o que você me mata? Se fosse me matar já o teria feito. - digo em alto som como se não me importasse. É possível notar a surpresa em seu rosto pela minha agressividade.
— Apenas coma seu jantar, enquanto eu ainda te deixo viver. - escoro na cadeira e a encaro enquanto giro uma faca na mesa com raiva.
— Receio ter perdido meu apetite. - as palavras saem rápidas de mais após o vinho, me levanto jogando o guardanapo que estava em meu colo no prato logo saindo da sala.
É possível ouvi-lo urrar de raiva e logo em seguida o som de vidro se estilhaçando. Ignoro tudo caminhando para meu quarto ao entrar retiro o vestido e o espartilho que tanto me aperta, coloco uma roupa confortável e me lanço a cama. Instantes depois ouço baterem a porta e me sento esperando que a pessoa entre.
— Pelo seu rosto o jantar não foi muito agradável. O que houve? - estava indo levar novos lençóis e confesso, estou morrendo de curiosidade para saber sobre o jantar.
— Foi péssimo, ele primeiro me chamou de feia, disse que sou tolerável e logo em seguida me ameaçou de morte. Da para acreditar? Tomara que o ego enorme dele o esmague. - estou profundamente irritada por criar esperança de talvez ter uma convivência normal entre mim e ele. Zaya não se controla e se acaba de rir, seu riso me contagia e começo a rir também.
— Da para parar de rir da minha desgraça? - ainda rindo jogo um travesseiro em sua direção.
— Tem que admitir que é engraçado. - ela me acerta com o travesseiro, pego o mesmo jogando contra ela.
— O que tem graça? O enorme ego o esmagando? - o travesseiro me acerta em cheio e eu rebato o golpe.
— Você está brava pelo fato dele não te achar bonita, isso é engraçado. - jogo o travesseiro nela novamente quase acertando a janela que estava ao lado.
A incrível futilidade de minha raiva é engraçado, Zaya jogou o travesseiro novamente em mim e me acerta na cintura. Antes que eu pudesse a acertar minha atenção foi desviada para a janela, mais precisamente para uma carruagem que passava.
— Uma carruagem. Sabe de quem é? - questiono me virando para ela após observar a carruagem.
— É de um lorde ele se rebelou, tentou atacar o castelo, mas provavelmente pereceram na floresta. Elijah atacou o castelo e o vilarejo, seja lá quem estiver na carruagem seu destino será cruel. Se ele tiver sorte será apenas um prisioneiro, será interrogado e morto caso contrário vão tortura-lo se alimentando dele.
— O quê? Está falando sério? Isso é terrível! Não posso deixar acontecer. - solto o travesseiro perto da janela e caminho para a porta.
— Mas você não pode. Não pode interferir nisso. - lhe respondo de forma séria tentando impedi-la.
— Não posso deixar que isso aconteça. - respondo-lhe antes de sair do quarto.
Antes de chegar a sala passo por vários corredores, o choro de uma criança me assusta. Minha atenção se reúne no choro então caminho na direção do som, que me guia até uma sala onde saio atrás do trono. Várias pessoas estão reunidas no salão, um guarda segura o braço de um pequeno garotinho que não tem mais de cinco anos e chorava descontroladamente. Ao passar ao lado do trono uma mão envolve meu pulso o segurando forte, era Elijah meu coração dispara enquanto meus olhos se afastam do garoto para encontrar os dele.
— Você não devia estar aqui. Volte para seu quarto. - a presença dela me pegou de surpresa, mas antes que ela pudesse intervir eu a seguro pelo pulso e me coloco diante dela a impedindo de chegar ao garoto. Diferente da hora do jantar minha voz estava calma.
— Não vou voltar sem o garoto, agora me solte. - encaro seus olhos por pura teimosia. Ele solta meu braço e volta a se sentar obviamente irritado.
— Perdoe me senhor, mas o que faremos para que ele pare de chorar e nos dê as informações que precisamos? - questiono temendo estar atrapalhando algo, ele se senta novamente e seus olhares se voltam para mim e a criança.
— Não farão nada, ele é apenas uma criança, está assustado, com medo e confuso ele não os dirá nada. - de forma alguma irei deixar que transformem esse garotinho em um prisioneiro, respondo conforme caminho em direção ao garoto.
— Senhor? O que devo fazer? - concordo com a garota, não sei como essa criança poderia nos dar respostas. Mas jamais irei transparecer isso ao meu lorde
— Deixe ela ficar com o garoto até eu decidir o que fazer com ele. - dizendo isso meu soldado solta o garoto e eu me levanto para sair daquele lugar.
A ordem de Elijah me surpreende, no momento em que o guarda solta o garoto, me aproximo dele logo o pegando no colo.
— Eu vou cuidar de você, vai ficar tudo bem. - meus lábios tocam sua testa e ele esboça um leve sorriso. Antes de partir meus olhos encontram os de Elijah, seus olhos esbanjavam desaprovação e eu os ignoro enquanto levo o garoto para meu quarto.
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The Price Of The Crown
Fantasy• Degustação • Centenas de anos atrás a magia ainda podia ser sentida na pele e ouvida como uma canção, magia essa que para nós agora está morta ainda pode ser encontrada em um lugar: Midgard. Uma terra perdida no tempo e repleta de encantos e misté...