💞 capítulo 01 💞

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Abro os olhos e vejo que já amanheceu.

Mais um dia sem você; mais um dia em que vagarei sem rumo pelo mundo.

Olho para o lado e vejo a sua foto sobre a mesa de cabeceira. Você estava tão linda nela; com o corpo esbelto coberto pelo vestido longo e volumoso que arrancou suspiros de todos os convidados. Tão preocupada e perfeccionista, demorou meses para decidir cada detalhe, dos pequenos botões das costas às rendas do corpete. E valeu a pena, você havia me dito. O tecido branco contrastava com sua pele morena e seus cabelos negros; e seus olhos, dourados como o âmbar, pareciam sorrir com os lábios. Você não estava olhando diretamente para a câmera; tinha a atenção presa na mesa de doces, e eu sabia que estava se controlando para não pular sobre eles e mergulhar no açúcar. E eu a amei um pouco mais nesse momento. Amava o seu autocontrole, e também a amaria se desprezasse as regras e apenas se lançasse no desconhecido. Não importaria quem decidisse ser, eu sempre a amaria.

O dia do nosso casamento foi o mais feliz da minha vida. Você estava perfeita. Nem precisava da tiara que enfeitava seus cabelos para saber que era a minha princesa. Meu primeiro e único amor.

Sento na cama e meus dedos tocam a fotografia com carinho, como tocavam seu lindo rosto. Três anos podem ter se passado — três malditos anos desde que você partiu —, mas ainda sinto a sua falta todo santo dia; e a cada girar dos ponteiros no relógio, sinto que estou mais próximo de, mais uma vez, reencontrá-la. Quantas vezes já pensei em acabar logo com isso, acelerar o processo... Mas sei que você não iria gostar.

Como queria que tudo fosse diferente.

Respiro fundo, afastando aquela vontade absurda de me render às lágrimas, e me levanto.

— Bom dia, meu amor — sussurro para a sua imagem e, com relutância, devolvo-a ao seu lugar.

Já pronto, depois de um banho curto e de me vestir, me olho no espelho, e aquela expressão séria de sempre já está estampada em meu rosto. Nem sei mais o que é sorrir — não um sorriso forçado, mas aquele verdadeiro, que vem de dentro. Passo a mão pela barba, que está por fazer, e me lembro que Alícia não gostava; ela sempre me mandava tirá-la para não ter de enfrentar o incômodo de tê-la arranhando sua face macia e delicada.

Mas minha esposa não está mais aqui, penso, com a amargura se espalhando por minha língua.

Pego minha pasta e desço até a cozinha, onde encontro dona Fátima com um sorriso no rosto e uma caneca de café na mão. Ela é a pessoa mais próxima que tenho — o que, nos últimos tempos, não tem significado muita coisa. Seu cabelo grisalho revela a idade já avançada, e lembro-me do dia em que a entrevistei. Sempre simpática e prestativa, foi impossível não gostar dela logo de cara.

— Obrigado.

Fátima acena com a cabeça e volta a seus afazeres. Ela sabe que a manhã é a parte do dia mais difícil para mim e que prefiro passá-la em silencio.

Após tomar o café, me despeço dela e sigo para mais um dia de trabalho. É a isso que meu mundo tem se resumido: trabalhar até o cansaço me ajudar a dormir a noite.

O restaurante não fica longe de casa. É apenas cinco minutos de carro. Assim que chego, cumprimento os funcionários que já me esperam do lado de fora. Apesar de ter me tornado esse cara fechado que não gosta de conversar nem se abrir com ninguém, eu sinto um apreço profundo por cada pessoa que trabalha aqui comigo.

Subo a escada para o meu escritório. A parede voltada para o salão é de vidro, com duas enormes persianas marrons, e às vezes gosto de ficar olhando a movimentação lá em baixo.

Me sento à mesa e abro o notebook.

É hora de começar mais um dia.

***

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