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‐----------------------------------------------------------------‐-----Any Gabrielly
O meu nascimento,1974
No mundo inocente da minha mãe, baseado nos desenhos animados das manhãs de sábado, os bebés , com faixas a dizerem o respetivo nome, flutuavam por cima de jardins coloridos ao serem entregues por uma cegonha celestial. Priscila Franco não tinha motivos para duvidar da obstetrícia dos programas de televisão.
O meu pai adolescente, Carlos Soares, sabia mais do que ela, poiis muitas vezes auxiliava no parto dos bezerros e dos potros em River Bluff, a quinta da sua familia no Norte da Florida, mas não sabia como explicar o processo à minha mãe. Além disso, não tinha a certeza se os bebés humanos nasciam da mesma maneira que os animais. Só podia partir do princípio de que o bebé saía pelo mesmo sítio por onde tinha entrado.
- Priscila, P-Priscila, não ch-chores - gaguejou Carlos, ajoelhando-se a seu lado, sem saber o que fazer, na escuridão pegajosa, subtropical, enxotandoos mosquitos que esvoaçavam no clarão trémulo da sua lanterna. Os pinheiros altos baloiçavam por cima deles sob a brisa do pântano. As rãs coaxavam no fundo dos Ribeiros. Algures, fez-se ouvir um aligátor. As florestas escuras da Florida interior respiram e falam durante a noite, arrancando memórias misteriosas ao leito de calcário poroso. Embora longe de ambos os oceanos, o ar traz um leve vestigio de àgua salgada.
- Mas dói! - soluçou Priscila. A sua bata barata, às flores, estava ensopada em fluidos e amarrotada à volta das ancas.
- Acho que é m-mesmo assim - disse-lhe Carlos.- T-talvez d-devas levantar-te. C-como uma égua.
- Acho que não consigo! Oh, Carlos! Dói tanto! Carlos! Há qualquer coisa a querer sair de mim lá por baixo!
A tremer, carlos apontou a lanterna para o meio das pernas dela. Os cavalos e os bezerros quando nasciam apresentavam em prmeiro lugar as patas da frente, como se estivessem a mergulhar no mundo. Carlos olhou com atenção mas não viu mãos de bebé, apenas o crânio ensanguentado de uma cabeça minúscula. A visão aterrorizou-o mas escondeu as emoções. Tinha de ser forte, por Priscila. Eles eram diferentes dos outros adolescentes; tomavam conta um do outro dede a infância.
- É só o b-bebé.
Parecia mais confiante do que na verdade de sentia. Sabia como dar a volta a um bezerro ou a um potro atravessado, mas nao se conseguia imaginar a enfiar a mão dentro enorme dentro de Priscila.
- Carlos! Está a mexer-se!
Segurou-lhe nas mãos enquanto ela se sentava. Priscila baloiçou-se para trás e para a frente. Os calcanhares dos ténis dela rasgaram sulcos no solo macio e húmido. Prscila começou a gritar. Depois do que lhe pareceu uma eternidade, calou-se e deixou-se cair conta Carlos.
- O bebé caiu - gemeu ela. - Porque não está a flutuar? Deve ter alguma coisa errada. Oh, Carlos...
O meu pai apontou de novo a lanterna para o meio das coxas dela. Ele e a minha mãe ficaram a olhar, horrorizados. Nenhum deles tinha alguma vez visto uma criança recém-nacida. Eu não era uma bonequinha engraçada ou um querubim sorridente. Estava quase roxa. Tinha a cabeça amolgada. Um muco sanguinolento colava-me ao crânio uma madeixa fina de cabelo castanho. Abri a boca e engoli uma grande golfada de ar. Para eles, o meu esforço parecia o arquejar de um moribundo.
Debruçaram-se sobre mim e choraram. Depois a luz de várias lanternas cortou a escoridão da floresta. O irmão mais velho de Carlos, Rodrigo, foi quem os encontrou primeiro.
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A Doçura da Chuva - Adaptação Beauany
RomansaAny Gabrielly tinha uma vida privilegiada. Filha de dois ambientalistas famosos , cresceu entre a selva amazónica e os melhores colégios da elite americana. Com a morte dos pais num acidente de aviação torna-se herdeira, não só de uma enorme fortuna...